sábado, 31 de maio de 2014

CAPÍTULO 18


    CENA 1: Miguel se enfurece ao constatar que o plano de Laura foi concluído.
    -Me diz qual foi o truque, Laura, me diz!
    -Não tem truque nenhum, meu querido! Nós tivemos uma linda filha. Não é mágico?
    -Mágico? Como é que tu tem coragem de me mentir olhando nos olhos? Tu não presta, Laura!
    -Pelo visto não sou eu que menti aqui. Tá aí o exame para provar quem realmente mentiu...
    Miguel fica cego de raiva e dá um tapa na cara de Laura, que fica furiosa.
    -Olha aqui, sua bicha! Quem tu acha que é para me bater? Não tem medo da Lei Maria da Penha? A lei está do meu lado, tu sabia que eu posso te denunciar? Vai ser lindo te ver apodrecer na cadeia...
    Miguel volta a si, mais indignado ainda com a dissimulação de Laura.
    -Pode deixar que eu posso ser tudo, menos louco. Conheço bem o teu tipinho, vadia!
    -É, mas agora tu vai ter que se acostumar a conviver com a "vadia" aqui, viu? Vou entrar na justiça se preciso para que tu reconheça a paternidade da Francisca.
    Miguel, subitamente envolvido por um sentimento de amor por Francisca, rebate:
    -Não vai ser preciso. A menina não tem culpa da mãe que tem. Mas eu faço questão de registrar a Francisca como minha filha, ela precisa de um pai. Quem sabe assim, não vire uma devassa sem caráter como a mãe.
    Laura disfarça, mas fica surpresa e tocada com o gesto espontâneo de Miguel. Ao perceber a real bondade de Miguel, finge desdém.
    -Muito bonitinho tudo isso. Agora quer bancar o salvador da humanidade? Não existe essa bondade que tu quer pintar.
    -Só se for para pessoas psicopatas como tu. Vá embora daqui, Laura.
    -Me obrigue!
    -Não vou perder tempo discutindo contigo, vadia.
    Laura retira-se, debochando de Miguel. Ao se retirar, já na rua, Laura chora de verdade pela primeira vez na vida e, consigo mesma, reflete:
    -Como ele pode amar a minha filha? CORTA A CENA.

    CENA 2: Miguel dirige-se ao corredor da clínica, fazendo sinal de liberado para Pâmela.
    -E aí, Miguel? Foi positivo o resultado mesmo?
    -Foi. Exatamente como pensamos... Agora tu vai fazer o seguinte: Prepara o celular para gravação quando eu tiver ido embora e vai até a sala do doutor Fernando, ok? Não deixa ele perceber que tu tá gravando, tá?
    -Deixa comigo, meu amigo. Vou fazer tudo certinho. E como eu me apresento a ele?
    -Bem, tu foi minha namorada durante anos. Acho que dá crédito se apresentar assim.
    -Perfeito!
    -Agora vou indo. Conto contigo.
    Os dois se despedem. Pâmela segue até a sala e bate na porta.
    -Olá... tu é o doutor Luis Fernando?
    -Sou sim.
    -Sou Pâmela, namorada do Miguel, do teste de paternidade. Ele me contou do resultado e eu fiquei surpresa... meu namorado é estéril, doutor. É impossível ele ser pai dessa menina...
    Doutor Fernando fica pálido com a "revelação" de Pâmela.
    -O que foi, doutor? Essa mulher pagou o exame, não foi? Pagou pra falsificar...
    Fernando fica mais espantado ainda com a sagacidade de Pâmela e começa a falar.
    -Menina, tu tem que me prometer que essa conversa não vai sair daqui.
    Pâmela cruza os dedos da mão direita discretamente.
    -Prometo.
    -Veja bem: meu filho tem 22 anos e o sonho de abrir uma empresa. Precisa de capital para isso e eu não tinha esse dinheiro... Foi aí que a Laura me ofereceu 200 mil dólares para falsificar o resultado do exame e... (seguem as revelações enquanto Pâmela ouve e grava). CORTA A CENA.

    CENA 3: Flávio está chegando ao final do seu expediente. Clara resolve fazer um convite a ele e Lucas.
    -Meninos, vocês querem passar lá em casa hoje? Podem ficar para dormir, se quiserem. Vou ligar para minha mãe reservar o salão de festas... Afinal hoje é sábado e acho que todo mundo precisa de um pouco de lazer...
    -Ainda mais com a querida da dona Helena junto – completa Flávio.
    -Vocês sempre me convencendo a entrar nessas indiadas – responde Lucas, bem humorado.
    -Indiada nada, guri! Bebedeira em família nunca é indiada! - descontrai Clara.
    -É bom ter amigos como vocês aqui em Porto Alegre... não me sinto mais tão sozinho. Melhor ainda é ter o Flávio como namorado.
    -Ai, meu saquinho geminiano... Vai começar a melação do Lucas... aiai – debocha marotamente Clara.
    -No dia que tu encontrar um amor a gente conversa, sua troll! - continua Lucas.
    Todos riem.
   
    CENA 4: Miguel encontra-se com Rômulo.
    -Oi, meu gauchinho... Como que foi o exame?
    -Deu positivo, Rômulo... Positivo! Não me conformo, cara! Eu sei que nunca toquei nessa mulher! A única mulher com quem transei na vida foi com a Pâmela!
    -Mas como isso é possível? Será que essa Laura teve a capacidade de mandar falsificar o exame? Isso é muito irreal, Miguel... Parece coisa de novela, sabe? Dramalhões sem fim...
    Miguel finge não saber de nada, por não confiar plenamente em Rômulo.
    -Ah, Rô... não sei exatamente o que aconteceu... vai ver o exame deu errado. Talvez seja melhor pedir um novo exame.
    -Mas você não quer passar por isso tudo de novo, certo?
    -Eu gosto da menina. Acho que ela precisa de um pai que salve ela dessa mãe sem ética que ela tem...
    -E por que teria de ser você, se você não é nada da menina? Esse discurso de bom samaritano me parece suspeito demais...
    -Tu tá achando que eu sou pai biológico dela? Isso me ofende! Eu gosto da Francisca e quero ser o pai que ela não teve... qual é o problema nisso?
    -O problema é que eu vou ter que me esconder mais ainda, Miguel. Você vai acabar se afastando de mim...
    -Como esse comentário foi egoísta, Rômulo... não acredito no que ouvi...
    -Pois pode acreditar. Não quero te dividir com uma criança de 5 anos.
    -Vamos mudar de assunto, antes que isso termine em mais uma briga?
    -É melhor, mesmo... e se eu fosse você...
    -Já disse que o assunto está encerrado por agora... Não insiste, Rômulo.
    -Tá certo... CORTA A CENA.

    CENA 5: Flávio e Clara resolvem passar antes na casa de Otília e Breno para tomar uns passes e Lucas acha boa a ideia. Ao chegarem lá, Clara percebe a expressão de quem esconde algo em Otília, mas nada diz a Flávio. Os três recebem passes revigorantes.
    -Dona Otília, eu preciso falar com a senhora...
    -Diga, Clarinha.
    -Eu sei que a senhora esconde algo, vejo no teu olhar.
    -Acho melhor conversarmos sobre isso na sala mediúnica, minha querida. Realmente precisamos conversar.
    -Eu sabia. Vamos sim, dona Otília.
    Ao chegarem na sala mediúnica, Clara se antecipa.
    -Tem tudo a ver com o Flavinho, não é?
    -É sim, minha querida... é uma longa história.
    -Não tem problema... eu não tenho pressa em ouvir, dona Otília...
    -Vou tentar resumir porque sei que vocês querem e devem confraternizar hoje. O fato é que Laura, que sempre se disse amiga do meu neto, é uma mulher de alma escura, sem caráter, que estagnou no processo evolutivo. A rivalidade dela com o Flávio vem de outras vidas, mas Flávio é ingênuo ainda nesse quesito e não percebe a maldade nas pessoas, na grande maioria das vezes. Foi ela que tentou matar meu neto, Clara...
    -Eu estou perplexa. Mas não digo que esteja chocada. Essa Laura nunca me enganou.
    -Querida, tu precisas me prometer que não vai comentar absolutamente nada do que estou te revelando aqui. Posso contar contigo?
    -Nem precisa pedir. Eu sei que tudo isso é grave. Precisamos agir com cautela.
    -Laura matou uma mulher. Ela era enfermeira do hospital que Flávio estava internado no pós-acidente e levou justa causa por ter dormido em serviço, perdendo toda a sua credibilidade na área em que atuava. Não sabemos muito mais que isso, mas tenho certeza que essa moça exigiu ressarcimento financeiro por todos os danos que teve por culpa da Laura.
    -Meu Deus...
    -E ainda tem mais: ela mandou falsificar o exame de DNA para comprovar que Miguel realmente seria pai da Francisca, filhinha dela. Mas sabemos de seu plano e estamos agindo para que ela seja desmascarada.
    -E quem está envolvido nessa investigação diretamente?
    -O próprio Miguel, que conta com a ajuda de sua ex-namorada e fiel amiga Pâmela.
    -Taí... gostei de saber disso. Me sinto mais tranquila.
    -Mas mesmo assim te peço cautela, querida. Coisas terríveis ainda podem acontecer. Vejo uma aura extremamente escura em torno de tudo o que essa mulher toca.
    -Nos resta orar por proteção...
    -Certas coisas precisam acontecer para que todos possamos evoluir da forma que somos capazes de evoluir...
    -E o livre-arbítrio?
    -Ele está sempre presente, principalmente na forma como reagimos aos desafios da vida.
    -Que sejamos fortes, então...
    -Teremos de ser, minha querida. CORTA A CENA.

    CENA 6: Flávio, Lucas e Clara estão a caminho da casa dela. Clara dirige seu carro à frente e Flávio segue atrás. De repente o celular de Flávio toca e ele percebe tratar-se de Miguel. Flávio sinaliza para Clara encostar o carro e aguardar enquanto encosta o carro na calçada também.
    -Tu vai atender o Miguel, Flávio?
    -Lucas, tu já devia ter se acostumado. Apesar de tudo ele é meu amigo e tu vai ter que lidar com isso...
    -Então atende. - fala Lucas, enciumado.
    -Fala Miguel!
    -Flávio, o resultado do exame de DNA saiu hoje...
    -E qual foi o resultado?
    -Deu positivo.
    -Como é que é? Miguel, tu me garantiu que nunca tinha tido nada com a Laura! Como isso é possível?
    -Flávio, acredita em mim! Ela mandou falsificar o resultado do exame!
    -E tu tem como provar essas acusações que tu tá fazendo contra ela?
    -Para e pensa, Flávio! Tu não acha estranho que ela tenha levado todos esses anos para só agora inventar que eu sou o pai da Francisca?
    -É, realmente é estranho.
    -Tu vai ver, eu vou provar que essa mulher pagou o médico para falsificar o resultado!
    -Espero mesmo que consiga provar, Miguel. Porque só assim eu vou conseguir acreditar nessa loucura toda...
    -Eu vou provar. Mesmo assim eu tomei uma decisão: eu vou assumir a paternidade da Francisca, vou registrar ela.
    -Por que?
    -Porque ela não merece essa mãe descompensada que tem. E eu gosto da menina. Vou ser o pai que ela precisa ter.
    -É um bonito gesto, mas e se tu realmente não for pai dela?
    -Não importa isso agora. Diante da lei, eu quero ser o pai dessa menina.
    -Desculpa, mas assim fica difícil acreditar que tu realmente não seja pai biológico dela.
    -Eu sei... Mas confia em mim, Flávio.
    -É o que eu mais quero, Miguel.
    -Tenha paciência, meu amigo.
    -Terei. Agora tenho de desligar. Vou para uma happy hour com a Clara e com o meu namorado.
    Miguel sente a dor lhe invadir quando ouve Flávio dizer que seu namorado vai junto.
    -Tudo bem... bom divertimento.
    -Boa noite, Miguel. CORTA A CENA.

    CENA 7: Miguel chega à casa de Pâmela.
    -Oi, querida...
    -Oi, Miguel... quer um café?
    -Aceito.
    -Miguel, eu consegui gravar informações importantíssimas ao conversar com o Doutor Fernando.
    -Ótimo!
    -Sei que isso é contra a lei, que precisaríamos ter a permissão para fazer escutas, mas... ouve o que ele disse. E esteja bem sentado, porque as informações são bombásticas.
    "Veja bem: meu filho tem 22 anos e o sonho de abrir uma empresa. Precisa de capital para isso e eu não tinha esse dinheiro... Foi aí que a Laura me ofereceu 200 mil dólares para falsificar o resultado do exame e eu achei uma proposta ótima, pois seria o capital inicial exato que meu filho precisa para realizar o grande sonho dele, que é abrir uma revendedora de carros seminovos. Só que aí eu refleti muito a respeito e a questão ética me fez perder o sono. Resolvi declinar da proposta e quando fui dizer isso a ela, Laura me ameaçou. Disse que já matou uma ex-enfermeira que ameaçou revelar tudo o que sabia e que faria a mesma coisa comigo se eu declinasse da proposta. Acabei aceitando o dinheiro, que vai ser muito útil para meu filho, mas também para salvar a minha vida e a vida da minha família..."
    Miguel se choca com o que ouve.
    -Pode parar, não preciso ouvir mais nada, Pâmela... Essa mulher realmente é uma psicopata.
    -Não tenho dúvidas. CORTA A CENA.

    CENA 8: Dona Helena recebe Clara, Flávio e Lucas de forma acolhedora.
    -Venham, meus queridos. Já reservei o salão de festas e comprei as cervejas.
    -Mãe, a senhora é o máximo de sempre pensar em tudo! - anima-se Clara.
    -Prazer, dona Helena. Sou Lucas, namorado de Flávio.
    -Gostei de ti, rapaz. E é bom que faça o Flávio muito feliz, viu? Ele é como um filho para mim...
    Flávio se emociona e abraça Helena.
    -E tu é como uma segunda mãe, nunca duvide disso.
    -Nem precisa dizer, eu sei...
    Todos se dirigem ao salão de festas e acomodam-se no sofá, conversando sobre amenidades e rindo com descontração.
    As horas se passam e Helena sente-se cansada.
    -Queridos, eu vou subir para descansar. Acho que o vinho bateu além da medida. Preciso dormir.
    -Beijo, mãe. Dorme bem! - despede-se Clara.
    -Boa noite, dona Helena – despedem-se Flávio e Lucas.
    De repente, o celular de Lucas toca e ele dirige-se à varanda. É Laura quem liga.
    -Olha aqui, Laura... para mim chega desse teu plano maluco! Eu não posso fazer isso com o Flávio porque eu passei a amar ele. Sabe o que é amor? Amor de verdade, saca? Tu nem sabe amar, nunca soube! (...) Pois as tuas ameaças não me assustam mais. Minha mãe sequer está onde tu pensa que ela está! (...) Esquece, Laura! Nosso trato está acabado! Eu me viro, arranjo um emprego qualquer... Eu não vou fazer isso com ele! Tchau!
    Flávio, já embriagado, aproxima-se e ouve o final da conversa.
    -Posso saber o que tu não vai fazer, Lucas? FIM DO CAPÍTULO 18.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

CAPÍTULO 17


    CENA 1:Ainda chocada com o que ouvira, Pâmela esbraveja consigo mesma inconformada.
    -Como é que eu posso ter sido tão babaca de perder meu celular justo agora? Eu poderia ter gravado tudo isso...
    Pâmela se sobressalta ao ouvir a voz de Laura alterada
    -Como é que é? Não me venha agora com esse papo de ética profissional, doutor Fernando! Nós chegamos até aqui, tu aceitou alterar o exame. Vai arregar agora, doutor?   
    -Mas dona Laura, esse dinheiro é um dinheiro sujo.
    -Só se for sujo pra ti, pra qualquer um ele seria bastante cheiroso. Vai dizer que recusa agora?
    -Não, não é isso. Eu aceito. Vai ser muito útil esse dinheiro, vai ajudar meu filho a investir no negócio dele...
    -Então? Pra ti esse não parece um fim bastante justificável?
    -Parece, mas tem outra coisa, dona Laura...
    -Ai, meu saco! O que é, doutor Fernando?    
    -Nós vamos enganar pessoas. Isso não é certo.
    -Tem certeza que vai pensar em certo e errado, com todo esse dinheiro a tua disposição?
    -Não sei o que pensar. Mas sei que isso vai pesar na minha consciência pro resto da vida...
    -Corta essa, doutor! Nenhuma consciência resiste ao dinheiro fácil.
    Pâmela fica chocada com a conversa.
    -O que eu faço agora, meu Deus? Como provar essa sujeira toda? CORTA A CENA.

    CENA 2: O exame termina e Laura parte com Francisca para sua casa. Pâmela chama Miguel.
    -Miguel... nós precisamos conversar sobre algo sério...
    -O que foi, Pâ?
    -A Laura está pagando um médico para alterar o resultado do exame de DNA. Ela sabe que a Francisca não é tua filha.
    -O que?! Como tu pode ter certeza disso?
    -Ela disse com todas as letras que está pagando o doutor Fernando na quantia de 200 mil... em dólar!
    -Como é que é? Meu Deus, que mulher baixa! Me diz que tu gravou isso, minha amiga...
    -É aí que tá... eu fui uma babaca distraída e perdi meu celular! Deve ter sido no ônibus, mas só percebi isso quando fui procurar o aparelho.
    -Assim fica difícil provar qualquer coisa, Pâmela... Vai ser a nossa palavra contra a palavra dela e o resultado de um exame...
    -Eu tenho uma ideia, Miguel...
    -Que ideia?
    -Nós não investigamos ela antes? Então, pode ser uma boa saída... Ainda mais que o Flávio já percebeu as falhas no caráter da sua "amiguinha"
    -Pode ser, Pâmela. Mas precisamos ser muito mais cuidadosos dessa vez. Sabemos que essa mulher é capaz de matar para se manter idônea.
    -E por que não conversamos com a vó Otília? Tenho certeza que ela pode nos ajudar.
    -Nos ajudar como, Pâmela? Espiritualmente? Isso não resolve nada.
    -Talvez te falte confiar mais um pouco no auxílio dos nossos mentores espirituais.
    -Me surpreende ouvir de ti isso, Pâ... Nunca soube dessa tua inclinação ao espiritismo...
    -Nunca desconsiderei completamente o auxílio constante de amigos espirituais, Miguel... E acho sim que a vó Otília e Seu Breno podem ser muito úteis.
    -Por esse lado tu tá certa. Ainda tem a Fernanda, irmã do Flávio... ela é bem sensitiva...
    -Tu tem certeza, Miguel?
    -Absoluta. Ela me ligou muito aflita querendo saber como eu estava, no dia que testemunhei o assassinato que a Laura cometeu...
    -Então é exatamente isso que vamos fazer, meu amigo! Pode pegar teu celular aí e ir ligando para eles para que combinemos quando e como poderemos nos encontrar.
    -É pra já! CORTA A CENA.

    CENA 3: Bernardo e Daniela estão lanchando animadamente na cozinha quando Sandra acorda-se e vai até a cozinha.
    -Bom dia, queridos!
    -Bom dia, mãe!
    -Bom dia, dona Sandra!
    -Mãe, nós temos uma grande novidade para te contar...
    -Conta, filho... é bom?
    -Maravilhoso! Tenho certeza que tu vai gostar de saber!
    -Não vai me dizer que vocês...
    -Exatamente, nós estamos oficialmente namorando!
    -Oh, que maravilha! Parabéns, meu filho! Gosto muito de ti, sabia, Dani?
    -Eu sei, Sandra... também gosto muito de ti. E prometo que vou cuidar bem desse teu filho...
    -Eu sei, querida... Mas algo me preocupa no relacionamento de vocês...
    Bernardo se antecipa.
    -Ah, mãe... o pai? Ele vai ser o primeiro a nos apoiar, nem se preocupa!
    -Mas e a tua mãe, Daniela?
    -O que tem a minha mãe, dona Sandra?
    -Ela é uma pessoa bastante rígida e conservadora, pelo que tu já me contou, não é?
    -É sim, mas quanto a isso eu nem fico muito preocupada, sabe? Eu já sou uma mulher que passou dos 30 anos e não vou ficar eternamente dependente da aprovação dela para tudo. Quer queira ela ou não, quem eu amo de verdade é o Bernardo.
    -É tão lindo perceber que o amor de vocês é verdadeiro... Parece que vocês se conhecem por uma vida inteira...
    -E é essa a sensação que eu tenho, mãe... CORTA A CENA.

    CENA 4: De um carro luxuoso, desce uma senhora rica e chique, porém com aparência cândida de quem não se corrompeu pela riqueza. Dirige-se ao motorista de seu carro com um pacote cheio de dinheiro.
    -Vai, meu querido. Aproveita esses meses que eu vou ficar aqui em Porto Alegre e passeia com a tua família. Tu merece um bom descanso e momentos de lazer...
    -Nossa, obrigado, dona Helena! Nunca tive uma patroa como a senhora, tão generosa...
    -Meu querido, não é preciso me agradecer. É o mínimo que devo a ti por toda a tua dedicação ao trabalho. É só uma forma de te compensar... e o descanso faz parte disso.
    -Eu ainda fico sem palavras...
    -Já devia ter se acostumado. Realmente não ligo para quanto dinheiro vou acumular. Quando eu morrer eu não vou levar nada disso aqui.
    -Se todas as pessoas ricas pensassem como a senhora...
    -Ah, meu querido... seria maravilhoso! Mas vá tranquilo, viu? Aqui tem dinheiro suficiente para que tu pegue o melhor ônibus executivo até Montenegro e ainda garante 4 meses de total gozo pra ti e tua família.
    -A senhora não tem medo de dirigir nessa cidade tão grande?
    -Ah, meu querido... Quem já viveu o que eu vivi realmente não se assusta com essas coisas. Não se preocupe, vá tranquilo.
    Ambos se despedem com um abraço amigo.
    Helena assume a direção do carro e estaciona no estacionamento do prédio de sua filha Clara. Ao chegar no apartamento da filha, manda uma mensagem para o celular desta.
    "Oi, Clarinha! Mamãe está de volta. Beijo"
    No trabalho, Clara recebe a mensagem e sorri feliz, mostrando a mensagem a Flávio.
    -Isso é maravilhoso, Clarinha! Dona Helena sempre me passa algo tão maravilhoso quando passa aqui pela cidade...
    -E ela sempre diz o mesmo de ti, viu, Flávio? Ela gosta muito de ti, de verdade.
    -Eu sei, Clara... Tua mãe tem algo tão suave nela que às vezes eu fico com a impressão de que ela não pertence a esse mundo...
    -E quem disse que nós pertencemos a esse mundo, Flavinho?
    Ambos riem enquanto Lucas encara enciumado a cena. CORTA A CENA.

    CENA 5: Nadir está em sua casa, contemplando a imensidão da residência e sentindo-se completamente só.
    -Meu Deus... não sobrou nada da minha família. Todos me deixaram!
    Nadir chora de forma sentida.
    -Como é que eu posso ter minha família de volta? Como eles podem perceber o quanto estão errados?
    Depois de chorar mais um pouco, resolve ligar para seu pastor.
    -Pastor Gildo, eu preciso da tua ajuda! Estou completamente só. Minha família me abandonou para acobertar a aberração do meu filho mais velho!
    Nadir ouve atentamente o que seu pastor diz e responde inconformada.
    -Como assim? Quer dizer que eu tenho que aguentar essa solidão lancinante porque Jesus quis assim?
    Nadir permanece a ouvir o que o seu pastor diz e fica cada vez mais indignada.
    -Vá me desculpar, pastor Gildo, mas se as coisas realmente forem assim do jeito que o senhor fala, eu sinceramente prefiro deixar a igreja. Estou certa de que Jesus não quer me ver sozinha.
    Nadir desliga o telefone e se sente mais perdida ainda, completamente sem rumo. Novamente chorando muito, faz um apelo desesperado.
    -Deus, me mostra o caminho certo! Eu preciso recuperar a minha família! CORTA A CENA.

    CENA 6: Rômulo liga para Miguel, sentindo-se verdadeiramente arrependido.
    -Fala Rômulo...
    -Miguel, eu preço desculpas se fui exigente demais com você. Mas você precisa entender que eu te amo...
    -Não duvido do teu amor, mas acho que tu precisa saber amar.
    -O que você quer dizer com isso?
    -A gente aprende amar com o tempo, querido. Confio na tua capacidade.
    -Então nós não terminamos?
    -Deixe de bobeira, carioquinha marrento! É claro que continuamos juntos...
    Rômulo despede-se apaixonadamente de Miguel e exclama a si mesmo, surpreso.
    -Pior que eu passei a amar esse gauchinho mesmo! Me sinto tão sujo de ter sido tão vazio antes... CORTA A CENA.

    CENA 7: Pâmela e Miguel estão chegando à casa de Otília e Breno.
    -Miguel... eu tou começando a achar que esse rapaz tá gostando de ti de verdade, viu?
    -Não sei, Pâ... Para mim sempre foi muito cômodo para ele tirar vantagens financeiras disso. Mas para mim tava tranquilo até o momento que eu soube da recuperação da memória do Flávio...
    -E por que tu não termina com o Rômulo?    
    -Tenho medo que ele faça um escândalo e revele para todos a minha sexualidade.
    -Mas o que tu tanto teme, meu amigo? Um dia, essa hora vai ter de chegar!
    -Não quero falar sobre isso agora, Pâ...
    Os dois chegam na casa de Otília e Breno, sendo recebidos calorosamente. Fernanda também os aguardava e ao receber Pâmela, a contempla.
    -Olá, Fernanda! Miguel já me falou de ti. Sou a Pâmela.
    -Gostei do teu jeito, Pâmela. Não existe pessoa mais leal ao Miguel do que tu. Parecem irmãos.
    Pâmela se emociona.
    -Eu sinto exatamente isso...
    Otília os interrompe.
    -Mas não foi para isso que vocês vieram aqui. Sei que vocês precisam de orientação em um assunto que envolve os crimes da desvairada da Laura...
    -Desvairada? - interrompe Fernanda – Aquilo ali é psicopata, assassina!
    Seu Breno pondera.
    -Queridos, eu sei que a situação é realmente tensa, mas vamos refletir bastante sobre o que pode ser feito.
    -Mas ela chegou ao limite da falta de caráter agora! - rebate Pâmela.
    -Ela está pagando uma alta quantia em dólares ao médico para falsificar o resultado do exame de DNA, para enganar a todos de que Francisca é minha filha... - completa Miguel.   
    -E para piorar, bem no dia do exame eu perdi meu celular e me dei conta disso tarde demais. Não consegui gravar a conversa que ouvi... - fala Pâmela, inconformada.
    Otília, contemplativa, tem uma ideia.
    -Mas tu tem como conseguir outro celular logo, não tem?
    -Sim...
    -Então! Assim que conseguir, tu vai conversar com esse médico. Não pode informar a ele que tá gravando a conversa, nem deixar nenhuma pista disso. Sinto que ele é um bom homem, não vai demorar a falar todos os detalhes.
    Miguel pondera.
    -Mas vó... eu preciso muito que todos os nossos passos em busca da verdade sejam mantidos em sigilo, a princípio. Ninguém mais, nem o Flávio, podem saber antes da hora certa.
    Fernanda, analisando a situação, entende.
    -Pode deixar, querido. Eu sei que tu testemunhou um assassinato cometido por essa mulher. Assim como eu tenho certeza que foi ela que tentou matar meu irmão...
    -Exatamente.
    A conversa segue entre todos, que definem como vai ser a ação de cada um. CORTA A CENA.

    CENA 8: Laura está lendo um livro quando seu celular toca e na tela aparece número confidencial.
    -Alô?
    -Se cuida, perua! Tua hora tá chegando...
    -Quem fala? Essa brincadeira idiota já perdeu a graça!
    -E quem disse que é brincadeira, dona? Tua hora tá chegando... Tu vai pagar pelos crimes que cometeu...
    -Chega!
    Laura desliga furiosa, escondendo o seu pavor, que se evidencia em seus olhos. CORTA A CENA.

    CENA 9: Duas semanas se passam. Chega o dia do resultado do exame de DNA. Laura vai à clínica, triunfante, mas antes liga para Miguel, que está no trabalho.
    -Alô. Laura? Fala, criatura...
    -Hoje é o dia do resultado do exame de DNA. Que horas tu sai do trabalho?
    -Daqui meia hora, já vão ser 6 horas...
    -Então eu vou te aguardar aqui.
    -Aguarde mesmo.
    Miguel liga para Pâmela e dá as instruções.
    -Vai indo para a clínica, mas não se deixe ser vista pela Laura. Depois que nós tivermos deixado a clínica, tu chega no médico, ok?
    -Tudo certo, meu amigo... Estou indo para lá.
    Meia hora se passa. Miguel chega até a clínica. Laura o recebe com um sorriso sarcástico.
    -Preparado para receber a tua filha?
    -Deixe disso, Laura. Tu sabe que a Francisca não é minha filha. Não sei porque tu foi tão longe. Vai acabar descreditada diante de todos...
    -Eu não teria tanta certeza disso, Miguel.
    -Tu sabe que eu nunca te toquei.
    -Será mesmo que nunca me tocou?
    -Deixe de ser louca!
    O médico chega com o resultado em mãos. Miguel se antecipa a Laura.
    -Deixe, doutor, eu faço questão de abrir esse exame
    Doutor Fernando olha arrependido para Miguel enquanto Laura o recrimina com o olhar e faz um sutil sinal com o dedo no pescoço. Miguel abre o exame e lê, para logo depois exclamar.
    -Como é que é? Noventa e nove por cento de certeza de ela ser minha filha? FIM DO CAPÍTULO 17.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

CAPÍTULO 16


    CENA 1: Miguel levanta-se furioso do leito.
    -Olha aqui, Laura! Dessa vez tu foi longe demais! Não basta todas aquelas pequenas intrigas na época da faculdade? Ainda inventa que eu transei contigo. Se toca, guria! Eu nunca toquei em ti!
    Laura, sabendo fingir choro, olha para Flávio.
    -Flávio, eu sei que isso é horrível de dizer, mas é verdade!
    Flávio, ainda chocado, encara os dois e logo começa a falar.
    -O curioso é que tu nunca me disse nada até agora, Laura. E a Francisca nem 5 anos completou. Desculpa, Laura, mas essa história é completamente descabida...
    -Tu tá desconfiando de mim, Flavinho? Pensei que tu fosse meu amigo!
    -Eu sempre fui teu amigo, sim. Mas será que tu sempre foi realmente minha amiga?
    Laura finge indignação
    -Eu não acredito que logo agora tu duvida da minha amizade. Isso me magoa...
    -Será mesmo que magoa? Bem, Laura... acho que é melhor tu sair daqui. Nos falamos depois do exame de DNA.
    -É aí que eu vou provar a paternidade da Francisca!
    Miguel levanta-se do leito, ainda tonto e quase dá um tapa em Laura, sendo antes contido por Flávio.
    -FORA DAQUI! Não ouviu o Flávio dizer? Fora!
    Laura sai furiosa do quarto e passa rapidamente pela sala de espera, causando estranheza a Pâmela e Bernardo.
    -Bê, eu vou ver o que houve...
    Ao chegar no quarto, Pâmela vê Miguel abraçado em Flávio, enquanto ambos choram.
    -Não entendo porque vocês não estão juntos ainda... tá na cara que vocês se amam!
    Flávio olha ternamente para Pâmela.
    -Pâmela, a Laura disse que o pai da filha dela é o Miguel... estamos muito confusos!
    -Não se preocupem, queridos! Eu sei que isso não é verdade... O tempo vai provar, não se preocupem... CORTA A CENA.

    CENA 2: Valdir, Daniela e Sandra chegam ao hospital e se dirigem à sala de espera onde estão Pâmela e Bernardo. Apreensivo, Valdir começa a falar.
    -Onde está o Miguel, Bernardo? Por que ele foi fazer isso?
    -Não se preocupa, pai! Ele está muito bem agora... foi só um susto grande que ele nos deu.
    -Eu estava com tanta saudade de vocês, Bernardo...
    Os dois se abraçam calorosamente. Bernardo percebe que ao lado de sua mãe, está Daniela.
    -Daniela, o que tu tá fazendo aqui?
    -Eu sou enteada do teu pai, Bernardo. Não é incrível?
    -É realmente incrível, mas ainda bem que tu não é minha irmã!
    Ambos riem, sem graça.
    -Podemos ir ver o Miguel? - questiona Valdir.
    -Não vai ser preciso. Olha quem está vindo ali acompanhado do Flávio, pai... - aponta Bernardo.
    Miguel se emociona fortemente ao rever seu pai. Ambos se abraçam muito emocionados.
    -Por que tu fez isso, meu filho?
    -Não importa mais, pai... Eu nunca mais vou fazer isso. Deixe eu apresentar meu amigo Flávio...
    -Prazer, Flávio... sou o pai desse desmiolado.
    Ambos riem. Flávio completa:
    -É uma pena que só tenhamos nos conhecido agora, no meio dessa situação chata toda.
    Valdir sente uma imediata afinidade por Flávio.
    -Ainda teremos mais oportunidades de conversar, meu rapaz. Vejo que é um bom homem e está com o meu filho pro que der e vier. CORTA A CENA.

    CENA 3: Patrícia está concentrada buscando vaga de emprego nos classificados do jornal quando a campainha da casa de Fabrício toca, despertando a atenção de Patrícia.
    -Mor! Tem gente tocando a campainha! Tá esperando alguém?
    Fabrício estranha.
    -Ué, não tou esperando ninguém... Será Henrique? Ele esqueceu de pegar as baquetas.
    -Pode ser...
    -Vou abrir pra ver se é o avoado do Henrique...
    Ambos riem. Fabrício fica completamente surpreso com a presença do homem que vê e chama Patrícia.
    -Patrícia, é o teu pai que tá aqui...
    Patrícia fica surpresa enquanto seu pai entra na sala.
    -Como tu descobriu esse endereço, pai?
    -O teu irmão me passou quando liguei pra ele, filha.
    Patrícia se surpreende ao ouvir seu pai a chamando de filha.
    -Tu me chamou de filha? É isso mesmo que eu ouvi?
    -É sim, Patrícia... é isso que tu é. Eu vim aqui pra te dizer que eu tou separando da tua mãe e que tu pode contar comigo para tudo aquilo que tu precisar. Eu te amo, filha... nunca deixei de te respeitar. Peço desculpa se durante tantos anos me calei...
    Os dois se abraçam, muito emocionados. CORTA A CENA.

    CENA 4: Sônia está conversando com Antônio.
    -Tu viu, querido? Flavinho tá de namorado novo. Sinto que é um bom rapaz.
    -Não o conhecemos ainda, Sônia... pode ser que seja, mas só vamos ter certeza depois que tivermos conhecido o tal de Lucas.
    -Se ele não for a melhor pessoa do mundo, ainda assim, não é o Miguel...
    -O que tu quer dizer com isso, Sônia?
    -Que eu prefiro ver nosso filho com qualquer merdinha de homem, menos com o Miguel.
    -Mas por que isso, Sônia?
    -Não gosto desse Miguel. Não consigo ver nada de bom nele. Para mim ele é um dissimulado que só quer tirar meu filho de mim.
    -Mas querida, nós não criamos os filhos para nós mesmos. Criamos para a vida...
    -É muito bonito dizer isso na teoria. Mas na prática uma mãe quer o melhor para seus filhos.
    -E se o melhor pros nossos filhos não for o que tu pensa?
    -Mas nós temos mais vivência, mais idade... a experiência conta.   
    -Conta sim, querida. Mas não é só isso. Ou tu acha mesmo que nós estamos livres de sermos enganados por alguém ou nos enganarmos com as pessoas?
    -Nisso tu tem razão...
    -Tá vendo?
    -Mas não adianta, Antônio...  não gosto do Miguel. Esse guri não me desce. Só não odeio porque acho essa palavra muito forte.
    -Eu acho que tu é muito possessiva com o Flávio e tem medo de perder ele.
    -E não é compreensível? O Flávio quase morreu e passou por uma recuperação difícil!
    -Compreenderia se ele ainda estivesse limitado. Mas não, Sônia: nosso filho está completamente reabilitado, há anos!
    -Eu sei disso, mas tenho medo que ele corra riscos e não esteja em segurança.
    -Já parou para pensar que o risco pode estar onde tu menos suspeita?
    -Tu tá sabendo de alguma coisa que eu não sei, Antônio?
    -Até o momento nada, mas algo me diz que o Miguel é um bom homem e que é o homem da vida do Flávio.
    -Não se atreva a repetir isso novamente diante de mim, Antônio!
    -Lá vem tu com essa mania de querer mandar em tudo...
    -Mas eu realmente mando! Meu bem, hoje o mundo é das mulheres
    -Eu não vou discutir contigo, Sônia
    -Ah, mas agora vai! Porque é um absurdo... (as falas seguem em tom de comédia) CORTA A CENA.

    Na tela, aparece a passagem de tempo: DUAS SEMANAS DEPOIS.
    CENA 5: Flávio está dormindo quando seu celular toca.
    -Alô? Oi, Miguel...
    -Tou ligando para dizer que é hoje o dia do bendito exame de DNA. Eu ainda não sei exatamente o que essa doida da Laura vai aprontar, mas sinto que ela vai querer aplicar alguma.
    -E tu tem alguma dúvida disso?
    -Nenhuma.
    -Mas tu tem certeza que é impossível tu ser pai da Francisca?
    -Flávio, eu adoraria ser pai de uma menininha tão amável, mas eu nunca sequer toquei na Laura, acredita em mim! A única mulher com quem transei foi a Pâmela.
    -Por falar nela, como ela vai?
    -Vai bem... e anda desconfiada do que vai ser feito nesse exame.
    -Ela vai contigo?
    -Vai sim. Ela quer observar o máximo que puder.
    -Quer que eu vá com vocês?
    -Eu até iria querer, mas acho melhor não, Flávio... Ela pode estranhar desconfiança da tua parte, saca?
    -Entendo... De qualquer forma, boa sorte, Miguel...
    -Obrigado.
    Fernanda entra no quarto de Flávio.
    -Bom dia, mano...
    -Bom dia, maninha.
    -É hoje o dia do exame de DNA que a Laura inventou, né?
    -É...
    -Não acredita no resultado desse exame, mano... sério.
    -Tu acha que vai dar positivo?
    -Não acho. Vai dar. Mas a Laura sabe que o resultado é falso.
    -Como assim, Fernanda?
    -É tudo o que eu posso dizer. O resto tu conclui sozinho... Mas fica tranquilo, Flavinho... Tu tá mais rodeado de amor do que tu imagina. CORTA A CENA.

    CENA 6: Miguel despede-se de Bernardo que já está acordado e vai dar um beijo em Sandra, que ainda dorme. Bernardo fica comovido com a cena.
    -Boa sorte, irmão... vai dar tudo certo!
    -Obrigado... - responde Miguel.
    Bernardo retorna ao quarto, onde Daniela dorme. Bernardo resolve acordá-la com beijos.
    -Bom dia, minha linda!
    -Bom dia, Bê...
    -Quer um café?
    -Quero sim...   
    Bernardo prepara um café para Daniela e a serve na cama.
    -Esse café tá delicioso, Bernardo! Tem algo de diferente nele?
    -Não tem nada além do meu amor por ti.
    -Tu nunca me disse isso antes, Bernardo... é tão cedo para dizer isso...
    -Mas eu tenho a mais absoluta certeza, Dani... eu te amo.
    Daniela se emociona.
    -Eu também te amo, Bê... não sei explicar como, mas te amo muito!
    Os dois se beijam apaixonadamente.
    -Isso significa que nós estamos namorando, Bernardo?
    -Tu se considera minha namorada?
    -Só vou acreditar direito nisso quando tu me disser...
    -Mas como dizer? Não te basta sentir?
    -Até me basta, mas eu tive uma criação interiorana, tu entende... Tu ainda não me fez o pedido oficial.
    -Se é por falta de pedido... quer namorar comigo, Daniela?   
    -É a coisa que mais quero nessa vida! CORTA A CENA.

    CENA 7: Miguel está montando em sua moto quando Rômulo lhe aborda.
    -Posso saber porque você não me avisou que era hoje o dia do exame, Miguel?
    -E precisava? Não pensa que eu me esqueci da tua indiferença em relação a mim quando eu tentei me matar. Tu sequer foi me ver no hospital...
    -Ué, mas não foi você mesmo que pediu discrição para que ninguém no trabalho desconfiasse?
    -Tu sabia que eles não teriam o que falar. E o Flávio estava lá, onde tu deveria estar!
    -Lá vem você falando nesse Flávio de novo... O que esse cara tem que eu não tenho?
    -Rômulo, eu não quero discutir contigo, nem perder a paciência. Sério.
    -Tudo bem, mas antes me responda uma coisa...
    -Vá em frente...
    -O que esse Flávio tem que eu não tenho, hein? Por um acaso você é apaixonadinho por ele?
    -Não interessa o que eu sinto. Ele é meu amigo e tu é meu namorado.
    -Ainda não me respondeu, Miguel...
    -Não respondi o que, porra?
    -O que esse cara tem que eu não tenho?
    -Tu não vai querer ouvir...
    -Ah, vou querer com certeza!
    -Tu que pediu...
    -Fala de uma vez, Miguel!
    -Caráter. Bom coração, empatia, generosidade. Sabe, é uma pessoa que não coloca dinheiro e status em primeiro lugar, feito uns e outros por aí...
    -Isso me ofendeu, Miguel...
    -Não disse que tava falando em ti. Agora, se a carapuça te serviu...
    -Babaca...
    Miguel arranca sua moto. CORTA A CENA.

    CENA 8: Pâmela está descendo do ônibus lotado e não perecebe quando seu celular cai do bolso da calça. Caminha cerca de duas quadras e chega à clínica onde será feito o exame de DNA, no mesmo instante em que Miguel chega com sua moto.
    -Oi, Pâmela... chegou agora também?
    -Sim... Miguel, esses ônibus numa hora dessas da manhã, são terrivelmente lotados. Quase não consigo descer!
    Ambos riem, ligeiramente nervosos. Laura chega com Francisca, que parece assustada.
    Todos permanecem calados ao se dirigirem à sala de espera. Em poucos instantes, chega um médico chega.
    -Miguel Dietrich Soares e Francisca Silveira de Alcântara, dirijam-se à sala de coleta de sangue.
    Pâmela percebe o nervosismo de Miguel e ao abraçar ele, sussurra em seu ouvido:
    -Não se preocupe, vai ficar tudo bem.
    Miguel e Francisca se dirigem à sala. Laura permanece sem nada dizer e Pâmela faz o mesmo. Instantes depois, Laura levanta-se.
    -Vou ao banheiro, volto logo.
    -Não perguntei, querida. - responde Pâmela, deixando Laura sem graça.
    Depois de alguns instantes, Pâmela resolve dar umas voltas pela clínica, quando de repente percebe estar diante do vulto de Laura. Ouve a voz de um homem ao fundo e se apressa em remexer sua bolsa. Percebe então que perdeu seu celular.
    -Puta que pariu! Por que eu fui colocar o celular na calça naquele ônibus lotado? Tou perdida!
    Mesmo assim, Pâmela se esconde em um ponto cego, escutando a conversa.
    -Ouviu bem, doutor Fernando? Basta fazer essa pequena alteração que eu disse e tu leva 200 mil dólares. Tá bom esse preço?
    -Mas é uma fraude, dona Laura.
    -E daí que é fraude? Dinheiro é bom e todo mundo gosta...
    Pâmela choca-se com a constatação da armação. FIM DO CAPÍTULO 16.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

CAPÍTULO 15


    CENA 1: Flávio se desespera.
    -Me explica isso direito, maninho!
    -Eu me acordei com ele caindo no banheiro depois de tomar vários tranquilizantes. Ele quis morrer, Flávio...
    -Por que, meu Deus... por que?
    -Tou me fazendo essa mesma pergunta e ainda não entendi porque, maninho...
    -Será que foi por ontem?
    -O que tem ontem? Rolou algum estresse entre vocês?
    -Da minha parte, não rolou, maninho... Mas ele veio com um papo muito esquisito de que sabia quem era a pessoa que tinha tentado me matar e que essa pessoa tinha matado uma mulher no sábado e que ele teria testemunhado tudo.
    -E tu acreditou nele?
    -Não pude acreditar, Bernardo. Laura é minha amiga.
    -Tu devia saber melhor que eu que o Miguel não aceita que duvidem da palavra dele, Flávio...
    -Mas como ele está agora?
    -Está sendo desintoxicado, mas ainda não se sabe se ele pode ou não ter sequelas.
    -Me espera, maninho, eu tou indo praí o mais rápido possível!
    -Mas e o teu trabalho?
    -Foda-se o meu trabalho! Preciso estar do lado do Miguel...
    Flávio está se aprontando para ir embora, quando Lucas chega.
    -Ué, Flavinho? Não vai cumprimentar direito o teu namorado?
    -Desculpa, Lucas. Hoje não, tou com pressa.
    -Pressa? Mas o que está havendo?
    -Mais tarde nos falamos. Fique aí com a Clarinha hoje, tá?
    -Isso tá esquisito, Flávio...
    -Mais tarde nós conversamos, ok?
    -Tudo bem... CORTA A CENA.

    CENA 2: Valdir e Daniela chegam à casa de Sandra, Miguel e Bernardo. Sandra, que havia acabado de se acordar, os atende.   
    -Valdir? Eu não acredito que tu voltou pra Porto Alegre! - surpreende-se Sandra.
    -Já tem mais de dois meses, Sandra. E pelo visto tu continua bebendo, né?
    Daniela resolve se apresentar.
    -Oi, Sandra. Eu sou a Daniela e já estive aqui na tua casa quando tu não estava, mas não fazia ideia de que tu é a primeira mulher do Valdir.
    -Tu é a enteada dele?
    -Sou sim, mas o considero como um pai que a vida me deu!
    -Vamos, entrem! Só não reparem muito a bagunça, acabei de me acordar.
    Valdir estranha a ausência de seus filhos.
    -Sandra, cadê o Miguel e o Bernardo?
    -Eles deveriam estar em casa ainda nessa hora, mas Miguel deve ter ido trabalhar mais cedo. O Bernardo só trabalha bem mais tarde, não sei o que deu neles para não estarem aqui.
    -Não sei, Sandra, mas isso tá estranho...
    Daniela nota a preocupação nos olhos de Valdir.
    -Tu acha que tá acontecendo alguma coisa, paizinho?
    -Não sei, filha... Mas tou achando estranho.
    Sandra, também estranhando, propõe:
    -Eu vou ligar pro Miguel pra saber porque ele saiu mais cedo, tá? Não deve ser nada demais.
    Sandra disca o número do celular de Miguel e o ouve tocando do quarto.
    -Mas o que deu na cabeça desse guri pra sair sem celular? Ele nunca desgruda desse aparelho!
    Valdir sente que algo não vai bem, mas nada diz.
    -Não é melhor tentar falar com o Bernardo? - propõe Daniela.
    -Tu conhece ele, Daniela? - pergunta Sandra.
    -Nos esbarramos dia desses e fui grossa com ele. Acabei simpatizando com ele, muito querido... Tens um filho de ouro, sabia?
    -Obrigada, querida. Vou ligar para ele.
    Sandra disca para o celular de Bernardo, que atende.
    -Bernardo, onde que o teu irmão tá? Onde tu tá?
    -Eu tou no hospital de pronto socorro, mãe.
    -O que? Hospital? O que está acontecendo, filho?
    Valdir não esconde a tensão enquanto Sandra ouve atentamente o relato de Bernardo. Sandra desliga tremendo de nervosismo.
    -O que aconteceu? - perguntam Valdir e Daniela ao mesmo tempo.
    -Miguel tentou se matar! - fala Sandra, aterrorizada. CORTA A CENA.

    CENA 3: Flávio chega ao hospital, sendo recebido por Bernardo.
    -Maninho, me fala a verdade... como o Miguel está agora?
    -Ele teve uma parada cardíaca, mas foi reanimado logo em seguida. Teve de ser feita uma lavagem estomacal nele por conta da quantidade de tranquilizantes que ele havia tomado, que não foram absorvidas pelo organismo e o intoxicaram. Ele quase morreu, mas não corre mais nenhum risco de morte.
    Flávio abraça Bernardo emocionado e aliviado.
    -Tou me sentindo responsável por isso que aconteceu ao Miguel, maninho...
    -Não pensa nisso agora, Flávio. Ele não precisava ter tentado se matar.
    -Mas eu sinto que eu ter duvidado dele fez com que ele tomasse essa atitude...
    -E agora, acredita nele?
    -Não sei o que pensar. Só sei que não quero imaginar a minha vida sem o Miguel.
    -Não sei porque vocês não podem ficar juntos, maninho... Vocês se amam tanto!
    -Não é tão simples assim, Bernardo... Todos erramos demais.
    -Mas não podemos ser eternamente condenados pelos erros que cometemos.
    -Eu sei... Não é melhor avisar a Pâmela do que aconteceu e chamar ela aqui?
    -Já liguei para ela e ela está vindo. Por falar nela, olha ela ali.
    Pâmela chega bastante nervosa.
    -Meu Deus, como eu pude ter deixado aqueles tranquilizantes com ele?
    -Tu não podia imaginar isso – contemporiza Bernardo.
    Pâmela vê então Flávio e intui que é ele.
    -Tu é o Flávio, né?
    -Sou sim. É uma pena que tenhamos nos conhecido nessa situação.
    Pâmela não pensa duas vezes quando se sente enternecida pela presença de Flávio: o abraça fortemente.
    -Conta comigo pro que precisar, Flávio. Sinto que é um bom homem.
    Ambos permanecem abraçados, visivelmente emocionados. CORTA A CENA.

    CENA 4: Valdir desespera-se com a notícia da tentativa de suicídio de Miguel, sendo amparada por Daniela.
    -Vamos imediatamente ao hospital! Tenho de ver meu filho!
    -Calma um pouco, paizinho... nós já vamos!
    Sandra, que se recupera do choque, começa a falar.
    -Me leva junto, Valdir? Por favor!
    -Levo sim!
    -Mas antes, paizinho, o senhor vai se controlar um pouco, tá – contemporiza Daniela.
    -Está bem...
    -Vou fazer uma água com açúcar. Quer também, dona Sandra? Acho que a senhora está precisando...
    -Quero sim, querida. CORTA A CENA.

    CENA 5: Lucas liga para Flávio para saber o que houve.
    -Flavinho! O que houve, amor?
    -Um grande amigo meu tentou se matar e tá no hospital, Lucas, foi isso.
    -Mas ele é tão teu amigo assim? Engraçado, pensei que só fosse o Bernardo o teu melhor amigo.
    -E é quase isso. Miguel é irmão dele.
    -Sei. Aquele que tu ama ou amou? Olha aqui, Flávio... eu tou sendo o melhor namorado pra ti, não faz uma coisa dessas comigo...
    -"Uma coisa dessas" o que, Lucas? Não entendi.
    -Deixa pra lá, Flavinho... bobeira minha.
    -Acho bom mesmo que seja bobeira. Não vai começar com ceninha de ciúmes agora, né?
    -É que eu fiquei preocupado, amor...
    -Não se preocupe. Tu sabe que pode confiar em mim.
    -E eu espero ser digno da tua confiança sempre...
    -E por que não seria? Deixe de insegurança, Lucas.
    -Te amo.
    -Sinto uma responsabilidade imensa quando tu diz isso, Lucas... Mas vou fazer o possível pra também te amar. Agora preciso desligar, a qualquer momento poderemos receber notícias.
    -Beijo, amor.
    -Beijo, Lucas. CORTA A CENA.

    CENA 6: Miguel se acorda, já em recuperação. Assim que acorda, faz um pedido.
    -Eu quero ver o Flávio, ele tá aqui?
    -Só um momento, senhor Miguel. Vou verificar.
    A enfermeira então chega até a sala de espera.
    -Entre os familiares do paciente Miguel Soares Dietrich, tem algum Flávio? Ele deseja falar com Flávio.
    Flávio fica visivelmente emocionado enquanto Pâmela segura sua mão de um lado e Bernardo está do outro.
    -Sou eu, enfermeira! Ele quer falar comigo?
    -Sim, senhor. Venha comigo até o quarto.
    Flávio chega ao quarto onde está Miguel, que nada diz, apenas o olha com os olhos cheios de lágrimas.
    -Por que tu foi fazer uma burrada dessas, Miguel? Nunca mais pense em nos deixar, por favor! Eu não suportaria...
    -Eu quis morrer quando tu não acreditou em mim, Flávio... Tu é muito importante pra mim e eu jamais mentiria pra ti.
    -Mas o que tu me contou é absurdo demais, tenta me entender! Sou amigo da Laura também...
    -Sabe, Flávio... eu pensei que tu acreditasse em mim.
    -Mas eu sempre acreditei!
    -Só que não tá acreditando em mim agora. Poxa, eu fui testemunha de um assassinato cometido por ela!
    -É muito surreal, Miguel. Mas tou me esforçando pra acreditar em ti. Me sentindo culpado por ter sido quem te fez querer morrer. Me promete que nunca mais vai tentar fazer isso?
    -Eu prometo, Flávio. Mas eu preciso que tu me prometa uma coisa também...
    -O que?
    -Deixe eu continuar investigando a Laura em silêncio, por favor. Eu vou te provar a bela bisca que ela é.
    -Eu vou deixar, Miguel. Mas não vamos tocar nesse assunto agora, o que importa é que tu tá aqui, vivo.
    -É, mas vou ter de ficar até amanhã aqui de molho...
    Ambos riem. CORTA A CENA.

    CENA 7: Laura surpreende a todos que estão na sala de espera, chegando rapidamente.
    -O que houve com o Miguel? Como ele está?
    Bernardo e Pâmela se olham ao mesmo tempo e perguntam:
    -Mas quem é tu?
    -Sou amiga do Flávio e conheço o Miguel desde que tínhamos 18 anos.
    -Sei – fala Bernardo, desconfiado.
    -Qual o teu nome? - pergunta Pâmela.
    -É Laura. Quem são vocês?
    Bernardo, intrigado, solta:
    -Ué, pensei que tu soubesse que eu sou o irmão dele. Somos até parecidos, não vê?
    Laura fica sem resposta. Enquanto isso, Flávio sai do quarto onde está Miguel e retorna à sala de espera.
    -Laura? O que tu tá fazendo aqui?
    -É o que eu quero saber também... - fala Bernardo, encarando Laura.
    -Eu soube que o Miguel tentou se matar e vim correndo pra cá.
    -Mas quem te contou, Laura? - estranha Flávio.
    -Ah, eu fui passar no teu trabalho pra te dar um oi e não te achei. Aquele teu... amigo...
    -Amigo não, Laura: namorado.
    -Desculpe, Flávio. O teu namorado me disse o que ocorreu e eu vim pra cá. Como o Miguel está agora?
    -Vai sobreviver.
    -Ai, que resposta seca, Flavinho! O que te deu?
    -Nada não... só a tensão por tudo o que ocorreu. Ele vai ficar bem.
    -Ninguém sabe porque ele quis se matar?
    Pâmela, já irritada, mas mantendo a postura, interrompe:
    -Olha aqui, moça: acho que isso já não é da tua conta. Nem nós sabemos.
    -Desculpe. Qual o teu nome?
    -Pâmela.
    -Peço desculpas se pareci invasiva, Pâmela. Não faço mais perguntas. Posso vê-lo?
    -Acho que antes temos de saber quem o Miguel quer ver agora. Ele disse, Flávio?
    -Disse sim, Pâmela. Ele quer ver a ti e ao Bernardo agora. CORTA A CENA.

    CENA 8: Depois de uma longa conversa com Bernardo e Pâmela, Miguel comenta:
    -Então é isso, gente... amo o Flávio, sempre amei. Só que tou enrolado com o Rômulo que gosta pra caramba de mim. Pra piorar, descubro que a Laura é uma psicopata que tentou matar o Flávio anos atrás...
    -Isso é realmente chocante, nem tenho palavras, mano... - fala Bernardo, perplexo.
    -Mas eu acho melhor manter segredo sobre essa investigação que vamos executar, Miguel. - completa Pâmela.
    -O segredo é garantido. Flávio sabe que investigarei, mas não vai saber dos pequenos passos. Achei melhor assim, é melhor.
    -Certamente que é – concorda Bernardo.
    -Mas uma coisa me intriga, Bernardo: tu não ficou chocado por eu me assumir gay?
    -Eu sempre soube, mano. Relaxa.
    -A Laura tá aí, Miguel... - falam Bernardo e Pâmela, ao mesmo tempo.
    -Chamem ela. Quero ver o que ela quer aprontar. CORTA A CENA.

    CENA 9: Laura é chamada por Bernardo e Pâmela a ir ao quarto de Miguel.
    -Flávio, vem comigo? Acho melhor, tem tantos anos que não falo com o Miguel e ele não ia muito com a minha cara...
    -Acho que tu tem razão. Vou contigo, sim.
    Ambos chegam ao quarto de Miguel, que encara raivosamente Laura, mas disfarça.
    -Olá, Laura. Quanto tempo, não é?
    -É mesmo... mas por que tentou se matar?
    -Acho que isso não é da tua conta, Laura.
    Flávio olha com reprovação para Miguel, que entende que precisa disfarçar melhor.
    -Desculpe se fui rude. Passo por momentos difíceis. Meu namorado fica cobrando que eu me assuma para todos.
    -Tu é gay também, Miguel?
    -Pensei que soubesse.
    -Não era o que parecia quando me engravidou.
    -O que? - perguntam Flávio e Miguel ao mesmo tempo. FIM DO CAPÍTULO 15.

terça-feira, 27 de maio de 2014

CAPÍTULO 14


    CENA 1: O copo que Laura segurava se espatifa no chão, assustando Francisca.
    -O que foi, mamãe?
    -Nada não, minha filha... Mamãe deixou o copo cair por distração. Fique aí sentadinha no sofá que eu já junto todos os cacos, tá?
    Laura está apavorada. Sai para pegar uma vassoura e uma pá. Assim que retorna, Francisca comenta.
    -Aquela moça que tava com raiva da senhora foi a moça que mostraram a foto na TV agora, mamãe...
    Laura sente um arrepio sinistro, termina de juntar os cacos e se fecha no banheiro.
    -Alguém viu eu matar a Olívia e denunciou... só pode! - conclui. CORTA A CENA.
   
    CENA 2: A noite cai e o novo dia se anuncia. Patrícia acorda-se cedo, na casa de seu noivo Fabrício. Busca na revisteira o jornal e vai na seção de vagas de emprego, confirmando o que marcara no dia anterior para buscar. Fabrício acorda-se e beija o rosto de Patrícia.
    -Já tá pensando no que vai procurar de vagas hoje, amor? Já disse pra não se preocupar... Não precisa ter tanta pressa, o que eu ganho como músico dá pro gasto.
    -Mas é muito incerto, amor! Hoje tu ganha bem porque a tua banda tá contratada por um pub, mas e se eles resolverem decidir rescindir o contrato, já pensou?
    -Entendo a tua preocupação, Patrícia... mas acho que não é preciso pensar nisso agora.
    -Eu sou tua mulher e me preocupo sim, Fabrício...
    Henrique acorda-se com expressão preocupada, por também não conseguir emprego.
    -Vem aqui, Henrique – chama Fabrício.
    -Fala...
    -Tu me comentou que toca bateria, né?
    -Eu tenho uma proposta a te fazer, cara...
    -Como assim, Fabrício?
    -O baterista da minha banda foi convidado por um amigo de infância dele para fazer part de uma banda que tem ficado famosa agora. Eu acho que tu pode substituir ele.
    -Sério?
    -Vamos fazer um teste. Se tu conseguir tocar as músicas do nosso repertório do jeito que eu espero, a vaga é tua, cunhado!
    -Sério mesmo? Eu nunca vou ter como agradecer o suficiente.
    -Acho que pode ser uma boa ideia, Henrique. E quem sabe assim a Pati não fique se pressionando tanto em arranjar um emprego pra ontem.
    Patrícia interrompe.
    -Mas amor, eu não quero ser uma dondoca inútil.
    -Eu sei disso, mas tu precisa terminar teu acompanhamento psicológico pra depois fazer a redesignação genital, não é?
    -Sim...
    -Então! O Henrique trabalhando comigo, se tudo der certo, traz mais dinheiro pra dentro de casa, se o dono do pub e o público aprovarem o Henrique como novo baterista. Não seria eu a pagar, entendeu?
    -Amor... o que tu tá fazendo por nós é maravilhoso!
    -É o mínimo que eu poderia fazer por vocês. Vocês também são minha família, agora.
    Henrique e Patrícia abraçam felizes Fabrício, que sentencia:
    -Daqui em diante no que depender de mim, tudo vai dar certo! CORTA A CENA.

    CENA 3: Miguel acorda-se, ainda hospedado na casa de Pâmela, demonstrando ainda muito nervosismo e choque com todo o ocorrido.
    -Sabe, Pâ... ainda tá difícil pra eu absorver tudo o que testemunhei.
    -Pelo menos denunciamos, Miguel. Não se preocupe, não vão saber que fomos nós os denunciantes.
    -Tenho medo, Pâmela... Aquela Laura é perigosa.
    -Eu sei que é... mas as denúncias são seguramente anônimas.
    -Espero que realmente sejam...
    -Olha, Miguel... acho que tu tá muito abalado ainda. Tem certeza que deve ir trabalhar hoje?
    -Preciso ir, Pâ. Já faltei esses dias e se eu faltar de novo, acabo devendo horas, entende?
    -Leva contigo esse tranquilizante que eu tenho aqui comigo, tá? Só cuida que ele é meio pesado e só deve ser tomado um comprimido a cada 4 horas, ok?
    -Obrigado pela preocupação, Pâmela... Eu vou levar comigo, mas acho que não vou precisar.
    -Miguel, se tu se sentir abalado demais com tudo e transparecer isso no trabalho, não pense duas vezes, ok?
    -Tá bom... Agora eu preciso ir, senão me atraso.
    Os dois se abraçam fraternalmente.
    -Conta comigo, tá? - finaliza Pâmela. CORTA A CENA.

    CENA 4: Clara chega com Flávio ao trabalho, minutos antes da clínica abrir.   
    -Nossa Flavinho! Tu tá com uma cara excelente hoje, hein?
    -Tá tão na cara assim?
    -Tá sim, querido... é o Lucas, não é?
    -Menina, o Lucas é ótimo... estamos namorando, acredita?
    -Acho que vai ser bom pra ti esse relacionamento, mesmo que tu não ame ele.
    -Mas é aí que tá, Clarinha... ele me ama e eu sinto o peso dessa responsabilidade... mesmo sendo sempre sincero com ele, morro de medo de acabar machucando o Lucas, entende?
    -Claro que entendo, mas se tu tá sendo sincero assim com ele, meu amigo, não tem motivos para se preocupar tanto. E já é um grande passo teu conseguir se permitir a um novo amor. Pensei que tu nunca ia superar o que ficou mal resolvido com o Miguel.
    -Pra te ser bem sincero, ainda não superei completamente. Mas tou caminhando para isso.
    -É melhor que seja assim mesmo, Flavinho... A vida é cheia de surpresas.
    -Tomara que seja, mesmo...
    -Claro que é, querido! Gosto muito do Miguel, mesmo tendo visto ele poucas vezes, sabe? Mas sei que ele tem uma longa estrada de autoaceitação ainda.
    -Tu acha que um dia tudo pode se resolver?
    -Acho. Mas tu já parou para pensar que pode não ser contigo?
    -Não, não... Longe de mim achar que tem que ser comigo. Ele é um bom amigo, afinal...
    -E é muito bom que tu pense assim, Flávio.
    -Vamos fazer um lanche antes da clínica abrir? Tou morrendo de fome!
    -Vamos. CORTA A CENA.

    CENA 5: Valdir está tomando café da manhã com Antonella e Daniela, quando Daniela começa a comentar a cena engraçada que culminara com o início de uma nova amizade.
    -Tu não vai acreditar, paizinho: dá pra crer que na semana passada, enquanto eu procurava emprego, acabei esbarrando num garoto que descia do carro, lá pela altura do Menino Deus?   
    -E o que tu fez, Daniela? Se bem conheço esse teu gênio curto...
    -Pois é, paizinho: enchi o coitado do guri de xingão e ele foi muito gentil comigo mesmo assim. Vi que eu tinha sido grossa e acabamos entrando na casa dele. Gostei dele, sabe?   
    -Olha, Antonella... acho que a tua filha está apaixonada!
    Antonella, sempre amarga, comenta:
    -Poco me importa de mi hija está enamorada. Esos hombres no prestam!
    -Dá pra ser menos amarga, Antonella? Deixa a Daniela falar, caramba!
    -Obrigado pelo apoio, paizinho... mas acho que é meio cedo demais para dizer que estou apaixonada, até porque ele é relativamente mais novo que eu, tem 26 anos ainda!
    -Não é tão grande a diferença de idade, querida... - contemporiza Valdir.
    -Mas já vou fazer 31 anos em setembro, paizinho. Acho que é grande a diferença, sim...
    -Engraçado, tava pensando agora... Ele mora no Menino Deus e tem a idade do meu filho mais novo. Qual o nome do rapaz, Daniela?
    -Bernardo.
    -Por Deus, é o meu filho! - surpreende-se Valdir. CORTA A CENA.
   
    CENA 6: A tarde avança e a noite chega. Miguel decide ir à casa de Flávio para contar das descobertas estarrecedoras que fizera sobre Laura.
    -Oi, Miguel! O que faz aqui?
    -Flavinho, o que eu tenho a te contar é meio chocante...
    -Tá me deixando preocupado, Miguel. Tu tá com uma cara estranha. Entra logo que eu vou fazer um café. Quer?
    -Quero, sim.
    Flávio traz um café, que Miguel bebe apenas num gole.
    -Flávio... eu descobri de uma vez por todas quem tentou te matar. Infelizmente minhas suspeitas eram verdadeiras.
    -É sério isso, Miguel? Me conta isso direito...
    -Foi a Laura que tentou te matar.
    Flávio solta uma risada.
    -O que foi, Flávio?
    -Olha, Miguel, eu sei que a tua intenção em investigar tudo é ótima, mas botar toda a culpa de todo o mal que nos aconteceu na Laura não passa de uma implicância boba da tua parte. Aliás, velha implicância, né? Tu nunca gostou dela!
    -De fato eu nunca gostei dela. Mas tem coisa muito pior que eu descobri sobre essa mulher...   
    Flávio, com tom de desdém, fala:
    -Tá, me conte o que tu descobriu de tão escabroso assim...
    -Sabe aquele assassinato que ocorreu no sábado e foi noticiado ontem na TV durante quase todo o dia? Foi a Laura que matou aquela mulher! Eu vi tudo! Fui eu e a Pâmela que denunciamos. Acredita em mim, por favor!
    -Ah, pode parar, Miguel! Eu gosto um monte de ti e não quero brigar contigo, sério.
    -Quer dizer que não acredita em mim?
    -Tu tem noção da gravidade da acusação que tu tá fazendo contra a Laura? Poxa, ela também é minha amiga!
    -Não é tua amiga coisa nenhuma, acredita em mim!
    -Desculpa, Miguel, não tem como acreditar em ti. Essa história mirabolante que tu me contou é mais manjada do que novela mexicana. E se fosse verdade alguma coisa que tu me contou, estaríamos lidando com uma psicopata!
    -Tu precisa acreditar em mim, Flávio! Eu não mentiria pra ti.
    -Eu sei que não, mas acho que tu tá criando coisas na tua mente. Por favor, não insiste nesse assunto, tá? A não ser que tu queira brigar comigo.
    -Se é assim, eu vou indo embora. Outra hora nos falamos.
    Miguel sai desolado da casa de Flávio. CORTA A CENA.

    CENA 7: Laura está lendo um livro quando seu celular toca.
    -Alô, quem fala?
    -Uma pessoa que te odeia e vai acabar com essa tua vida...
    A pessoa não se identifica e deixa Laura apavorada.
    -Quem fala? Olha aqui, cara... não tou com paciência pra trote numa hora dessas em plena segunda-feira. Me deixe em paz, tá me ouvindo?
    -Eu sei que foi tu quem matou a Olívia no sábado. É melhor olhar por onde anda, Laura. A qualquer momento alguma coisa pode te acontecer.
    -Deixe de besteira, não sei do que tu tá falando!
    -Sabe muito bem!
    -Chega!
    Laura desliga o telefone, apavorada.
    -Quem será que quer me matar? CORTA A CENA.

    CENA 8: Fernanda está lendo em seu quarto quando Flávio bate em sua porta.
    -Te interrompo, maninha?
    -Nada, eu já tava terminando os estudos de hoje.
    -Nanda, o Miguel esteve agora há pouco aqui em casa falando um papo esquisito...
    -O que ele te disse?
    -Que ele sabe quem tentou me matar, mana...
    -Como é que é? E quem foi?
    -Eu não acreditei nele, é muito absurdo o que ele me disse...
    -Tá, mas o que ele te disse?
    -Ele me disse que foi a Laura, aquela minha amiga que morou alguns anos no exterior, pode uma coisa dessas?
    Fernanda sente um arrepio sinistro.
    -Pode ter sido ela sim, Flavinho... o Miguel não mentiria pra ti.
    -Até tu, Fernanda? Poxa, o Miguel sempre implicou com a Laura, desde que entramos na faculdade!
    -Algo me diz que essa mulher não presta, maninho...
    -Ah, pode parar, Nanda!
    -Foi a Laura que matou aquela mulher no sábado, não foi?
    Flávio fica perplexo com a afirmação de Fernanda.
    -Óbvio que não foi, Nanda!
    -Engraçado que eu não senti convicção na tua voz, mano...
    -Pra mim esse assunto já deu. Vou dormir, ok? Beijo, Nanda... dorme bem. CORTA A CENA.

    CENA 9: Miguel revira-se na cama de sua casa, sem conseguir dormir. Chora desconsolado, a repetir diversas vezes "acredita em mim, Flávio... por favor!". Sem conseguir pregar o olho durante a noite, o dia amanhece. É quando Miguel lembra-se dos tranquilizantes que Pâmela lhe deu.
    -Já que o meu amor não é capaz de acreditar em mim, talvez seja melhor morrer...
    Miguel dirige-se silenciosamente ao banheiro, levando em suas mãos o frasco de comprimidos e um copo. Separa inicialmente quatro comprimidos, enche o copo dágua e os toma. Repete o procedimento por mais duas vezes.
    -Isso aqui deve ser o suficiente.
    Miguel chora desesperadamente por se sentir abandonado por tudo e todos. Conforme o choro cessa, vai sentindo suas forças enfraquecendo cada vez mais.
    -Acho que chegou a hora de a morte me abraçar...
    Assim que Miguel fala, despenca no banheiro, batendo sua cabeça contra a porta.
    Bernardo desperta com o estrondo, desorientado. Procura seu irmão na cama ao lado, mas nada vê. Sente que algo não está indo bem.
    Ao chegar ao banheiro, percebe que a porta está trancada.
    -Puta que pariu! Eu não sei arrombar uma porta! Tenho que pensar rápido!
    Lembra-se de uma baixa de ferramentas que está sobre o roupeiro e a pega.
    -De algum jeito eu tiro essa fechadura daqui.    
    Depois de alguns minutos tentando, Bernardo consegue remover a fechadura e quando abre a porta, vê Miguel desacordado e com os lábios roxos.
    -Mano, acorda! O que tu fez?
    Miguel, com muita dificuldade, fala:
    -Eu... tou ficando... sem ar. Acho que... tou morrendo.
    Bernardo então vê o frasco de comprimidos na pia.
    -Tu tomou isso aqui, Miguel? Tentou se matar! Mas não vou te deixar morrer, segura aí!
    Bernardo chama uma ambulância que rapidamente chega. CORTA A CENA.
   
    CENA 10: Flávio está começando o dia de trabalho ao lado de Clara.
    -Dá pra acreditar nessa história maluca que o Miguel disse?
    -Olha, Flavinho... se ele te disse isso tudo, ele deve ter motivos. Inventar que ele não ia!
    -Tenha paciência... essa implicância dele com a Laura foi longe demais!
    Toca o celular de Flávio, aparecendo o número de Bernardo.
    -O que o Bernardo quer agora?  - fala Flávio, atendendo o celular.
    -Flávio, o que rolou com o Miguel ontem?
    -Ele me disse uns absurdos sobre uma amiga minha!
    -Ele tentou se matar mais cedo e tá sendo desintoxicado agora. FIM DO CAPÍTULO 14.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

CAPÍTULO 13


    CENA 1: Miguel entra em choque com a cena. Laura calmamente joga sua arma no rio e vai embora dali rapidamente, sem perceber que Miguel testemunhara o assassinato que ela acabara de cometer.
    -Ela matou uma mulher, ela matou uma mulher – repete Miguel, que logo depois vaga por alguns metros até encontrar um boteco aberto, onde pede uma dose de cachaça, bebendo num único gole. O atendente, ao perceber a palidez e o estado de choque de Miguel, preocupa-se.
    -Meu bom homem, tá tudo bem contigo?
    -Tudo bem, não se preocupe... - mente Miguel, voltando aos poucos do estado de choque. -Me vê mais um martelinho de saideira aí – completa.
    Vaga por alguns instantes até que decide retornar ao local do crime que Laura cometera. Ali, percebe que a bolsa de Olívia está jogada na beira do abismo. Ao recolher a bolsa, encontra nos pertences da morta uma carteira de um plano antigo de saúde, do mesmo hospital em que Flávio esteve internado durante toda a sua longa recuperação.
    -Vamos ver... Olívia Tomasini Velasquez, nascida em 13/08/1982... meu Deus! Tão jovem! Não chegou a completar sequer 31 anos!
    Miguel compadece-se e deixa escapar algumas lágrimas em lamento à trágica morte daquela jovem mulher. Decide revirar a bolsa em busca de maiores informações e encontra somente uma niqueleira com algumas poucas moedas e uma cópia de uma certidão de nascimento aparentemente recente. Ao ler, percebe tratar-se do filho bebê de Olívia.
    -Murilo Velasquez Siqueira, nascido em 16/07/2012, filho de Olívia Tomasini Velasquez e Jorge Garcia Siqueira. Por Deus! Não fez nem um ano e não tem mais mãe! Ainda por cima nasceu no dia aniversário do Flavinho...
    Depois de derramar mais algumas lágrimas de compaixão, dobra a cópia da certidão de nascimento do bebê e coloca em seu bolso, juntamente à carteira de saúde antiga que pegara antes. Parte com sua moto dali. CORTA A CENA.

    CENA 2: Fernanda está concentrada estudando quando sente um arrepio sinistro.
    -Tem algo de muito errado acontecendo com o Miguel...
    Fernanda decide ligar para Flávio, que está na companhia de Lucas. Logo é atendida.
    -Oi, maninho... tem o telefone do Miguel aí? Preciso falar com ele...
    -Por que?
    -Nada demais, mano... - disfarça Fernanda.
    -Não me parece pouca coisa, pelo teu tom de voz, Nanda...
    -Já disse que não é nada demais, não se preocupe.
    -Tudo bem, eu passo o número, anota aí...
    Fernanda anota o número rapidamente.
    -Obrigado, maninho... beijo.
    Rapidamente, Fernanda liga para Miguel, que não atende num primeiro momento, mas percebe que o telefone tocou. Fernanda tenta ligar novamente enquanto Miguel estaciona sua moto numa calçada.
    -Alô, quem fala?
    -Oi Miguel... é a Nanda.
    -Oi, Nanda... aconteceu alguma coisa com o Flávio? Estranhei tu me ligar...
    -Com o Flávio, nada. Tou preocupada contigo, Miguel. Senti um arrepio sinistro ainda agora e sei que algo te aconteceu. Não quer me dizer do que se trata?
    -Não se preocupe, Nanda... não é nada demais, tá?
    -Eu sei que tu não quer me falar agora... Não tem problema, tá? Outra hora nos falamos melhor. Mas fique bem de qualquer forma, sei que tu tá precisando descansar a mente.
    -Tudo bem, Nanda... agradeço pela preocupação. CORTA A CENA.

    CENA 3: Pâmela está distraída assistindo TV quando toca sua campainha.
    -Miguel? Que cara é essa?
    -Aconteceu uma tragédia, Pâmela. Por favor, não me deixa sozinho agora.
    -Fica calmo em primeiro lugar antes de me contar o que aconteceu. Nunca te vi pálido desse jeito!
    -Acho que tou ficando meio tonto...
    Ao que Miguel termina de dizer isso, desmaia na frente de Pâmela, que mesmo assustada consegue segurá-lo antes de ele bater inerte no chão. Com muito esforço, Pâmela consegue levar Miguel desacordado até seu sofá e pega um frasco de perfume para acordar Miguel.
    -Como tu tá se sentindo, Miguel? O que te deixou tão chocado a ponto de perder os sentidos?
    -Uma tragédia, Pâ... uma tragédia!
    -Como assim, Miguel?
    -Eu fui testemunha de um assassinato a sangue frio.
    Pâmela percebe que Miguel está tremendo e com os olhos marejados.
    -Me conta isso direito, Miguel... Tá me assustando.
    -Eu tava seguindo a Laura, investigando ela. Tinha certeza que ela tentou matar Flávio há quase 10 anos atrás...
    -Quem é Flávio? Quem é Laura?
    -Mais tarde eu te explico...
    -Tudo bem. Mas e aí, o que houve depois?
    -Justo hoje eu resolvi sair à caça da Laura, ver o que ela fazia quando saía do hotel em que se hospedou desde que voltou pra Porto Alegre. Sabe aquela hora que tu acabou flagrando o meu... ahm... desculpa, Pâ...
    -Não é hora de falar sobre isso. Vamos esquecer por agora. Prossiga, Miguel...
    -Eu tava me despedindo do Rômulo inventando que tava indisposto. Ele pensa que fui pra casa. Mas dali eu saí com a minha moto e fui seguir a Laura. A vi na entrada do hotel esperando uma outra mulher chegar. Essa mulher chegou logo e elas entraram no carro da Laura. Andaram até um ponto ermo da beira do Rio Guaíba... eu as segui até lá. Consegui ouvir a conversa delas e a mulher pedia dinheiro para a Laura em troca do silêncio dela.
    -Que loucura, Miguel... e aí?
    -Nessa conversa das duas, a Laura sacou uma arma do carro dela e apontou para a mulher. Antes de atirar, ela confessou ter tentado matar o Flávio...
    Miguel começa a chorar, mas prossegue falando.
    -Depois disso, a mulher ameaçou gritar e a Laura atirou, à queima-roupa. A mulher despencou pra trás no abismo e afundou no rio.
    Pâmela fica perplexa com o que acaba de ouvir.
    -Miguel, essa mulher é uma psicopata!
    -Tenho certeza de que é. Mas tem mais, Pâ: eu acabei voltando ao local do crime depois e achei a bolsa da mulher. Achei uma carteira antiga de um plano de saúde oferecido a quem trabalhava no hospital em que o Flávio esteve internado durante o longo tratamento pelo qual passou até sair da invalidez. Juntamente a essa carteira, também achei uma cópia de certidão de nascimento. A mulher se chamava Olívia e tem um filho que nem completou um ano!
    Miguel se abraça em Pâmela, chorando.
    -Miguel, nós precisamos denunciar esse crime!
    -Mas Pâmela, eu não tenho provas contra a autora do crime. Na hora eu fui tão burro que me esqueci de ligar o gravador do meu celular!
    -Eu sei o que a gente pode fazer, Miguel, não te preocupa.
    -Sabe? Como assim?
    -Deixa comigo. Eu mando uma denúncia anônima pelo site da Brigada Militar e tu me passa os detalhes, como a localização exata do crime, essas coisas. Não precisa se preocupar que o anonimato é garantido. Mas esse crime não fica sem punição, pode confiar em mim. E nem te apressa porque hoje tu vai dormir aqui. Somos ou não somos amigos?
    -Eu sinto tanto por ter te enganado, Pâmela...
    -Depois a gente fala nisso. CORTA A CENA.

    CENA 4: O dia amanhece. Flávio acorda-se na casa de Lucas, pois dormira lá. Lucas, por sua vez, ouve o celular tocar e dirige-se rapidamente à cozinha, sem mancar. Atende a ligação misteriosa.
    -Como é que tu pode ser tão vil, garota? Não percebe que eu comecei a gostar de verdade dele?
    Do outro lado, aparece Laura.
    -Olha aqui, seu idiota: eu tou te pagando muito bem pra fazer o serviço como eu mandei. Tou cagando pros teus sentimentos, engole eles e ponto final!
    -Às vezes eu acho que tu é meio psicopata, Laura... tu não pode ser uma pessoa normal. Tenho pena da tua filha.
    -Não ouse colocar a minha filha no meio dessa conversa, rapazinho! Se tem uma pessoa nesse mundo a quem amo, é a minha filha.
    -Não parece, tendo em vista o que tu pretende fazer.
    -Cala a boca! Os meus planos individuais não são da tua conta, bicha abusada.
    -Não fale assim desse jeito comigo, Laura.
    -Eu falo do jeito que eu quiser, Lucas. Sou eu que te pago, a tua alma é minha se eu quiser, tá entendido?
    Lucas sente um arrepio sinistro.
    -Melhor deixar de papo furado contigo. Deixa comigo que eu resolvo as coisas da melhor forma possível, Laura. CORTA A CENA.

    CENA 5: Nadir vaga tristonha por sua casa, visivelmente amargurada. Paulo percebe a amargura de sua mulher.
    -O que te aflige, Nadir?
    -Tu ainda pergunta, Paulo? Meus dois filhos me deixaram, me abandonaram.
    -Tu buscou isso, Nadir.
    -Como é que é?
    -É isso mesmo! Passei todo esse tempo calado, mas agora resolvi falar. O que tu faz com nossa filha é mais que desumano, é hediondo!
    -Filha? Não temos filha!
    -Chega de fingir que não me entende, Nadir! Tu foi atéia durante toda uma vida, bastou a Patrícia assumir a transexualidade que tu se enfiou dentro de uma igreja e ainda me levou junto. Em algum momento tu perguntou se eu queria estar lá? Não... afinal é sempre a tua vontade que prevalece, não é? Não mais. Nossos filhos cresceram e tu não quis aceitar as escolhas individuais de cada um. E o que tu causou com isso? Eu aqui, aguentando tudo sempre calado – e me arrependo imensamente disso – acabei abusando da bebida, falei coisas que não devia pra Patrícia, ofendi a pobrezinha a troco de nada! Porque, sim: ela é uma mulher, aceite tu isso ou não! Em vez de tu dar o mínimo esperado de carinho a ela e apoiar no que ela precisava, tu virou as costas pra ela. Afinal ela tava "te afrontando", não é? Se tem alguma responsável por destruir a nossa família, Nadir, esse alguém é tu!
    Nadir se enfurece e parte para cima de Paulo.
    -Tu não encosta um dedo em mim, Nadir!
    -Eu quero a separação.
    -Seja feita a vossa vontade, suprema Nadir! CORTA A CENA.

    CENA 6: Miguel acorda-se na casa de Pâmela com uma ligação de Rômulo, a quem prontamente atende.
    -Oi, Rô.
    -Oi, Miguel... não vem me ver hoje?
    -Não tou legal, Rô... acho até que vou ao médico, não tou em condições de sair.
    -Melhoras, mor... Mais tarde eu te ligo de novo. Beijo.
    -Beijo.
    Pâmela, que já estava acordada, aborda Miguel.
    -Acho que chegou a hora de conversarmos...
    -É... também acho.
    -Eu estive pensando bastante, Miguel. Tu não foi legal comigo de me esconder que gosta de homens. Mas eu compreendo os teus motivos e sinceramente não guardo mágoa.
    -Tá falando sério, Pâ?
    -Claro que tou. Sou tua amiga e repito o que já te disse tantas vezes: tu pode sempre contar comigo, de verdade!
    -Eu vou fazer o possível para sempre ser digno dessa amizade.
    -Basta ser honesto daqui em diante.
    -Bem, Pâ... O Flávio foi meu primeiro e talvez único verdadeiro amor...
    -Sério?
    -Sim. Muita coisa aconteceu desde que nos conhecemos, desde que essa Laura chegou pra instaurar o caos em tudo. Essa guria não presta, Pâmela... Bem, eu vou te contar desde o começo
    Miguel começa a contar toda a história em segundo plano.
    Pâmela abraça emocionada Miguel, que chora de alívio.
    -Eu tenho certeza de uma coisa, Miguel...
    -Só existe um amor na tua vida, mesmo...
    -Tu acha?
    -E tu ainda me pergunta? O Flávio é o amor da tua vida. Vocês podem estar separados agora, mas meu coração sente que vocês ainda se acertam. Ainda mais que conseguiram voltar a ser amigos depois de tanto tempo e depois de tanto egoísmo superado da tua parte, Miguel...
    -Não quero pensar nisso agora, Pâ... não adiantaria de nada me encher de falsas esperanças que não me levam a nada. Prefiro ser sempre o amigo fiel que faz tudo pela felicidade de quem eu amo do que sonhar com o impossível...
    -O tempo vai dizer, meu amigo... E digo mais: quero conhecer esse Flávio, tenho certeza que vou gostar dele.
    -Sabia que ele é canceriano como tu?
    -Imaginava isso...
    Ambos riem. CORTA A CENA.

    CENA 7: Lucas observa Flávio, que ainda dorme. Ao que a câmera se aproxima, percebe-se que Lucas chora. Flávio acorda e estranha o choro discreto de Lucas.
    -Bom dia, Luquinhas... o que houve que tu tá chorando?
    -Não houve nada, Flávio... é que eu me emocionei de tu estar aqui comigo, na minha casa...
    -Nossa, é pra tanto assim? Não sabia que tu tava gostando tanto assim de mim.
    -Gosto tanto de ti que chega a doer aqui dentro... - desabafa Lucas, com notável sinceridade.
    -Olha, Lucas... tu sabe que eu não sou perdidamente apaixonado por ti, mas vou fazer o possível para te fazer feliz. Sei que tu merece ser feliz...
    Os dois se beijam e se abraçam fortemente em seguida, no que Lucas finaliza:
    -Queria que esse sonho durasse pra sempre... CORTA A CENA.

    CENA 8: Laura está retornando do passeio matinal com sua filha. Francisca, sem mais nem menos começa a ver uma mulher jovem ao lado de Laura.
    -Mamãe, tem uma mulher do lado da senhora.
    -Que ideia, filha! Não tem ninguém aqui!
    -Mãe, eu tou vendo! Ela fica te olhando com raiva. Tem fogo nos olhos dela.
    Laura sente um arrepio sinistro e ouve uma voz a dizer "ninguém mandou acabar com a minha vida... pode esperar que a tua hora tá chegando".
    -Devo estar me autosugestionando... - murmura.
    -O que foi, mamãe?
    -Nada, filha... pensei alto uma besteira aqui.
    -Mamãe, eu quero ver desenho. Liga a TV pra mim?
    -Claro que sim, minha filha...
    Ao ligar a TV, a transmissão do desenho animado é interrompida por um "Plantão", que Laura inicialmente ignora.
    "Foi encontrado no início da manhã o corpo de uma jovem de 30 anos boiando à margem do Rio Guaíba, na altura da Usina do Gasômetro. Identificada como Olívia Tomasini Velasquez, o corpo da jovem mulher tinha uma perfuração causada por disparo de arma de fogo na altura do coração, provável causa de sua morte. A arma do crime não foi encontrada e ainda não foram identificados suspeitos. Procurado por nossa reportagem, seu companheiro e pai do filho de Olivia não quis gravar entrevista e pediu para não ser identificado, alegando estar profundamente abalado pelo assassinato de sua esposa"
    Laura solta um grito de pavor. FIM DO CAPÍTULO 13.

sábado, 24 de maio de 2014

CAPÍTULO 12


    CENA 1: Patrícia desdenha da ordem de sua mãe.
    -Tá, mãe. Agora que acabou o teu showzinho de histeria e que tu deu o tapa que tanto queria em mim, eu vou me deitar que estou podre de cansada, tá?
    Nadir, ao ver Patrícia rumar em direção ao seu quarto, a puxa pelo braço.
    -Vem cá, fedelho: que parte de "tu não mora mais aqui" que tu não entendeu?
    Patrícia então percebe que sua mãe falava sério e se choca ao constatar tal fato.
    -Mãe? Então... é verdade? Mas eu sou sua filha!
    -Eu não tenho filha! EU NÃO TENHO FILHA! Eu tenho dois filhos. E se tu não entende que não é mulher e sim homem, não precisa viver no mesmo teto que o resto saudável da nossa família.
    -Tá me chamando de doente?
    -Entenda como quiser. Agora sai da minha frente, eu tou mandando!
    Nadir invade o quarto de Patrícia e começa a pegar todas as roupas do roupeiro dela e a jogar na cama.
    -Me traz a droga da tua mala agora!
    Patrícia se desespera e chora desconsolada, despertando a atenção de Henrique e Paulo. Enquanto Henrique corre para acudir a irmã, Paulo, seu pai, nada faz e apenas assiste a cena, calado.
    -Enlouqueceu, mãe? Tu não vai fazer isso com a Pati! Não mesmo!
    Nadir se enfurece mais.
    -Pára de chamar teu irmão de Pati, Henrique! O nome dele é Carlos Eduardo!   
    -Para mim sempre foi Patrícia. Só a senhora que não consegue ver.
    -Não consigo e não quero. Agora sai da minha frente que eu vou terminar de fazer as trouxas desse teu irmão.
    -Não vai mesmo!
    -Tu tá me desafiando, moleque?
    -Se é assim que tu prefere entender, tou desafiando sim! A Pati fica.
    -A Pati? Chega a ser patético ouvir tu dizer isso. O Carlos Eduardo vai embora agora!
    -Se ela for embora por aquela porta, eu te juro, mãe: eu vou junto com ela para onde ela for!
    Patrícia se abraça emocionada ao irmão. Nadir se descontrola e fica histérica.
    -Então é isso? Eu vou ser abandonada?
    -Tu escolheu isso, mãe. Ou a Pati fica ou eu vou embora com ela.
    -Pode ir embora com ele, então! Não quero ninguém debaixo desse teto que compactue com a doença do teu irmão!
    Henrique parte em direção ao seu quarto para arrumar suas malas.
    -Tá vendo o que a senhora causou pela intransigência, mãe? Agora nem o Henrique vai ficar. Saiba que apesar de tudo, ainda te amo.
    Patrícia termina de arrumar sozinha as malas, em lágrimas. Enquanto isso, Nadir vai para a sala, em estado de choque, acompanhada de Paulo, que nada consegue dizer diante do que acabara de presenciar.
    Henrique e Patrícia partem porta a fora com malas na mão.
    -E agora, o que a gente faz, mana?
    -Só tenho um lugar para onde posso ir. Espero que ele te receba também...
    -Ele quem, mana?
    -Confia em mim, mano. Na rua, a gente não fica. CORTA A CENA.

    CENA 2: Patrícia e Henrique chegam à casa de Fabrício, que imediatamente abraça Patrícia, que chora em seus braços. Assim que Patrícia se recompõe, Fabrício se apresenta a Henrique.
    -Oi, eu sou o Fabrício, namorado da tua irmã.
    -Prazer, sou Henrique.
    -É uma pena que tenhamos nos conhecido numa situação dessas, eu sinto muito pelo que houve...
    -Eu agradeço por nos receber aqui, Fabrício. Mas não se preocupe que não vou te dar trabalho algum, viu? Vou arranjar um trabalho e contribuir nas despesas.
    -Vamos deixar isso para depois, gente. Acho que vocês dois precisam descansar.
    Patrícia interrompe.
    -Ai, amor... eu me sinto envergonhada de te pedir moradia.
    -Ficou doida, Pati? O que eu te disse mais cedo? Por mim tu já estaria morando aqui... Eu sei que é algo horrível de dizer agora, por causa de tudo o que houve, mas agora tu tá aqui comigo e eu vou cuidar de ti, meu amor...
    -Eu te amo tanto, Fabrício...
    Os dois se beijam e são interrompidos por um pigarro de Henrique a descontrair.
    -Ei, pra beijar a minha irmã, só casando!
    -Sabe que não é uma má ideia, cunhado?
    Patrícia se espanta.
    -Patrícia... casa comigo?
    -Ficou louco, Fabrício? Não podemos nos casar no papel, ainda sou legalmente homem!
    -Eu sei, mas quero viver uma vida de casado contigo. Então, aceita ou não?
    -Eu aceito! CORTA A CENA.

    CENA 3: O dia amanhece. Miguel acorda-se aos primeiros raios da manhã, rapidamente se arruma, toma seu café da manhã e sai. Com o celular na mão, confirma a localidade que deseja encontrar: o hotel onde Laura está hospedada. Avista o ônibus aproximando-se da parada e salta rapidamente, pegando novamente o celular e ligando para a recepção do hotel.
    -Bom dia! Tu poderia me confirmar o número do quarto onde está hospedada Laura Silveira?
    -Claro! É 603.
    -Ótimo. Mas lembre-se, o presente que desejo entregar é uma surpresa, portanto nada deve ser dito a ela, tá bom?
    -Posso pelo menos anotar seu nome?
    -Não precisa, rapaz. Meu nome estará no envelope do presente. Um bom dia, até logo.
    Miguel chega ao hotel onde Laura está hospedada. Com sua câmera, fotografa discretamente alguns funcionários para saber como são os uniformes dos funcionários.
    -Esse plano precisa funcionar, não posso falhar! CORTA A CENA.

    CENA 4: Laura está se acordando quando recebe uma ligação misteriosa, que atende rapidamente.
    -E aí? Como é que vão evoluindo as coisas? Alguma novidade? Se não tiver nada de novo em duas semanas, já sabe (...) ah, sério? Quer dizer que conseguiu evoluir? Ótimo! É assim mesmo que tem de ser (...) Mas agora que o primeiro passo foi dado, creio que não seja difícil is mais adiante. Lembre-se: tu precisa ganhar a total confiança desse pato, tá entendendo? Agora que começou a andar, tanto faz o tempo que leve. Só exijo que ganhe a confiança dele! Aí tudo vai ficar mais simples, assim eu vou poder destruir a carreira dele! (...) Não é obssessão coisa nenhuma e eu não pedi sua opinião. Estou lhe pagando para executar um serviço, não para fazer avaliação de psicólogo de botequim, tá entendendo? Então não questione minhas ordens. Passar bem!
    Laura arruma-se triunfante e fala consigo mesma, sorrindo maliciosamente.
    -Vai ser lindo ver a carreira desse babaca indo por água abaixo. Mais lindo ainda ver todas as pessoas perdendo o respeito e a confiança nele!
    Novamente toca o telefone de Laura, que não identifica o número que ligou.
    -Alô. Quem fala?
    Do outro lado, aparece Olívia, vivendo notavelmente em pobreza.
    -Não lembra de mim, "Juliana"? Sou a Olívia. A enfermeira que tu desgraçou há quase 10 anos atrás.
    -Minha senhora, meu nome não é Juliana, me chamo Laura.
    -Eu sei tudo de ti, sua vadia. Desde o casamento com o velho babão que te deu a vida luxuosa que tu tem hoje aos planos que tu tem de destruir a vida daquele paciente que eu sei que tu tentou matar!
    -Tá ficando doida, mulher? Nem te conheço!
    Laura está notavelmente apavorada.
    -Não adianta me esconder nada, vadia! Sabe qual foi o teu erro? Ter deixado cair a carteira de estudante no banheiro e não ter visto. Quando me acordei, saquei tudo e comecei a te investigar. Quando tu voltou pro Brasil, então, eu terminei de montar o quebra-cabeça.
    -E o que tu pretende com isso, enfermeirazinha ralé?
    -Recuperar a minha dignidade. Essa ligação é um aviso: ou tu me paga 500 mil reais por todo o prejuízo que me causou, ou eu te boto na cadeia! Tenho provas contra ti, sua vagabunda!
    -Que dignidade que tu tem a recuperar? Não pode trabalhar? Ficou pancada da cabeça com meia dúzia de tranquilizantes, foi?
    -Não. Tu sabia que depois daquele episódio eu fui demitida por justa causa por dormir em serviço? Eu era a enfermeira responsável pelo Flávio e fui penalizada. Todas as portas se fecharam para mim desde então e eu mal tenho como manter meu filho recém-nascido.
    -Ninguém mandou fazer filho dessa pobreza toda, sua burra!
    -A escolha é tua, Laura. Ou tu me encontra hoje mais tarde e me paga os 500 mil que eu exijo para ficar de bico calado, ou eu te boto na cadeia, tá entendendo?
    -Tá certo, Olívia, eu pago o que tu quer. No veremos sábado. Me aguarde na frente do hotel em que eu estou hospedada às 19 horas que eu te dou uma carona para entregar o dinheiro num lugar onde ninguém veja. Pode ser?
    -Assim fica tudo ótimo.
    Olívia desliga sem nada mais dizer e Laura se desespera.
    -Eu preciso pensar e agir rápido... CORTA A CENA.

    CENA 5: Se passam 3 dias. Na tela, aparece "dias depois". Flávio está vendo TV calmamente ao final da manhã quando a campainha toca. É Miguel.
    -Oi, Miguel! Como tá?
    Os dois se abraçam fraternalmente.
    -Tou bem, e tu?
    -De bobeira aqui, vendo TV. Mas daqui a pouco vou dar uma saída, para encontrar Lucas.
    -Quem é Lucas?
    -Bem, ele é um paciente que tá em recuperação de uma lesão na perna direita.
    -Engraçado que os teus olhos não dizem exatamente isso, Flávio...
    -Bem, faz quatro dias que começamos a ficar, sem compromisso, sabe? Vamos ver onde vai dar... não prometi gostar dele como ele gosta de mim, mas tou tentando me permitir, né?
    -Eu fico tranquilo por tu estar assim, mais leve... Mas me dá uma dorzinha de não ser eu esse cara...
    -Bem, Miguel, acho melhor a gente nem tocar nesse assunto, vamos mudar de assunto, ok?
    -Sim. Inclusive eu vim aqui pra te dizer que já comecei a planejar minha investigação contra a pessoa que desconfio que tenha tentado te matar.
    -Por que não me diz logo quem é?
    -Porque eu preciso ter certeza antes, Flávio...
    -E como tu vai ter certeza?
    -Simples: seguindo a pessoa.
    -E tu vai fazer isso?
    -Hoje mesmo. CORTA A CENA.

    CENA 6: Otília e seu Breno estão conversando calmamente quando de repente uma visão estarrecedora acomete Otília, que fica pálida. Seu Breno se assusta.
    -O que foi, querida?
    -Eu vi uma coisa horrível! Miguel vai sofrer um profundo trauma hoje.
    -Como assim, Otília?
    -Eu vi Miguel sendo testemunha de um assassinato!
    Seu Breno preocupa-se.
    -E não viu quem é o assassino ou a vítima?
    -Infelizmente não, meu velho...
    -Precisamos nos concentrar. Quem sabe assim consigamos ver...
    -Tou com medo, Breno... CORTA A CENA.

    CENA 7: A tarde passa e a noite se anuncia. Miguel, que está com Rômulo num pub, anuncia:
    -Rômulo, eu preciso ir agora.
    -Por que?
    -Tou me sentindo meio indisposto, acho que vou pra minha casa descansar...
    -Você não me parece indisposto.
    -Talvez eu esteja nervoso. De qualquer forma, preciso ficar sozinho, Rô... espero que tu entenda isso, ok?
    -Entender eu entendo, Miguel. Só fico com pena de você não se abrir comigo, de sempre falar as coisas pela metade. O que eu tenho de tão errado que tu não confia em mim?
    -O problema não é tu, Rô... não confio nem em mim mesmo, não sei se saberia confiar em outra pessoa. Não se culpe por isso, por favor.
    -Pode pelo menos me dar um beijo de despedida?
    -Que exagero, Rô... a gente não tá terminando nem nada! Mas tudo bem, acho que esse carioquinha inseguro tá precisando mesmo de um beijo pra sossegar...
    Pâmela, que andava em frente ao pub onde ambos estavam, vê a cena e exclama:
    -Então tu é gay, Miguel!
    Miguel se assusta.
    -Calma, Pâ... eu ia te contar isso um dia...
    -Ah, ia? Ia esperar até quando? Até depois da Olimpíada de 2016 ou ia esperar até uma tartaruga vencer a corrida de São Silvestre?
    -Pâmela... nós precisamos conversar...
    -Outro dia. Estou muito decepcionada contigo, Miguel... CORTA A CENA.

    CENA 8: Miguel está escondido atrás de um arbusto enquanto Laura espera a chegada de Olívia. Olívia chega.
    -Olá, Laura.
    -Seja discreta, Olívia... vamos, entre logo no carro, antes que dê na vista...
    As duas entram no carro. Miguel rapidamente sai de trás do arbusto cuidando para não ser visto e parte atrás delas em sua moto. A câmera vai para dentro do carro de Laura.
    -Não se preocupe, Olívia... não vamos para muito longe. Em algum lugar das redondezas do Rio Guaíba deve ser deserto o suficiente para ninguém nos flagrar nesse pagamento.
    -Tu tem medo mesmo que eu te denuncie, né? Também, depois da sujeira que fez com aquele pobre rapaz...
    -Se eu tenho medo ou não, tanto faz. Não importa isso agora. Tu não quer o dinheiro? Pois vai ter.
    -Nem que fosse a última conquista dessa vida, eu sabia que esse dinheiro ia ser meu!
    -Tu não faz ideia...
    -Por que essas luvas, Laura?
    -Desculpe por ser rica, querida... Já percebeu o frio que tá lá fora em pleno outono? Natural que eu esteja com a luva mais chique.
    -Pena que essa tua classe não esconda a sujeira da tua alma...
    -Quer fazer o favor de parar de me criticar? Vou te dar o dinheiro e tu fica aí me metendo o malho? Deveria me agradecer por sair dessa vidinha remelenta... Pronto, chegamos.
    As duas descem do carro num pequeno precipício à beira do rio. Laura volta-se ao banco traseiro para pegar a maleta. Atrás da maleta há uma arma. Miguel observa aterrorizado à cena.
    Olívia se apavora.
    -Não faça isso, Laura... por favor!
    -Ué, tu não disse que ia ter esse dinheiro nem que fosse o último ato da tua vida? Pois então vai ser. Estou atendendo a um pedido teu. E quem ia acreditar nas denúncias de uma pobretona remelenta com um bebê de colo? Ninguém. Desculpe, querida... Mas o teu destino foi selado por ti mesma. Ninguém mandou se meter comigo. Era pra ti ficar caladinha. Se eu tentei matar o Flávio não é da tua conta. A tua vida ia ser desgraçada de qualquer jeito, tu nasceu pra perder.
    -Eu vou gritar!
    -Grita, Olívia. Grita!
    Laura atira no peito de Olívia, que cai no rio. FIM DO CAPÍTULO 12.