CAPÍTULO 106 - PENÚLTIMO CAPÍTULO

         CENA 1: André procura confirmar a notícia.

         -Você tem certeza do que está dizendo? Digo... não que eu esteja questionando a competência de vocês, mas você sabe... esse Leonardo é conhecido por ser muito esperto ao planejar fugas.

         -Sim, André. Mas pense que ele não teria como planejar nada diante do vão móvel da ponte se elevando e tomando a atitude mais burra de se jogar dali. Na verdade, trabalhamos com a hipótese de suicídio, por qual motivo, não sabemos...

         -Mas eu posso imaginar, investigador Saldanha. Leonardo certamente preferiria a morte a se entregar de bandeja para a polícia.

         -Faz sentido. De qualquer forma, tu já sabe como dar a notícia para tua esposa?

         -Vou descobrir como, ela acabou de acordar. Bom dia, Saldanha!

         André desliga o telefone. Ernestina anda sonolenta em direção à cozinha e Veridiana levanta-se logo depois. André se enche de coragem e vai conversar com as duas.

         -Bom dia, queridas!

         -Bom dia, amor... - fala Ernestina.

         -Bom dia, pai. - fala Veridiana.

         -Bem, queridas... eu tenho algo a dizer pra vocês... o investigador Saldanha acabou de falar comigo sobre as buscas pelo Leonardo e... olha, eu nem sei por onde começar, Tina...

         -Pelo começo, oras! Imagino o que seja, André. Constataram que Leonardo realmente morreu, não foi isso?

         -Foi. Eu sinto muito.

         Veridiana vibra.

         -Finalmente livres daquele psicopata!

         -Não fala assim, Diana! Se esqueceu que a Tina é mãe dele?

         -Quem, eu? Eu deixei de ter filho no momento que o reneguei por todas as atrocidades que ele fez. Quando ele atirou no Miguel eu cheguei ao meu limite. Pra não morrer de dor, preferi renegar. Honestamente, me sinto até aliviada de ele ter tido a morte confirmada.

         -Mas o corpo dele não foi encontrado, querida...

         -E daí? Talvez tenha sido até melhor assim. Pelo menos ele foi levado pra longe, tragado pelas águas, traído pela própria prepotência de desafiar a Deus! Me recuso a ficar de luto por ele. Fico triste? Evidente que fico, mas já sofri demais nos últimos tempos por causa dele e hoje entendo que dei o meu melhor por um filho que nunca soube retribuir absolutamente nada do que eu fiz por ele. A vida segue.

         Ernestina começa a chorar e é amparada por André e Veridiana. CORTA A CENA.

         CENA 2: Lucas e Rômulo tocam a campainha da casa de Sônia e são atendidos por ela.

         -Bom dia, queridos! Caíram da cama, foi?

         -Sabe como é... a gente não conseguiu descansar muito depois de visitar vocês no hospital e depois, você sabe que não apenas por ter sido namorado do Miguel no passado, mas principalmente por ele ser meu melhor amigo, toda essa situação mexeu demais comigo... - fala Rômulo.

         -E o Flávio? - pergunta Lucas.

         -Tá dormindo ainda. Esperem aqui na sala que eu vou acordar ele.

         Instantes depois, Flávio desce à sala e fica muito feliz de ver Lucas e Rômulo ali.

         -Queridos! Que bom ver vocês aqui tão cedo... não precisava!

         -Claro que precisava! Ficamos preocupadíssimos com a saúde do Miguel e em como tu tá reagindo a tudo isso... - fala Lucas.

         -Vocês querem ir com a gente até o hospital? A gente vai pra lá daqui uma meia hora...

         Flávio mal termina de falar e o telefone de sua casa toca.

         -Só um momentinho, queridos...

         Flávio atende.

         -Alô. Oi, André!

         -Tá sentado, Flávio?

         -Não, por que?

         -Então senta porque a morte do Leonardo foi confirmada pelos investigadores responsáveis pelas buscas no rio Guaíba.

         Flávio suspira aliviado.

         -Pelo menos uma notícia boa no meio de tanta coisa que aconteceu... muito obrigado por ter ligado.

         -Disponha!

         Flávio desliga visivelmente aliviado. Lucas, Rômulo e Sônia o olham curiosos.

         -O que foi? - pergunta Rômulo.

         -Leonardo tá oficialmente morto!

         Todos ficam aliviados. CORTA A CENA.

         CENA 3: Flávio, Sônia, Rômulo e Lucas chegam ao hospital. Ao avistarem doutor Otacílio, tentam falar com ele, mas ele passa reto, o que lhes causa estranheza. Matheus, que acaba de chegar no hospital, os vê.

         -Já tão cedo aqui, gente? Bom dia!

         -Viemos saber notícias do Miguel em tempo real, mas o Doutor Otacílio passou batido pela gente... - queixa-se Flávio.

         -Calmem, queridos. Às vezes ele é assim mesmo, pilhadão. Mas eu vou ali falar com ele rapidamente e já venho, tudo bem?

         Todos assentem com a cabeça e Matheus vai até a ala onde Otacílio trabalha.

         -Alguém viu o doutor Otacílio por aqui?

         -Ele passou voado para a sala de cirurgia, parece que aquele rapaz do tiro teve uma hemorragia repentina no coração e foi levado às pressas pra uma cirurgia de emergência... - fala a enfermeira.

         Matheus, atordoado, vai novamente à sala de espera onde Flávio, Lucas, Rômulo e Sônia estão.

         -Gente, o que eu tenho pra dizer não é uma boa notícia.

         -Fala logo, tou ficando aflito! - fala Rômulo.

         -Miguel teve uma inesperada hemorragia no coração e foi encaminhado para numa nova cirurgia de emergência.

         Flávio desmaia e é acudido por Sônia. CORTA A CENA.

         CENA 4: Doutor Otacílio e sua equipe de cirurgiões tentam conter a todo custo a hemorragia no coração de Miguel. Quando a hemorragia parece ter cedido, a pulsação de Miguel cai a 0.

         -Doutora Bruna, prepare o desfibrilador enquanto eu realizo massagem cardíaca no paciente!

         A médica começa a preparar o desfibrilador. Instantes depois, ela sinaliza que o equipamento está pronto para ser utilizado em Miguel.

         -Preparar... vai!

         Miguel segue sem batimentos.

         -Mais uma vez, doutora Bruna! - solicita Otacílio.

         A médica repete o procedimento e novamente não se obtém sucesso.   Os médicos se olham com preocupação. CORTA A CENA.

         CENA 5: Miguel se vê transportado para fora de seu próprio corpo e assiste às tentativas dos médicos de reanimá-lo. Ele vai se afastando de tal maneira que consegue enxergar o fio do seu espírito saindo de sua cabeça física e se unindo ao seu corpo fluídico. De repente, ele sente alguém pegar em suas mãos. Ao virar-se para trás, vê um homem.

         -Quem é você?

         -Sou um amigo que quer te ajudar.

         -Posso saber seu nome pelo menos?

         -É Virgílio. Confie em mim, eu tenho que te levar a um lugar.

         Miguel sente confiança nas palavras de Virgílio e se deixa levar por ele. Os dois volitam pela cidade até chegarem em um lugar inundado pela luz violeta.

         -Que lugar é esse?

         -Você já vai saber, Miguel. Mas primeiramente... você lembra do que viu naquela ocasião que, junto do teu amado, foste fazer o procedimento de regressão, não lembra?

         -Tou lembrando sim... aliás... você! Você apareceu nela! Você foi a Laura na última encarnação!

         -Ei, se acalme! Vim aqui te mostrar coisas lindas! Não precisa ter medo de mim! Passei um longo tempo a me redimir e hoje só desejo consertar os males que causei em minhas vidas com o amor que existe dentro de mim...

         -Eu sinto esse amor saindo de você, Virgílio, mas... longo tempo? Vá me desculpar, mas há questão de meses atrás, te identificavas ainda como Laura e causaste o caos na vida do Flávio...

         -Tolo. Não entendeste ainda que o tempo é uma grande ilusão? O tempo da Terra não é o tempo espiritual. Confie em mim. Concentre-se agora que você vai começar a ver coisas lindas nesse lugar!

         Miguel, já concentrado, começa a visualizar vários momentos marcantes e pontuados pelo amor em sua vida. CORTA A CENA.

         CENA 6: Flávio desperta do seu desmaio.

         -Como se sente, meu filho? - pergunta Sônia.

         -Cadê o Matheus? Preciso falar com ele...

         -Ele não pode ficar aqui, tem que começar o dia de trabalho dele...

         Flávio procura manter a tranquilidade, surpreendendo a Rômulo e a Lucas.

         -Tá tudo bem mesmo, meu amigo? - pergunta Lucas.

         -Vai ficar. Precisamos nos concentrar em oração. Vocês acreditam na força da prece, não acreditam? - fala Flávio.

         -Mas a gente precisa avisar os pais do Miguel...

         -Não. Não vamos avisar. Por favor, eu imploro a vocês! Vamos todos dar as mãos e orar!

         Rômulo, Lucas e Sônia dão as mãos a Flávio e são contagiados pela fé dele. CORTA A CENA.

         CENA 7: Miguel está fortemente emocionado após assistir aos momentos marcantes de sua vida e Virgílio o abraça. Ao longe, se vê Lísias aproximando-se dos dois e estendendo suas mãos sobre eles.

         -Estão vendo, queridos? Todas as respostas, todas as soluções para problemas aparentemente insolúveis está no amor! Não há sentimento de rancor ou qualquer outro de frequência negativa que resista ao poder curativo que o amor exerce nas nossas almas imperfeitas... - fala Lísias.

         -Quem é você? - pergunta Miguel.

         -As perguntas já serão respondidas. Antes, é preciso que vocês se olhem, no fundo dos olhos um do outro e possam assim, dizer o que o coração de vocês pede para que vocês digam. Vamos começar?

         Virgílio encara Miguel e vice-versa. Ambos começam a se encher de amor e ternura um pelo outro. Virgílio, já dominado por forte emoção, é o primeiro a falar.

         -Perdão, meu irmão, meu amigo! Hoje enxergo que nada do que fiz nas vidas pretéritas para prejudicar a ti e a tanta gente foi edificante para meu espírito... pelo contrário, passei tanto tempo estagnado no processo evolutivo que me convenci cegamente que não existia mais de uma chance... te agradeço por me ajudar a perceber essa beleza infinita do amor, da caridade, do bem, da paz... te amo, Miguel!

         Miguel, fortemente emocionado com as palavras de Virgílio, começa a falar.

         -Eu que te peço perdão, meu amigo! Peço-te perdão antes de mais nada por não ter sabido te perdoar enquanto fomos encarnados nas mesmas épocas. Peço perdão pelo ódio cego que senti de ti ao te conhecer quando foste Laura... o fato de teres ceifado minha vida terrena uma vez não serve de justificativa para a má vontade que tive contigo ao longo de tantas existências na Terra. Tu me perdoas por ter te negado amor e ajuda?

         Os dois se abraçam fortemente e seguem de mãos dadas.

         -Irmãos? - pergunta Miguel.

         -Se prepare para nunca mais sair do meu lado nas próximas encarnações, meu querido! - fala Virgílio, emocionado.

         Lísias começa a falar.

         -Agora vocês já se redimiram e podem resgatar pelo amor o que foi deixado interrompido há muitas existências atrás, que vocês ainda nem lembram. Chegará o dia que vocês entenderão que sempre foram irmãos de alma.

         Miguel olha atentamente para Lísias e começa a reconhecê-lo.

         -Ei, estou te reconhecendo! Como é seu nome?

         -Lísias.

         -Curioso... não lembro de você como Lísias...

         -Sei que não. Na última encarnação fui Antônio, teu sogro.

         Os três se abraçam emocionados.

         -Queria ficar aqui com vocês... - fala Miguel.

         -Vai chegar o momento... mas não agora... - fala Lísias. CORTA A CENA.

         CENA 8: Ainda concentrados em oração, Flávio, Rômulo, Sônia e Lucas são interrompidos com a chegada de doutor Otacílio.

         -Vocês são os parentes do paciente Miguel Dietrich, certo?

         Os quatro saem do estado de oração.

         -E então, doutor Otacílio? O Miguel vai sobreviver? - pergunta Flávio. FIM DO CAPÍTULO 106.