CENA 1: André percebe do outro lado da
linha que Sônia ficou apavorada e procura tranquilizá-la.
-Fique calma, dona Sônia.
-Calma? Como é que tu me pede calma me
dizendo uma coisa horrível dessas? Eu simplesmente não vou ter coragem de
contar isso pro meu filho e pro meu genro, eles estão tão aliviados por terem
se livrado de tudo! Poxa, como é que isso foi acontecer, meu Deus?
-Você vai precisar contar isso a eles,
Sônia. É importante que eles saibam para que inclusive possam se precaver!
-Mas André, como é que eu vou simplesmente
chegar neles e falar que o algoz deles tá à solta? Justo agora que eles estão
relaxados? Não é justo!
-Está certo. A senhora tem até a
noitinha para contar para eles, caso contrário eu mesmo vou até a casa de vocês
e conto tudo a eles, está me ouvindo, dona Sônia?
-Não tenho saída, né?
-Na verdade não. Como autoridade, é meu
dever alertar as possíveis vítimas...
-Como é que o desgraçado escapou?
-Foi ardiloso, viu? Como você deve
saber, as transferência para o PASC acontece sob forte escolta, né? O que o
pessoal encarregado da escolta não se deu conta, é que eles estavam diante de
uma mente perigosamente brilhante. Ele simulou estar passando mal quando
estavam quase chegando a Charqueadas, com direito a espumar e aparentar
convulsão. Levaram ele para um hospital nas proximidades e chegaram a dar baixa
nele, mas quando foram verificar como ele estava no quarto onde ele ficou
internado, tudo o que encontraram foram travesseiros. Não se sabe exatamente
por onde ele fugiu no hospital, mas sabemos que ele driblou todo o esquema da
escolta que acompanhava ele.
-Meu Deus! Estou horrorizada com a
perspicácia desse cara! Ele é um monstro!
-Prometa que vai contar aos rapazes até
o final do dia, Sônia.
-Tudo bem, eu prometo. De qualquer
maneira agradeço pela ligação, afinal tu não tem culpa disso...
-Estou cumprindo meu dever.
-Eu sei, querido. Tenha um bom dia, na
medida do possível.
-A senhora também.
Sônia desliga o telefone e senta-se no
sofá, aflita a pensar no que deve fazer. CORTA A CENA.
CENA 2: Veridiana está furiosa.
Henrique, André e Ernestina procuram deixá-la mais calma.
-Minha filha, não vai adiantar de nada
você ficar assim. - fala André.
-O teu pai tem razão, Diana. Essa
irritação toda não vai mudar absolutamente nada! - completa Henrique.
-Ah, é? Vocês falam tudo isso numa
calma, numa candidez... porque não foram vocês que tiveram fotos roubadas, não
foram difamados, não foram vítimas de crime de estelionato nenhum. Acho até
engraçado, pai, você ser espírita, passar direto falando de empatia e ser
incapaz de se colocar no meu lugar. Como é que vocês pensam que eu devo ficar
sabendo que esse canalha do Leonardo tá foragido de novo, hein? Que eu devo
fingir que nada aconteceu ou que eu devo me juntar com a turma dos ursinhos
carinhosos a cantar "como a vida é bela"?
Veridiana explode em choro de raiva,
sendo amparada por Ernestina.
-Eu sinto muito, minha querida, por
tudo que meu filho já te fez...
-Não peça desculpa, Tina, você não tem
culpa de nada, a culpa é toda do Leonardo. Vocês sabem o que mais me irrita
nisso? Essa sensação de impotência, de não poder fazer nada, de ver esse
desgraçado engabelando mais uma vez a polícia e até a justiça. E essa paz de
espírito que é roubada de mim toda vez que esse cara tá à solta...
-Mas Diana, tu não é alvo...
-Adianta não ser, Henrique? E os amigos
do meu pai, como é que ficam? Eles também são seus amigos, poxa! Você acha
mesmo que eu sofro só por mim?
-Acho que é melhor dar um calmante pra
ela... - fala Ernestina. CORTA A CENA.
CENA 3: Matheus e Fabiano acordam-se no
começo da tarde e vão para a sala assistir TV. Helena os cumprimenta.
-Boa tarde, dorminhocos!
Os dois riem.
-Dormiram bem, queridos?
-Sim, Helena. - fala Matheus.
-Tem como dormir mal ao lado desse
super-homem? - fala Fabiano.
-Que isso, amor?
-Ué, tou falando mentira? É médico, é o
homem mais fantástico que tive na vida, é de um coração do tamanho do mundo e
ainda brinca de ser herói nas horas vagas? O que é isso, senão um super-homem?
Devia te chamar de Clark Kent em vez de Matheus...
-Exagerado!
Os três riem. Fabiano prossegue a
falar.
-Aprendi muito desse exagero contigo! -
brinca Fabiano.
Os três seguem a assistir TV
tranquilamente, quando Fabiano é acometido novamente por um mau presságio.
Matheus percebe.
-O que foi, amor? Tá se sentindo bem?
-Não tou legal... de repente me deu um
aperto no peito, de novo...
-Tu não acha interessante a gente
procurar um psicólogo pra ti? Não entendo muito de psicologia, mas tou achando
que isso pode ser stress pós-traumático...
-É, quem sabe...
-Tá decidido. Segunda eu vou falar com
a Elisa sobre ti e te passar o que ela recomenda... CORTA A CENA.
CENA 4: Miguel e Flávio acordam-se e
fazem um lanche. Os dois estão conversando animadamente com Fernanda e Pâmela.
-Milagre as gurias terem dormido ao
mesmo tempo durante o dia, hein? - fala Miguel.
-Graças a Deus! Elas são uns amores,
mas dão um trabalho... - fala Pâmela.
-Ninguém disse que ser mãe seria mamão
com mel... - fala Fernanda.
-Mas posso falar? Não me vejo mais sem
elas, são tudo na minha vida! - fala Pâmela, enternecida. Sônia chega na sala e
junta-se a eles. Flávio percebe que sua mãe está com uma expressão tensa.
-Tá tudo bem contigo, mãe?
-Sim, Flávio. Por que?
-Te notei meio tensa.
-Besteira... - tenta despistar Sônia.
Fernanda, no entanto, também nota que sua mãe está escondendo alguma coisa.
-Olha, não quero ser invasiva, mas tu
parece estar escondendo alguma coisa, mãe...
-Deixa disso, Nanda! Devo ter dormido
menos do que precisava, só isso...
Sônia retira-se da sala e sobe ao seu
quarto. Ao sentar em sua cama, fala consigo mesma em voz alta.
-Como é que eu vou contar pra eles, meu
Deus? CORTA A CENA.
CENA 5: Poucas horas depois, Lucas e
Rômulo chegam à casa de Sônia pra visitar Flávio e Miguel. Os quatro estão
conversando no quarto de Flávio e Miguel enquanto Francisca e Murilo estão com
Sônia a cuidar deles.
-Nossa, vocês estão de parabéns pela
festa de ontem! Nem na noite do Rio de Janeiro vi algo parecido! - fala Rômulo.
-Obrigado! Mas quem merece mesmo os
parabéns é o Flávio, se não fosse a persistência dele, o La Fiesta não
existiria!
-Corta essa, amor! Se não fosse a tua
insistência eu não ia aceitar fazer a festa anos 90! Parabenizem o Miguel, isso
sim!
-Bem, enquanto vocês não se decidem
sobre isso, a gente parabeniza os dois e não se fala mais nisso! - brinca
Lucas.
-Também viemos aqui porque eu quero
falar com vocês sobre o meu projeto... bem, ele é um livro.
-Um livro, Rômulo? Nunca pensei que
tu... - fala Miguel, sendo interrompido pela fala de Rômulo.
-Nem eu pensava que levava jeito. Mas
tomei gosto pela coisa.
-E ele é dos bons viu? Não tou falando
isso por ser marido, não. Ele leva jeito mesmo! - fala Lucas.
-Bem, o que eu queria falar com vocês
sobre o livro é que ele trata de umas temáticas que podem ser meio
problemáticas de serem publicadas e...
Os quatro seguem a conversar. CORTA A
CENA.
CENA 6: Daniela, Bernardo, Antonella,
Sandra e Valdir estão a debater sobre qual é o melhor dia da outra semana para
a celebração do casamento simbólico de Sandra e Valdir.
-Mãe... eu tava pensando o seguinte
sobre a rotina do Miguel: na segunda ele e o Flávio tem a agenda atribulada por
conta do que é planejado na ONG às sextas, para divulgação na outra semana...
nas quartas e quintas, eles já começam a elaborar os detalhes da noite de sexta
no La Fiesta e o sábado também é dia que o La Fiesta abre. Sendo assim,
chegamos a um dia que eles ficam com tempo mais livre, disponível, que é
justamente na terça-feira. O que vocês acham?
Antonella se antecipa.
-Acho un dia lindo! E ustedes?
-Bem, me parece um bom dia. Afinal de
contas, coincidentemente foi numa terça feira que começamos a namorar quando
ainda éramos jovens, lembra Sandra?
-É mesmo, Valdir. Não tinha reparado
nesse detalhe. Sendo assim, acho que chegamos a uma decisão.
-Puedo confirmar?
-Deve, madrecita! - fala Daniela.
-Hoje tá meio tarde pra ir avisando o
pessoal, mas amanhã bem cedo podemos fazer isso... - fala Valdir. CORTA A CENA.
CENA 7: Flávio lembra que Fabiano esqueceu
de um álbum de família e resolve ligar para ele.
-Ué, que estranho. Carreguei meu
celular há dois dias e a bateria já morreu?
-Se tu quiser, te empresto o meu pra
ligar pro Fabiano... - fala Miguel.
Miguel pega seu celular e ele também
está desligado.
-Ih, peraí... o meu tá desligado
também.
-Deve ter sido mais uma crise de
sonambulismo tua, te conheço bem, Miguel...
Os dois ligam seus celulares e as
baterias não estão vazias.
-Na mosca, Flávio. Devo ter desligado
enquanto dormíamos.
Miguel nota uma chamada não atendida no
seu celular.
-Ih, ligação perdida do André...
Flávio se espanta.
-No meu também... que horas foi a tua
ligação?
-Por volta das dez e vinte da manhã...
-Mesmo horário que deu aqui. Será que o
André precisava falar alguma coisa séria com a gente?
-Acho que não, Flávio... senão ele
teria tentado falar com a gente de novo, ligado aqui pra casa...
-É verdade... bem, deixa eu ligar pro
Fabiano buscar o álbum de família dele. CORTA A CENA.
CENA 8: Meia hora depois, Fabiano já
está na casa em que morou, conversando com Flávio e Miguel.
-Nossa, primo. Obrigado por perceber
que eu tinha esquecido do álbum. Gosto de ter essa lembrança dos meus pais
comigo...
A campainha toca. Sônia intui que é
André e constata que protelou o dia inteiro contar a verdade a Flávio e a
Miguel. Sônia abre a porta e se depara com André, acompanhado de policiais.
Flávio, Miguel, Fernanda, Pâmela e Fabiano estranham a cena.
-O que tá acontecendo aqui? - pergunta
Fernanda.
-Bem... na verdade eu fiquei adiando o
dia inteiro contar uma coisa pra vocês, porque não tive coragem. Mas agora o
André já tá aí e é melhor ele mesmo dizer... - fala Sônia. Miguel sente que é
coisa séria e fica paralisado.
-Mas por que esses policiais aqui? -
questiona Fabiano.
-Para garantir a segurança dessa casa.
Vim aqui comunicar que Leonardo fugiu quando estava sendo transferido para
Charqueadas.
Todos ficam chocados. FIM DO CAPÍTULO
96.