CENA 1: Todos seguem na expectativa.
-Alô? - fala André.
-Boa noite, excelentíssimo André. Já
morreu de cansaço ou tu e as tuas moscas tontas de estimação continuam a
sobrevoar a merda à procura de ouro? Tá foda essa vida de detetive de porra
nenhuma, hein?
-Boa noite pra você também, Leonardo. O
que você quer me ligando?
-Vai fingir que não sabe? Honestamente
eu esperava bem mais da tua perspicácia, mas tou vendo que tu é um babaca
previsível mesmo. Essa tua atitude de fingir que não sabe que eu sequestrei o
Miguel e o bebê chorão é a coisa mais imbecil que existe! Eu sei que tu sabe, a
gente não tá numa novela mexicana pra ti ficar atuando porcamente dessa
maneira.
-Agradeço pelos elogios, Leonardo. Eu
realmente não fazia a mínima ideia de que o Miguel tinha sido sequestrado por
você...
-Ui, resolveu apelar pra ironia agora?
Patético isso aí, viu? Vai, chuta aí o motivo pelo qual tou te ligando, tu não
é o grande André da polícia federal que de tudo sabe? Então me prova!
-Pare com esses seus joguinhos
psicológicos, isso não vai nos levar a lugar algum, Leonardo. Sei perfeitamente
o motivo que te fez ligar pra cá: você não resiste à tentação de provocar
qualquer pessoa que você considere menos inteligente que você.
-Olha, ele também sabe analisar! Acho
até que tu tá na profissão errada, já experimentou abrir um consultório de
psicologia? Aposto que ia ter uma fila homérica de doido esperando para receber
a bênção do mestre salvador André Souza Mendes!
-Belo senso de humor, Leonardo, mas se
você se considera tão inteligente assim, por que tá perdendo tempo ligando para
um babaca previsível como eu, hein?
-Inteligente não, caríssimo André. Não
sou menos que genial, acima disso, sou todos os adjetivos possíveis! Tu não
entendeu ainda? Te liguei pra dizer que tu e as tuas mosquinhas pau mandado
nunca vão saber o meu paradeiro. Sabe o Miguel, sabe a miniatura de cruz-credo?
Nunca mais, babau, tchauzinho, so long, adieu...
-Se eu fosse você eu não teria tanta
certeza disso...
-Pois eu teria. Tu acha mesmo que eu
não sei que essa ligação tá sendo rastreada? Até nisso vocês foram
previsíveis... deixa eu adivinhar: tu e as tuas mosquinhas mortas chegaram à
brilhante conclusão de que eu não arriscaria ligar pra casa do Flávio de novo porque
as escutas estariam plantadas ali e aí, veja só o golpe de mestre, o genial
André teve a epifania de plantar as escutas na própria casa, porque lembrou que
o louco do Leonardo só tinha o número da casa como maneira de entrar em contato
com o bravíssimo policial federal que tudo encara e tudo resolve... sinto muito
em cortar o teu barato, mas sei que faltam trinta segundos pro rastreador pegar
de onde eu tou ligando, só que antes disso... três, dois, um... CABUM! Não foi
dessa vez, panaca!
Leonardo desliga.
-Droga! Esse filho da mãe é esperto
mesmo! CORTA A CENA.
CENA 2: Miguel começa a se assustar com
as atitudes de Leonardo, mas procura não demonstrar esse medo diante dele.
Murilo está chorando.
-Eu te falei que tu não podia ter dado
leite a ele e tu não me ouviu! Ele tá com suspeita de intolerância à lactose!
-Oh, que lástima! Mas pode deixar, não
vou matar o garoto... ou melhor: não vou matar a miniatura de maridinho
exemplar.
-Tu é patético, Leonardo.
-É mesmo? Não sou eu que tou de birra,
me negando a comer porque tem nojinho de comer como cachorro. Tu devia é me
agradecer por eu ter tido a consideração de ter comprado comida pra vocês. Já
pensou se eu deixasse vocês morrendo de fome ou se eu envenenasse a comida? Mas
não, eu tou respeitando a vida de vocês... até porque, enquanto o Flávio não
aparecer, a tua vida me é muito útil! Anda, come a comidinha, totó!
-Eu já disse que eu não vou comer, me
erra!
Leonardo se enfurece e chuta as
costelas de Miguel.
-Ou tu come como eu tou mandando ou eu
te acerto mais um desses, quer?
Miguel se submete à humilhação. CORTA A
CENA.
CENA 3: A noite passa e o dia amanhece.
Flávio, já acordado na casa de André, o aborda assim que ele acorda e vai até a
sala.
-André, eu tava pensando uma coisa.
-Diga...
-Tem um número de telefone pro qual o
Leonardo pode acabar ligando pra provocar sem suspeitar vagamente de que possa
estar sendo rastreado. Pode levar até dias, mas eu tenho certeza de que ele vai
acabar ligando pro Giordano, já que ele tem o número da casa dele, afinal eles
eram "grandes amigos", pelo menos o Giordano acreditou muito tempo
nisso.
-Você tem razão, Flávio. Só que aí
acabaríamos envolvendo mais gente nisso...
-Tou bem ciente disso, André. Só que
não acho que vá ser perigoso pra ninguém. As únicas pessoas que estão correndo
risco real nesse momento são o Miguel e o nosso filho...
-Pode ficar tranquilo. Vou passar essas
informações pra minha equipe ainda agora pela manhã e no mais tardar, até o
final do dia nós falamos com Giordano e Paulo, afinal vamos precisar da
autorização deles.
-Tenho certeza que o Giordano vai
concordar, ele tem raiva do Leonardo e tá chocadíssimo com esse sequestro. O
Paulo, imagino, não se oporia em momento algum...
-Está certo. Mas de qualquer maneira
preciso fazer o "protocolo". CORTA A CENA.
CENA 4: Horas depois, Flávio passa em
sua casa. Sônia o recebe com um abraço sentido.
-Meu filho... tu não dormiu de novo?
-Quase nada, mãe. Tá difícil pregar o
olho e descansar nessa incerteza de como as coisas vão acontecer... O Leonardo
tá completamente louco, mas um louco muito perigoso...
-Não sei o que te dizer, meu filho...
tou com o coração pequenininho...
-Não precisa me dizer nada, mãe. Só me
abraça forte.
Os dois se abraçam e choram.
-E a Fernanda? E a Pâmela? Cadê elas?
-Foram pra casa da tua avó, levaram as
meninas junto...
-Até a Chica?
-Claro... imagina expor uma criança que
nem sete anos tem ainda a toda uma tensão? Mesmo ela tendo experimentado toda
aquela tensão com a mãe biológica dela, não é justo permitir que ela passe por
nada parecido de novo...
-Por que tu não foi com elas, mãe?
Ficar só nesse casarão é ruim demais...
-E tu acha mesmo que eu ia deixar essa
casa vazia, sabendo que tu ia voltar e precisar de mim?
-Ah, mãe... só tu, mesmo...
-Deixei a água esquentando ainda agora.
Vou tomar um chá. Tu não quer um também? Quem sabe assim tu se acalme.
-Não, mãe. Obrigado. Se eu me acalmar
eu acabo dormindo. Mas aceito um café, se tiver café passado...
-Mas filho, tu já tá sobrecarregado!
-Mãe, por favor! Eu não me sinto no
direito de descansar... pelo menos o café vai me manter alerta...
-Tá bem... CORTA A CENA.
CENA 5: No Plano Espiritual, Lísias
nota que Virgílio manifesta significativa melhora e não o detém quando este se
acorda.
-Como se sente, Virgílio?
-Ainda meio fraco, mas não sinto aquela
raiva na alma...
-Se você quiser, posso lhe
acompanhar...
-Acompanhar para onde e para que?
-Venha comigo. Quero te mostrar um
pouco da nossa colônia. Aceita vir comigo?
Os dois passeiam pela colônia e
Virgílio senta-se na beira do lago, a olhar para o horizonte.
-O que te fez parar aqui?
-Essa beleza, Lísias... essa calma,
essa paz, essa sensação de amor brotando dentro de mim... queria poder ver a
Francisca, o Miguel, pedir perdão a eles, ao Flávio, a todos a quem já fiz mal.
-Ainda é muito cedo para certas coisas.
Mas estás num ótimo caminho, no caminho certo, eu diria...
-Não há nada que eu possa fazer pelo
Miguel? Sinto que ele está passando por momentos de muita angústia...
-Sim, ele está. Mas não acho uma boa
ideia você tentar ajudá-lo nesse momento, você ainda está muito fraco. Tem
certeza de que deseja ajudá-lo?
-Lísias, você pode até pensar que estou
me precipitando, mas sinto que ao reparar pelo menos parte dos erros que cometi
enquanto fui Laura, além de ajudar a quem já prejudiquei, isso vai poder me
beneficiar com paz de espírito, esse sentimento de amor que brota do fundo da
minha alma... eu quero esse amor, eu quero essa paz...
-Não esperava ouvir outra coisa de
você, Virgílio. Estou muito feliz que tenhas conseguido enxergar a beleza do
amor, da caridade, da paz... Venha comigo, nós temos ainda muito o que fazer...
Os dois seguem a passear pela colônia.
CORTA A CENA.
CENA 6: Já de noite, Matheus chega em
casa de seu trabalho, sendo recebido por Fabiano, Helena e Clara.
-Boa noite, queridos!
-Oi, amor... - fala Fabiano.
Helena nota que Matheus está agitado.
-Tou te sentindo agitado, Matheus... -
fala Helena.
-De certa maneira eu tou mesmo, Helena.
Andei pensando o dia todo nessa barbaridade toda do sequestro do Miguel...
caramba, o demente do Leonardo levou o Murilo junto... mal consegui focar nos
meus pacientes hoje...
-Mas Matheus... não podemos paralisar
nossa rotina por causa de tudo isso. Nem venha me acusar de insensível, porque
o Flávio é um dos meus melhores amigos, mas... - fala Clara.
-Mas amanhã é minha folga, gente. Tua
também, Clara. Por que a gente não pode procurar pelo menos dar um apoio moral
ao Flávio nesse momento? Se não podemos ajudar com investigação, pelo menos
vamos poder ajudar com nossa solidariedade a ele, vocês não acham?
-Acho justíssimo. Em nenhum momento
pensei em deixar meu primo só, ainda mais depois de ter sentido na pele a
loucura daquele Leonardo... me orgulho de ti, sabia, Matheus? - fala Fabiano.
-E o que tu sugere que façamos,
querido? - pergunta Helena.
-Primeiro, a gente vai na casa dele.
Afinal de contas, a mãe dele deve estar aflitíssima também...
Todos seguem a conversar. CORTA A CENA.
CENA 7: Com a madrugada já avançada,
Leonardo dorme enquanto Murilo também dorme na cama improvisada por ele. Miguel
acorda-se suando frio e sentindo mal-estar.
-Só o que me faltava ficar fraco
agora... não posso! - fala Miguel, para si mesmo.
Miguel tenta ignorar o mal estar e
voltar a dormir. Instantes depois, entretanto, Miguel começa a passar muito mal
e a vomitar, acordando Leonardo de seu sono.
-Puta que pariu! Resolveu dar piti
agora, Miguel?
Miguel não responde e permanece a suar
frio.
-O que eu faço contigo, cara?
Miguel começa a delirar.
-Flávio, vem cá ver o que o Murilo
falou...
Leonardo fica verdadeiramente
preocupado com o estado de saúde de Miguel. FIM DO CAPÍTULO 101.
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