CENA 1: Sônia pensa no pior e pega o
telefone na tentativa de estabelecer contato com a pessoa do outro lado da
linha, porém quando ela pega o telefone, Leonardo já desligou.
-Já desligaram. Deve ter sido um trote
de mau gosto que o Flávio caiu. Vamos, gurias, me ajudem a acordar ele!
Fernanda sente que é algo pior.
-Não acho que tenha sido trote, mãe. O
Miguel disse que demoraria, mas já devia estar aqui...
-Para, Nandinha! Não me deixa mais
nervosa! - fala Sônia
Flávio se acorda e começa a chorar
desesperadamente, sem conseguir dizer uma única palavra. Sônia fica
preocupadíssima.
-Fala, filho! O que tá acontecendo?
Flávio chora tanto que não consegue
falar uma única palavra. Fernanda percebe que algo grave está acontecendo.
-Pâmela, tu pode levar a Chica lá pra
cima contigo?
Pâmela entende que deve retirar
Francisca dali.
-Tudo bem... Vem comigo, querida?
-Vou sim, mas o que tá acontecendo? O
que o pai Flávio tem? Ele se machucou quando caiu?
-Calma, querida... é coisa de
adultos...
-Coisa de adultos, é sempre coisa de
adultos e eu nunca posso saber o que é que tá acontecendo, poxa!
-O Dionísio tá lá com as meninas, vamos
brincar com ele, querida, é melhor!
As duas sobem. Flávio consegue
recuperar a fala, mais calmo e chorando menos.
-O Leonardo, aquele desgraçado! Ele
sequestrou o Miguel e o Murilo tá junto!
Fernanda e Sônia desesperam-se, mas
procuram manter a firmeza para consolar Flávio. As duas, chorando, abraçam
Flávio.
-O que a gente vai fazer agora, meu
Deus? - pergunta Sônia.
-Queria tanto saber! - fala Fernanda.
Flávio lembra de André.
-Temos que comunicar o André e ele
mobiliza a equipe dele... - fala Flávio. CORTA A CENA.
CENA 2: A noite passa e o dia amanhece.
Flávio está em seu quarto com olheiras, dando a entender que passou a noite
inteira em claro. Flávio não se contém e tenta ligar para André em busca de
notícias.
-Droga... deve estar dormindo ainda.
Ai, meu Deus! Onde é que eles estão agora?
Flávio vai até o quarto de sua mãe,
onde dorme Francisca e a acorda cutucando suavemente.
-Mãe... acorda!
-O que foi, Flávio?
-Eu vou sair.
-Tu tá louco, filho? Tu viu que o dia
nem terminou de clarear? E depois, não é seguro sair sozinho com essa situação
toda acontecendo.
-E tu acha que eu vou ficar aqui
parado, mãe? Porra, meu marido e nosso filho foram sequestrados pelo doente do
Leonardo e tu acha que eu não vou fazer nada?
-Mas meu filho, o André já foi avisado
e... bem, é melhor a gente conversar lá fora.
Sônia sai do quarto e os dois descem
até a sala.
-Fala, mãe... o que tu ia me dizer?
-O André já comunicou a equipe dele e
eles estão em busca de pistas.
-Ah, ótimo! Se depender do Leonardo,
ele foge sem deixar nenhuma pista e eu tenho que ficar aqui parado esperando
que algum milagre aconteça? Ou tu prefere que a gente receba a notícia que o
meu marido e o teu neto morreram, hein?
-Não é assim também, filho...
-Então é como? Tu acha que eu tenho
cabeça pra tocar minha rotina e fingir que não tá acontecendo nada? Enquanto
eles não voltarem eu não tenho como ter vida. Ou tu aceita que eu preciso ir
atrás de qualquer informação que seja, ou então tu me prende aqui dentro dessa
casa, mas já vou te adiantando que vai ser uma tarefa bem difícil...
-Tenho escolha, Flávio? Faz o que tu
acha certo. Mas por favor, se cuida, meu filho! - implora Sônia. CORTA A CENA.
CENA 3: Miguel e Murilo estão em um
galpão abandonado pouco iluminado. Miguel está com as mãos e os pés amarrados e
Murilo com uma corrente presa a uma barra de ferro. Leonardo, que estava
dormindo, acorda-se.
-Dormiu bem, maridinho ideal? - debocha
Leonardo.
-O que tu acha?
-Ué, não gostou da bela mansão que eu
consegui pra gente? Tem até luz
natural, olha que luxo!
-Qual é o teu problema, Leonardo?
-Olha, problema eu não sei. Mas que com
certeza eu sou um gênio como poucos são, pra despistar esses policiais imbecis
sempre que eu posso, disso, meu caro, eu não tenho a mínima dúvida. Pra te
provar que eu posso ser bonzinho, vou até deixar as tuas mãos livres...
Leonardo desamarra as mãos de Miguel,
mas acorrenta seus pés firmemente e fecha a corrente com um cadeado.
-E aí, gostou da regalia? Aproveita,
viu? Comprei um monte de coisa pra mim, pra ti e pro maridinho mirim não
passarem fome. Mas não pensa que eu vou deixar tu fugir daqui...
-Quanto é que tu quer pra libertar a
gente, hein?
-Não quero dinheiro nenhum, bobinho! Tu
não entendeu ainda? Eu vou te matar! Só tou esperando a plateia chegar pra
assistir esse espetáculo!
-Do que tu tá falando, seu louco?
-Louco sim, mas inteligente como
ninguém! É simples, caro Miguel: A plateia a que me refiro é o Flávio! Eu sei
que ele é capaz de gostar de mim, ele vai dar o amor que eu mereço!
-Tu tá falando de merecimento a sério?
-Claro que tou! Eu sou o melhor pro
Flávio!
-Tu é doente...
-Olha, Miguel... a minha saúde anda melhor
que nunca, doente eu não sou!
-Tu entendeu o que eu disse...
-Não, não entendi! O Flávio tem que
gostar de mim como eu gosto dele! E também, essa vai ser a tua única chance de
sobrevivência, senão...
Leonardo faz sinal de decapitação com o
dedo no pescoço.
-Senão o que?
-Eu te mato, perdeu a memória? Tá com
Alzheimer, é? Senilidade precoce? A única maneira de eu te poupar desse triste
fim vai ser se ele aceitar ficar comigo, entendeu? Se ele não me quiser, tu
morre! É por isso que eu não quero porra de dinheiro nenhum. Tu não entendeu
ainda? Tu é a minha moeda de troca! Sou ou não sou um gênio? Mereço até
palmas... vamos, me aplaude, Miguel... eu tou mandando!
-Me recuso a te aplaudir, seu infeliz!
-Ah é? Então vai comer feito cachorro!
Leonardo amarra novamente as mãos de
Miguel, pega em sua mochila pratos, serve sua refeição matinal e a de Miguel,
colocando a sob o rosto de Miguel.
-Eu não tou com fome, tira isso daqui.
-Mas vai sentir. Quando sentir, já tem
a comidinha pra comer, totó! CORTA A CENA.
CENA 4: Fabiano está tomando café da
manhã com Matheus, Helena e Clara quando a campainha toca insistentemente.
Helena estranha.
-Vocês estão esperando alguém?
-Não... - fala Matheus, estranhando.
-Bem, se vocês não se incomodam, vou
abrir antes que meus tímpanos sangrem... - fala Fabiano.
Fabiano abre a porta e se depara com
Flávio ofegante.
-Flávio? O que foi?
-Preciso contar algo horrível pra
vocês! - fala Flávio entrando rapidamente na casa. Helena, Matheus e Clara se
preocupam.
-Fala logo o que é, Flavinho! - fala
Clara.
-O Miguel e o Murilo foram sequestrados
pelo Leonardo.
Fabiano fica apavorado e Matheus, Clara
e Helena, preocupados.
-Não pode ser... o Leonardo odeia o
Miguel, ele quer matar o Miguel! - exclama Fabiano.
-Como assim? - todos perguntam.
Fabiano começa a explicar. CORTA A
CENA.
CENA 5: Horas depois, Flávio vai,
acompanhado e amparado por Fabiano e Helena à casa de Daniela e Bernardo, falar
com Valdir e Sandra.
-Boa tarde, Flávio! Que surpresa te ver
aqui! Por que eles vieram junto? - fala Valdir, que estranha a presença de
Helena e Fabiano.
-A Sandra tá em casa? Nós precisamos
falar com vocês... - fala Flávio.
-Sim, ela deve estar saindo do banho
agora... - fala Valdir.
Poucos instantes depois, Sandra aparece
na sala.
-Flávio? Que bom que tu veio! Cadê o
Miguel? Boa tarde, Helena, boa tarde Fabiano... - fala Sandra.
-Queria ter vindo aqui pra dizer outra
coisa, queridos... vocês sabem como eu gosto de vocês, mas... infelizmente, não
trago notícias boas. Nada boas, na verdade... é que...
Flávio não consegue completar o que
diria e começa a chorar, sendo amparado por Helena. Sandra e Valdir ficam
assustados e preocupados.
-Alguém explica o que tá acontecendo
aqui, por favor? - fala Valdir.
-É o seguinte, gente... O Miguel e o
Murilo desapareceram... ahm, melhor dizendo... eles foram sequestrados pelo
Leonardo e nós não sabemos onde eles podem estar. - fala Fabiano.
-Isso é uma brincadeira, né? Ontem
mesmo eu falei com o Miguel, ele tava falando que o Murilo tava doentinho e
levou pro pediatra... peraí... o Murilo tava junto... não, não pode ser... meu
filho não!
Sandra se desespera. Valdir, mesmo
desesperado, busca amparar a esposa.
-O que nós podemos fazer, efetivamente?
- pergunta Valdir.
-Nós sentimos muito por dar essa
notícia a vocês. Mas se isso pode ajudar, eu tenho o telefone do André, que tá
comandando toda a investigação. Vocês podem pegar o número dele... - fala
Fabiano.
Flávio continua a chorar. Sandra e
Valdir, também desconsolados, o abraçam. CORTA A CENA.
CENA 6: Lucas e Rômulo estão terminando
o almoço quando o celular de Rômulo toca.
-Ih, amor... o Flávio ligando a essa
hora? Será que ele quer que a gente vá à JUPI hoje?
-Tu só vai saber atendendo, amor...
Rômulo atende.
-Fala, Flávio!
-Não é o Flávio, é o Fabiano...
-Oi, Fabiano... por que você tá falando
do celular dele?
-Ele não tá em condições de falar.
Honestamente, nem eu sei como dar essa notícia pra ti e pro Lucas...
-Fala, rapaz! Tá me deixando preocupado
aqui!
-Tudo bem, eu nem sei como começar a
dizer, mas o Miguel foi sequestrado com o Murilo, pelo Leonardo...
Rômulo fica perplexo, mas procura
manter a firmeza.
-Deus! Como foi acontecer uma coisa
dessas? Esse Leonardo é mesmo um louco! Com toda a polícia atrás dele, ele
ainda tem a ousadia de andar em campo minado!
-Não sabemos como se deu esse
sequestro, mas o fato é que não há testemunhas...
-Tudo bem. De qualquer forma, agradeço
pela consideração de me ligarem. Avise Flávio que eu e Lucas estamos torcendo
para que tudo termine da melhor maneira possível. Um abraço!
-Abraço!
Rômulo desliga o telefone e Lucas o
encara incrédulo.
-Deixa ver se eu ouvi direito... o
Miguel foi sequestrado por aquele demente e o bebê tá junto?
-Sim, amor...
Os dois dão as mãos, apreensivos. CORTA
A CENA.
CENA 7: Flávio está na casa de André,
na companha dele, de Ernestina, Veridiana e investigadores. André questiona a
vontade de Flávio permanecer ali.
-Você tem certeza que quer acompanhar
cada passo disso, Flávio?
-Como não teria, André? Aquele doente
sequestrou ao meu marido e ao nosso filho! E eu tenho mais motivos pra ficar
alerta depois que o Fabiano explicou cada detalhe do sequestro dele, sobre essa
obsessão absurda que o Leonardo tem com o Miguel. Eu quero poder ajudar de alguma
maneira, sei por exemplo que o que move grande parte das atitudes do Leonardo é
a vaidade...
-Eu sinto muito pelo que meu filho tá
fazendo com vocês... - lamenta Ernestina.
-Relaxa, Tina. A culpa não é tua. Mesmo
que tu tivesse falado desde sempre sobre tua transexualidade a ele, ele teria
se tornado exatamente a mesma pessoa, porque isso não depende da criação... -
fala Flávio.
-Querido, se tu quiser dormir aqui, tem
um quarto desocupado... - convida Ernestina.
-Obrigado. Mas acho que nem vou conseguir
pregar o olho enquanto o Miguel e o Murilo não voltarem... ei, André... que
aparelhos são esses ligados ao telefone?
-Você não disse que uma das
características do Leonardo é a vaidade? Pois então... disso eu e os
investigadores sabemos há muito tempo. De maneira que acreditamos que ele vá
acabar entrando em contato comigo, porque esse é o único número que ele tem de
acesso a mim. Você sabe que ele, ao ser movido por essa vaidade, acaba agindo
sadicamente, provocando a quem possa provocar, porque sabe que vai escapar.
Pelo menos, é o que ele pensa, porque com essa escuta aqui, duvido que ele
escape. Por isso os investigadores estão aqui com a gente. Ele se envaidece de
fugir do óbvio, então nós também fugimos do óbvio, porque ele deve estar
pensando que a escuta tá plantada na sua casa, não aqui...
-Entendi. Mas será mesmo que ele vai
ligar pra cá? Quer dizer... um louco como ele pode não ser tão previsível
assim, André...
-Vai por mim, Flávio. Ele tem padrões
comportamentais previsíveis...
O telefone toca e o visor do telefone
indica número de celular.
-Não disse? Nem terminei de falar e ele
ligou. Rapazes, liguem o rastreador.
-Será que é ele mesmo?
-Tenho certeza. Vai vendo...
André atende o telefone. Todos ficam na
expectativa. FIM DO CAPÍTULO 100.
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