CENA 1: Flávio segue transportado para
sua encarnação passada e ouve o homem que está com a arma apontada pra ele
dirigir-se a ele.
-Não me venha contar anedotas, Jesuíno.
Sei que vossa mercê anda armado. Pegue logo essa arma, estou a te desafiar!
-Esqueça disso, Virgílio. Podemos
resolver isso somente conversando. Não quero brigar, não sou um homem violento.
Por favor, abaixe essa arma.
Flávio então vê uma mulher que chora
apreensiva, mas logo é transportado para o momento que leva o tiro fatal.
Flávio solta um grito e Silvana percebe que é momento de chamá-lo de volta à
realidade.
-Tudo bem contigo, Flávio? Tuas mãos
ainda estão no peito. Sente alguma dor?
-Dona Silvana... um homem atirou em mim,
eu pude sentir o tiro...
-Ele foi fatal, Flávio?
-Não sei. Desculpe, não estou em
condições de falar agora.
-Percebo o teu choque. Se acalme,
querido. Feche os olhos que vou lhe aplicar um passe.
Silvana impõe as mãos sobre Flávio
enquanto ora.
-Melhor agora, Flávio?
-Sim. Mas preciso voltar pra casa...
-Está liberado.
Silvana abre a porta e Otília percebe
que o neto viu bastante coisa. Miguel fica apreensivo com a expressão lívida de
Flávio.
-Tá tudo bem contigo, amor?
-Não quero falar agora. Me levem pra
casa, por favor.
Os três despedem-se de Silvana, que
aborda novamente Flávio.
-Semana que vem tu pode voltar?
-Posso.
-Então venha. Sempre estou disponível
nesse horário. Vá na paz... CORTA A CENA.
CENA 2: Rômulo e Lucas chegam ao hospital
para darem baixa. Matheus os recebe.
-E aí, queridos! Preparados pra amanhã?
-Preparadíssimos! - fala Lucas.
-Preparadíssimos! - fala Lucas.
-E tu, Rômulo? Como é que tá esse
coração?
-Nunca pensei que pudesse salvar a vida
do Lucas de novo... não sei nem descrever a sensação...
-Eu imagino, Rômulo. Venham comigo que
eu vou dar entrada na baixa de vocês. Ah, consegui o mesmo quarto pra vocês,
fiz questão que vocês permaneçam juntos!
-Nossa, Matheus... cada vez mais me
convenço que ganhei um irmão. Jamais imaginei que um médico pudesse fazer tudo
isso por mim... - emociona-se Lucas. Matheus também se emociona.
-Também sinto assim, Lucas. Nossa
amizade vai pro resto da vida, pode ter certeza!
Rômulo e Lucas acompanham Matheus, que
dá entrada na baixa deles. Matheus os leva até o quarto.
-Bem, queridos... agora vocês devem
relaxar pro dia de amanhã. Daqui uma hora eu volto pra ver vocês. Se estiverem
nervosos, já trago um calmante leve pra vocês dormirem com tranquilidade, ok?
-Muito obrigado por tudo, Matheus. A
sua atenção tem sido fundamental, de verdade! Sei que o Lucas sempre quis
viver, mas tenho certeza que você fez ele ter muito mais força pra lutar...
-Até parece, Rômulo! Como se o amor de
vocês não fosse forte o suficiente.
-Sei que é. Mas sem ti, Matheus, teria
sido mais difícil... - fala Lucas.
-Bem, vou deixar vocês e cuidar de
outras coisas. Fiquem tranquilos, meus amigos... CORTA A CENA.
CENA 3: Otília acompanha Miguel e
Flávio até eles chegarem em casa.
-Vó, tu não vai ficar aqui com a gente
mais um pouco?
-Não, Flavinho... tá ficando tarde e o
Breno deve iniciar o evangelho no lar daqui uma meia hora... não gosto de
deixar ele sozinho nesse momento...
Os dois se despedem de Otília e entram
em casa. Flávio segue em silêncio até subirem ao quarto. Miguel resolve puxar
assunto.
-Tá se sentindo bem, amor?
-Tou exausto, Miguel. Exausto!
-Como foi lá, Flávio?
-Forte.
-Muito forte?
-Tu nem imagina o quanto...
-Viu muita coisa de alguma vida
passada?
-Vi sim. É tudo muito confuso na minha
lembrança porque o que vi foram fragmentos. Eu me chamava Jesuíno e levava um
tiro fatal de um homem chamado Virgílio. Era uma época muito distante, parecia
o Brasil colonial que a gente viu nas aulas de história, sabe?
-Sei. Engraçado tu dizer isso, teve uma
vez que tive um pesadelo que um homem chamado Virgílio tentava me atacar,
sexualmente falando.
-Tem tempo isso?
-Ih, muito tempo, Flávio. Eu era
adolescente ainda, nem te conhecia. Mas me marcou, sabe?
-Imagino... Mas ainda não entendi quem
era aquele cara. Tinha uma mulher também, que tava muito desesperada. Ainda não
entendi se essas pessoas estão hoje na minha vida, é tudo muito confuso
ainda... mas foi o suficiente pra entender que meu obsessor é aquele cara que
me matou...
-Tenho minhas suspeitas, Flávio. Mas
vamos esperar as outras sessões de regressão.
-Amor, tou quebrado... vamos dormir?
-Sim... CORTA A CENA.
CENA 4: Matheus vai verificar, uma hora
depois, se Rômulo e Lucas estão nervosos e os encontra dormindo tranquilamente.
-Maravilha... posso ir pra casa
descansar pra amanhã...
Matheus troca suas roupas e parte para
a casa de Clara. Ao chegar lá, encontra Fabiano prostrado no sofá, a assistir
TV.
-Oi Fabiano... cadê a Clara?
-Tá no banho, daqui a pouco tá aqui de
novo...
-Por que tu tá tão pra baixo assim?
Pensei que tu fosse ficar melhor depois daquela conversa que a gente teve...
-Não é fácil pra mim, Matheus... me
sinto culpado por ter planejado coisas tão baixas...
-Mas não executou nada. Não devia se
sentir culpado desse jeito.
-Acho melhor a gente mudar de assunto,
a Clara pode ouvir e eu não quero que ela saiba de nada...
-Tudo bem. E tenho ótimas notícias,
também...
-Sério? Me conta! Tou precisando ouvir
coisas boas mesmo, Matheus...
-Tu sabe que hoje foi a baixa do Lucas
e do Rômulo pra eles realizarem amanhã pela manhã o transplante de medula,
certo?
-Sei sim. O que tem de novidade nisso?
-Achei que eles iam ficar muito
nervosos, que precisariam de calmante pra poderem dormir com tranquilidade essa
noite. Tu não acha incomum eu estar em casa a essa hora no dia que antecede
tudo?
-Pois é, tu chegou cedo... por que?
-Quando fui olhar se os dois estavam
nervosos, encontrei os dois dormindo profundamente. Devem ter dormido logo
depois que os acomodei ali... Sinto que isso vai ser bem melhor, para amanhã,
sabe? Eles estarem assim, além de descansados, tranquilos...
-Isso é muito bom mesmo, de verdade...
-Mas não foi o suficiente pra te ver
sorrir... tu fica tão bonito sorrindo...
Clara chega na sala.
-Atrapalhei alguma coisa?
Matheus fica sem graça. CORTA A CENA.
CENA 5: Veridiana e Henrique chegam na
casa dela. Ernestina os recebe.
-Oi, queridos! O jantar tá pronto...
-Desculpa a demora, Tina... o Henrique
teve que ficar mais tempo ensaiando por exigência do vocalista...
-Tudo bem, queridos...
-Cadê o pai?
-Ele deve chegar daqui uma meia hora,
Diana... foi resolver uma investigação... segredo de justiça, até.
Henrique percebe que a expressão de
Ernestina mudou.
-Tá tudo bem contigo, dona Tina?
-Nada demais, Henrique...
-Não, Tina... pode confiar na gente. O
que tá acontecendo?
-É sobre meu filho, gente...
-Ué, mas ele não tá morto?
-Não... é sobre isso a investigação que
tá correndo em segredo de justiça. Quem morreu foi um outro rapaz. Mas
sinceramente, não sei se é bom meu filho estar vivo e solto ao mesmo tempo. É
quase certo que ele matou esse rapaz, que forjou toda a cena, entendem?
Veridiana fica chocada e preocupada.
Henrique nota a preocupação da namorada.
-Calma, amor... esse cara não vai fazer
nada com a gente...
-É, mas um dos crimes dele foi usar
minha imagem para inventar absurdos...
-Queridos, vamos comer logo que o
jantar vai esfriar... - fala Ernestina.
O clima permanece tenso. CORTA A CENA.
CENA 6: A noite passa e o dia amanhece.
Matheus está no hospital preparando Lucas e Rômulo.
-Estão prontos?
-Sim, Matheus... - responde Rômulo.
-Quanto tempo eu fico aqui ainda? -
pergunta Lucas.
-Tu fica mais seis dias, depois da alta
do Rômulo amanhã. É pra que eu possa acompanhar a evolução do teu quadro.
-E depois, Matheus? - pergunta Rômulo.
-Nos primeiros meses vai ser necessário
exames quinzenais pra verificar se a coisa tá evoluindo como esperado. Só vamos
poder afirmar que Lucas está curado depois de 6 meses. Ainda assim,
precisaremos fazer um acompanhamento, que vai durar 12 anos no total. A cada 4
anos farei uma punção da medula para verificar se está tudo ok. Passados esses
12 anos então teremos uma cura 100% garantida.
-É demorado tudo isso, Matheus... não
pensei que fosse tanto... - espanta-se Lucas.
-Mas é preciso para que tudo corra como
esperado. Tudo bem pra vocês?
-Se for para o bem do meu amor, tudo
ótimo... - fala Rômulo.
-Se preparem que o responsável pela
punção tá chegando... CORTA A CENA.
CENA 7: No vale dos suicidas, Laura
está cada vez mais movida pela fúria de estar novamente sozinha, depois da
partida de Marcos.
-Foda-se essa merda toda, vou fazer
essa porra toda sozinha e matar aquele infeliz de novo!
Laura não percebe que suas feições
ficam cada vez mais masculinas, semelhantes à sua existência como Virgílio.
Forças sinistras tomam conta dela e do que a rodeia. Porém, uma luz começa a se
formar mais ao longe, onde se pode ver espíritos elevados buscando intuir Laura
de pensamentos mais nobres. Laura inicialmente ignora, mas logo consegue ouvir.
"Lembre-se do amor de
Francisca"
Laura chora de saudades da filha. Porém
não é suficiente para que ela desista de destruir Flávio, embora Laura não
perceba estar naquele momento enfraquecida. CORTA A CENA.
CENA 8: Flávio ainda está dormindo e a
câmera foca nele e no sonho que ele está tendo. No que vai se revelando aos
poucos pesadelo, Flávio vê fragmentos do dia em que Laura o sequestrou e acabou
por morrer no incêndio do ginásio para onde ela levou todos. Flávio observa a
cena de destruição promovida por Laura e o rosto dela aparece a repetir
insistentemente: "Quem disse que eu terminei isso? Vou acabar contigo,
Flávio, pode esperar!"
Flávio acorda desesperado com um grito
e percebe que Miguel não está ali. Francisca e Murilo seguem dormindo. Miguel,
que estava na cozinha preparando um café da manhã para os dois, ouve o grito de
Flávio e interrompe imediatamente o que estava fazendo, correndo até o quarto.
-O que foi, amor?
-A Laura! Ela apareceu no meu sonho!
Miguel sente um arrepio sinistro.
-Como foi isso? O que ela fez?
-Ela disse que não tinha acabado com
tudo, que ia me destruir, acabar comigo... algo assim... fiquei apavorado,
Miguel, de verdade...
Miguel abraça Flávio com força.
-Fica firme e confia que tudo vai ficar
bem, a gente vai superar essas coisas.
Flávio e Miguel sentem, de repente, o
mesmo cheiro de queimado do dia em que o ginásio pegou fogo.
-Tu tá sentindo esse cheiro de
queimado, Flávio?
Flávio fica surpreso com Miguel e
responde, atônito.
-Sim... o mesmo cheiro daquele dia...
Miguel conclui, aterrorizado.
-É ela, essa vadia! É ela que tá
tentando acabar com a gente! FIM DO CAPÍTULO 70.