quinta-feira, 31 de julho de 2014

CAPÍTULO 70




         CENA 1: Flávio segue transportado para sua encarnação passada e ouve o homem que está com a arma apontada pra ele dirigir-se a ele.
         -Não me venha contar anedotas, Jesuíno. Sei que vossa mercê anda armado. Pegue logo essa arma, estou a te desafiar!
         -Esqueça disso, Virgílio. Podemos resolver isso somente conversando. Não quero brigar, não sou um homem violento. Por favor, abaixe essa arma.
         Flávio então vê uma mulher que chora apreensiva, mas logo é transportado para o momento que leva o tiro fatal. Flávio solta um grito e Silvana percebe que é momento de chamá-lo de volta à realidade.
         -Tudo bem contigo, Flávio? Tuas mãos ainda estão no peito. Sente alguma dor?
         -Dona Silvana... um homem atirou em mim, eu pude sentir o tiro...
         -Ele foi fatal, Flávio?
         -Não sei. Desculpe, não estou em condições de falar agora.
         -Percebo o teu choque. Se acalme, querido. Feche os olhos que vou lhe aplicar um passe.
         Silvana impõe as mãos sobre Flávio enquanto ora.
         -Melhor agora, Flávio?
         -Sim. Mas preciso voltar pra casa...
         -Está liberado.
         Silvana abre a porta e Otília percebe que o neto viu bastante coisa. Miguel fica apreensivo com a expressão lívida de Flávio.
         -Tá tudo bem contigo, amor?
         -Não quero falar agora. Me levem pra casa, por favor.
         Os três despedem-se de Silvana, que aborda novamente Flávio.
         -Semana que vem tu pode voltar?
         -Posso.
         -Então venha. Sempre estou disponível nesse horário. Vá na paz... CORTA A CENA.

         CENA 2: Rômulo e Lucas chegam ao hospital para darem baixa. Matheus os recebe.
         -E aí, queridos! Preparados pra amanhã?
         -Preparadíssimos! - fala Lucas.
         -E tu, Rômulo? Como é que tá esse coração?
         -Nunca pensei que pudesse salvar a vida do Lucas de novo... não sei nem descrever a sensação...
         -Eu imagino, Rômulo. Venham comigo que eu vou dar entrada na baixa de vocês. Ah, consegui o mesmo quarto pra vocês, fiz questão que vocês permaneçam juntos!
         -Nossa, Matheus... cada vez mais me convenço que ganhei um irmão. Jamais imaginei que um médico pudesse fazer tudo isso por mim... - emociona-se Lucas. Matheus também se emociona.
         -Também sinto assim, Lucas. Nossa amizade vai pro resto da vida, pode ter certeza!
         Rômulo e Lucas acompanham Matheus, que dá entrada na baixa deles. Matheus os leva até o quarto.
         -Bem, queridos... agora vocês devem relaxar pro dia de amanhã. Daqui uma hora eu volto pra ver vocês. Se estiverem nervosos, já trago um calmante leve pra vocês dormirem com tranquilidade, ok?
         -Muito obrigado por tudo, Matheus. A sua atenção tem sido fundamental, de verdade! Sei que o Lucas sempre quis viver, mas tenho certeza que você fez ele ter muito mais força pra lutar...
         -Até parece, Rômulo! Como se o amor de vocês não fosse forte o suficiente.
         -Sei que é. Mas sem ti, Matheus, teria sido mais difícil... - fala Lucas.
         -Bem, vou deixar vocês e cuidar de outras coisas. Fiquem tranquilos, meus amigos... CORTA A CENA.

         CENA 3: Otília acompanha Miguel e Flávio até eles chegarem em casa.
         -Vó, tu não vai ficar aqui com a gente mais um pouco?
         -Não, Flavinho... tá ficando tarde e o Breno deve iniciar o evangelho no lar daqui uma meia hora... não gosto de deixar ele sozinho nesse momento...
         Os dois se despedem de Otília e entram em casa. Flávio segue em silêncio até subirem ao quarto. Miguel resolve puxar assunto.
         -Tá se sentindo bem, amor?
         -Tou exausto, Miguel. Exausto!
         -Como foi lá, Flávio?
         -Forte.
         -Muito forte?
         -Tu nem imagina o quanto...
         -Viu muita coisa de alguma vida passada?
         -Vi sim. É tudo muito confuso na minha lembrança porque o que vi foram fragmentos. Eu me chamava Jesuíno e levava um tiro fatal de um homem chamado Virgílio. Era uma época muito distante, parecia o Brasil colonial que a gente viu nas aulas de história, sabe?
         -Sei. Engraçado tu dizer isso, teve uma vez que tive um pesadelo que um homem chamado Virgílio tentava me atacar, sexualmente falando.
         -Tem tempo isso?
         -Ih, muito tempo, Flávio. Eu era adolescente ainda, nem te conhecia. Mas me marcou, sabe?
         -Imagino... Mas ainda não entendi quem era aquele cara. Tinha uma mulher também, que tava muito desesperada. Ainda não entendi se essas pessoas estão hoje na minha vida, é tudo muito confuso ainda... mas foi o suficiente pra entender que meu obsessor é aquele cara que me matou...
         -Tenho minhas suspeitas, Flávio. Mas vamos esperar as outras sessões de regressão.
         -Amor, tou quebrado... vamos dormir?
         -Sim... CORTA A CENA.

         CENA 4: Matheus vai verificar, uma hora depois, se Rômulo e Lucas estão nervosos e os encontra dormindo tranquilamente.
         -Maravilha... posso ir pra casa descansar pra amanhã...
         Matheus troca suas roupas e parte para a casa de Clara. Ao chegar lá, encontra Fabiano prostrado no sofá, a assistir TV.
         -Oi Fabiano... cadê a Clara?
         -Tá no banho, daqui a pouco tá aqui de novo...
         -Por que tu tá tão pra baixo assim? Pensei que tu fosse ficar melhor depois daquela conversa que a gente teve...
         -Não é fácil pra mim, Matheus... me sinto culpado por ter planejado coisas tão baixas...
         -Mas não executou nada. Não devia se sentir culpado desse jeito.
         -Acho melhor a gente mudar de assunto, a Clara pode ouvir e eu não quero que ela saiba de nada...
         -Tudo bem. E tenho ótimas notícias, também...
         -Sério? Me conta! Tou precisando ouvir coisas boas mesmo, Matheus...
         -Tu sabe que hoje foi a baixa do Lucas e do Rômulo pra eles realizarem amanhã pela manhã o transplante de medula, certo?
         -Sei sim. O que tem de novidade nisso?
         -Achei que eles iam ficar muito nervosos, que precisariam de calmante pra poderem dormir com tranquilidade essa noite. Tu não acha incomum eu estar em casa a essa hora no dia que antecede tudo?
         -Pois é, tu chegou cedo... por que?
         -Quando fui olhar se os dois estavam nervosos, encontrei os dois dormindo profundamente. Devem ter dormido logo depois que os acomodei ali... Sinto que isso vai ser bem melhor, para amanhã, sabe? Eles estarem assim, além de descansados, tranquilos...
         -Isso é muito bom mesmo, de verdade...
         -Mas não foi o suficiente pra te ver sorrir... tu fica tão bonito sorrindo...
         Clara chega na sala.
         -Atrapalhei alguma coisa?
         Matheus fica sem graça. CORTA A CENA.

         CENA 5: Veridiana e Henrique chegam na casa dela. Ernestina os recebe.
         -Oi, queridos! O jantar tá pronto...
         -Desculpa a demora, Tina... o Henrique teve que ficar mais tempo ensaiando por exigência do vocalista...
         -Tudo bem, queridos...
         -Cadê o pai?
         -Ele deve chegar daqui uma meia hora, Diana... foi resolver uma investigação... segredo de justiça, até.
         Henrique percebe que a expressão de Ernestina mudou.
         -Tá tudo bem contigo, dona Tina?
         -Nada demais, Henrique...
         -Não, Tina... pode confiar na gente. O que tá acontecendo?
         -É sobre meu filho, gente...
         -Ué, mas ele não tá morto?
         -Não... é sobre isso a investigação que tá correndo em segredo de justiça. Quem morreu foi um outro rapaz. Mas sinceramente, não sei se é bom meu filho estar vivo e solto ao mesmo tempo. É quase certo que ele matou esse rapaz, que forjou toda a cena, entendem?
         Veridiana fica chocada e preocupada. Henrique nota a preocupação da namorada.
         -Calma, amor... esse cara não vai fazer nada com a gente...
         -É, mas um dos crimes dele foi usar minha imagem para inventar absurdos...
         -Queridos, vamos comer logo que o jantar vai esfriar... - fala Ernestina.
         O clima permanece tenso. CORTA A CENA.

         CENA 6: A noite passa e o dia amanhece. Matheus está no hospital preparando Lucas e Rômulo.
         -Estão prontos?
         -Sim, Matheus... - responde Rômulo.
         -Quanto tempo eu fico aqui ainda? - pergunta Lucas.
         -Tu fica mais seis dias, depois da alta do Rômulo amanhã. É pra que eu possa acompanhar a evolução do teu quadro.
         -E depois, Matheus? - pergunta Rômulo.
         -Nos primeiros meses vai ser necessário exames quinzenais pra verificar se a coisa tá evoluindo como esperado. Só vamos poder afirmar que Lucas está curado depois de 6 meses. Ainda assim, precisaremos fazer um acompanhamento, que vai durar 12 anos no total. A cada 4 anos farei uma punção da medula para verificar se está tudo ok. Passados esses 12 anos então teremos uma cura 100% garantida.
         -É demorado tudo isso, Matheus... não pensei que fosse tanto... - espanta-se Lucas.
         -Mas é preciso para que tudo corra como esperado. Tudo bem pra vocês?
         -Se for para o bem do meu amor, tudo ótimo... - fala Rômulo.
         -Se preparem que o responsável pela punção tá chegando... CORTA A CENA.

         CENA 7: No vale dos suicidas, Laura está cada vez mais movida pela fúria de estar novamente sozinha, depois da partida de Marcos.
         -Foda-se essa merda toda, vou fazer essa porra toda sozinha e matar aquele infeliz de novo!
         Laura não percebe que suas feições ficam cada vez mais masculinas, semelhantes à sua existência como Virgílio. Forças sinistras tomam conta dela e do que a rodeia. Porém, uma luz começa a se formar mais ao longe, onde se pode ver espíritos elevados buscando intuir Laura de pensamentos mais nobres. Laura inicialmente ignora, mas logo consegue ouvir.
         "Lembre-se do amor de Francisca"
         Laura chora de saudades da filha. Porém não é suficiente para que ela desista de destruir Flávio, embora Laura não perceba estar naquele momento enfraquecida. CORTA A CENA.

         CENA 8: Flávio ainda está dormindo e a câmera foca nele e no sonho que ele está tendo. No que vai se revelando aos poucos pesadelo, Flávio vê fragmentos do dia em que Laura o sequestrou e acabou por morrer no incêndio do ginásio para onde ela levou todos. Flávio observa a cena de destruição promovida por Laura e o rosto dela aparece a repetir insistentemente: "Quem disse que eu terminei isso? Vou acabar contigo, Flávio, pode esperar!"
         Flávio acorda desesperado com um grito e percebe que Miguel não está ali. Francisca e Murilo seguem dormindo. Miguel, que estava na cozinha preparando um café da manhã para os dois, ouve o grito de Flávio e interrompe imediatamente o que estava fazendo, correndo até o quarto.
         -O que foi, amor?
         -A Laura! Ela apareceu no meu sonho!
         Miguel sente um arrepio sinistro.
         -Como foi isso? O que ela fez?
         -Ela disse que não tinha acabado com tudo, que ia me destruir, acabar comigo... algo assim... fiquei apavorado, Miguel, de verdade...
         Miguel abraça Flávio com força.
         -Fica firme e confia que tudo vai ficar bem, a gente vai superar essas coisas.
         Flávio e Miguel sentem, de repente, o mesmo cheiro de queimado do dia em que o ginásio pegou fogo.
         -Tu tá sentindo esse cheiro de queimado, Flávio?
         Flávio fica surpreso com Miguel e responde, atônito.
         -Sim... o mesmo cheiro daquele dia...
         Miguel conclui, aterrorizado.
         -É ela, essa vadia! É ela que tá tentando acabar com a gente! FIM DO CAPÍTULO 70.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

CAPÍTULO 69




         CENA 1: Matheus procura tranquilizar Miguel.
         -Se acalma, Miguel. Ele tá sendo atendido, vai ficar bem.
         -Mas como que ele foi entrar em coma alcoólica?
         -Aparentemente bebeu demais.
         -Tou indo praí agora mesmo!
         Miguel escreve rapidamente um bilhete para Sônia e deixa sobre a mesa da cozinha. Assim que o deixa, Miguel pega sua moto e parte em direção ao pronto-socorro. Chegando lá, avista Matheus.
         -Onde é que tá ele, Matheus?
         -Tá no quarto onde cuidam de intoxicados, já recebeu soro na veia e deve acordar logo.
         -Quero ver ele.
         -Ainda não, Miguel. Vamos esperar ele acordar.
         Miguel percebe que Fabiano está extremamente abalado.
         -Tudo bem contigo, Fabiano?
         Clara resolve falar.
         -Acho que ele tá traumatizado de ver tudo, normal...
         Matheus resolve falar também.
         -Vocês me dão licença? Vou pedir informações ao pessoal que tá cuidando dele.
         Instantes se passam e Matheus volta.
         -Podem vir, ele tá acordado. Bem grogue ainda, mas vai melhorar.
         Miguel chega ao quarto e fala com Flávio.
         -O que foi isso, amor? Como é que tu chegou a isso?
         -Que lugar é esse, Miguel? Como vim parar aqui?
         -Tu não lembra de nada?
         -A última coisa que lembro é da gente chegando no La Fiesta, sério.
         Miguel fica estarrecido ao compreender que Flávio agiu como agiu por estar completamente obsidiado. Flávio, ao perceber a expressão do marido, desespera-se.
         -Não sei o que fiz, mas seja o que for, eu não queria ter feito!
         Flávio começa a chorar e Miguel o abraça.
         -Eu sei disso, meu amor, sei muito bem disso... CORTA A CENA.

         CENA 2: No lado de fora do pronto-socorro, Matheus procura tranquilizar Fabiano.
         -Ei, Fabiano! Não precisa ficar assim desse jeito! Tá tudo bem agora com teu primo...
         -Me sinto culpado por isso, de verdade.
         -Não devia, querido. Tudo isso foi uma fatalidade que não tem nada a ver contigo.
         -Tem sim. Te explico isso com mais calma depois.
         Clara percebe que Fabiano não está em condições de voltar pra casa.
         -Fabiano, tu não quer vir com a gente pra minha casa hoje?
         -Não vou incomodar, Clara?
         -De jeito nenhum. Dá pra ver que tu tá muito abalado pra voltar pra casa. E eu vou gostar de te acolher nesse momento, aposto que o Matheus também vai.
         -Então vou aceitar. Preciso colocar a cabeça no lugar, me livrar um pouco dessa culpa que me sufoca...
         -Não entendo o motivo de tanta culpa, Fabiano...
         -Eu vou te explicar, Matheus, prometo que vou.
         -Não precisa me prometer nem se sentir pressionado a falar se não quiser dizer o que te abala tanto assim, de verdade. Só quero que tu fique bem, tá?
         -Também tou nessa, concordo com cada palavra que o Matheus disse. Acho que é bom a gente ir logo, porque tou ficando quebrada de sono.
         -Ainda bem que sou eu que tou dirigindo hoje... - descontrai Matheus.
         -Então vamos indo logo que tou precisando me atirar na cama... - completa Clara. CORTA A CENA.

         CENA 3: Alguns dias se passam e na tela aparece DIAS DEPOIS. Miguel chega do trabalho e encontra Flávio conversando animadamente com sua mãe.
         -Oi, queridos! Tudo tranquilo hoje?
         -Sim, Miguel. Mas é melhor deixar o Flávio falar...
         -Amor, depois de muito analisar eu sinto que tou sendo de alguma maneira obsidiado.
         -O que tu acha disso, Sônia?
         -Em outros tempos eu jamais concordadia, mas agora eu dou razão pro Flávio. Acho até que já passou da hora de vocês procurarem minha mãe e seu Breno.
         -Queria que a Nandinha fosse junto...
         -Ah, deixa ela e a Pâmela, filho! Elas estão curtindo as meninas que acabaram de nascer! Mas tenho certeza que elas vão estar a vibrar positivamente pra ti.
         -Tua mãe tem razão, amor. O que tu acha da gente ir na vó Otília agora?
         -Acho ótimo!
         -Então vamos. Tchau, Sônia.
         Minutos depois, os dois chegam na casa de Otília e seu Breno, que os recebem com um abraço.
         -Já sei o que traz vocês aqui, meus queridos... - fala Otília.
         -Bem, vou deixar vocês sozinhos, tudo bem? - fala Breno.
         -Tudo bem... - fala Flávio. Miguel começa a falar.
         -Vó Otília, aconteceu muita coisa ultimamente e tudo leva a crer que o Flávio tá obsidiado...
         -O que pode ser feito em relação a isso, vó? - pergunta Flávio.
         -Bem, primeiro a gente precisa entender onde tá a tua fraqueza, que permitiu que esse obsessor se aproximasse, depois a gente...
         Os três seguem conversando. CORTA A CENA.

         CENA 4: Fabiano, ainda hospedado na casa de Clara, está conversando com Matheus.
         -É semana que vem que tu volta de férias, né?
         -Sim, Fabiano. E logo que voltar já vou conduzir o transplante de medula do Lucas, não é fantástico?
         -Tu ama mesmo o que faz... é comovente ver isso...
         -Amo mesmo...
         -Sabe, acho que tá na hora de te explicar porque me sinto tão culpado por tudo que tá acontecendo com o Flávio...
         -Pode falar, não vou julgar.
         -É o seguinte: tu lembra do Leonardo, aquele louco que foi internado depois de enganar um monte de gente, né?
         -Lembro. Os rapazes me contaram tudo.
         -Pois então... eu fui apaixonado pelo Miguel, invejei o amor dele pelo Flávio...
         -Sério?
         -Sim. Daí que esse Leonardo se aproveitou da minha fragilidade, sei lá como percebeu, e me propôs um acordo, uma parceria... eu tava muito fragilizado, meus pais tinham morrido fazia muito pouco, então aceitei...
         -No que consistia essa parceria?
         -Basicamente nos unimos para minar o relacionamento dos dois, para que eu pudesse tomar o lugar do Flávio na vida do Miguel, ou até mais que isso. Leonardo tinha um empenho grande em destruir o Flávio, que nunca entendi direito, mas tínhamos interesses comuns. Só que quando eu soube de todos os crimes dele, da insanidade dele, comecei a repensar as coisas, percebi o tamanho da roubada que tava me metendo... sofri muito, me senti e ainda me sinto culpado. Hoje não quero mais o Miguel como homem, mas esse arrependimento não sai daqui de dentro, me machuca, sabe? Um dia fui avisar o Leonardo, no manicômio judiciário, que eu tava fora do plano. Ele me ameaçou, mas não levei a sério. Só que agora ele tá morto, eu deveria ter superado isso, mas não consigo... por favor, não me julga!
         -Eu te entendo, Fabiano. Sinto que tu é um cara do bem...
         -Mas eu me sinto sujo, mau... Fico com a impressão que meus desejos do passado acabam minando o relacionamento dos dois ainda e me sinto culpado por isso.
         -Não deveria, meu querido... Tu já se arrependeu... Sabe, às vezes acho que na realidade o Flávio tá obsidiado...
         -Não acredito muito em espiritismo, não sei o que pode ser, mas sinto essa culpa... me ajuda a superar?
         -Claro que sim...
         -Só promete que não conta pra ninguém, nem pra Clara?
         -Prometo.
         Os dois se abraçam. CORTA A CENA.

         CENA 5: No vale dos suicidas, Laura está furiosa e Marcos procura tranquilizá-la.
         -Já disse que tu pode pegar droga sem precisar destruir aquele homem, Laura.
         -Não me diz o que eu devo fazer, idiota! Quem tu pensa que é pra me dar lição de moral? Olha ao teu redor! Tá vendo bem onde a gente tá? Na mesma merda!
         -Não, Laura. Posso até estar aqui ainda, mas não sei se quero estar. Nem sei se quero continuar nessa merda de depender de droga pra te dar bem a real...
         -Vai me abandonar, é isso?
         -Não. Se tu quiser tu pode tentar vir comigo, seja pra onde for que a gente tenha que ir.
         -De jeito nenhum. Tenho que acabar com aquele infeliz do Jesuíno?
         -Jesuíno? Que bosta é essa que tu tá falando? Não era Flávio?
         Laura fica confusa.
         -Eu vou embora daqui, Laura. De coração eu desejo sair daqui. Não sei quando, mas eu vou. Sei que tu pode vir comigo, tu ama a tua filha!
         -Não fala nela, desgraçado!
         Laura começa a chorar e fica transtornada, aos poucos ficando cada vez mais masculinizada. Marcos fecha os olhos e mentaliza um lugar melhor. É quando Lísias surge diante deles, mas somente Marcos consegue enxergá-lo.
         -Quem é tu?
         -Um amigo. Vim te tirar daqui. Venha comigo, você não vai se arrepender, é melhor assim...
         -E ela?
         -Ao seu tempo, Marcos, ao seu tempo...
         Marcos parte com Lísias, em seus braços, adormecido. CORTA A CENA.

         CENA 6: Ernestina recebe André, que acabou de chegar em casa.
         -E aí, amor? Saiu o resultado do teste?
         -Saiu, Tina. Sua intuição estava certa...
         -O que? Isso quer dizer que...
         -Isso mesmo. O DNA do morto não bate com o seu DNA. Não foi o Leonardo que morreu.
         -Meu Deus! Não sei se fico feliz... meu filho tá vivo! Mas isso significa que...
         -Sim, Tina. Ele fugiu. Devo dizer que ele foi bem audacioso nesse plano de fuga, deve ter planejado por um bocado de tempo...
         -Isso me deixa preocupada, de verdade. Sabe, ele fez mal pra tanta gente, tenho medo do que ele pode fazer estando solto, sem paradeiro...
         -Fique tranquila, meu amor. Já foi aberta a investigação em segredo de justiça.
         -Melhor assim. Prefiro meu filho preso do que solto. Além de ele estar a salvo preso, ninguém corre risco... me abraça?
         Os dois se abraçam e Ernestina suspira, preocupada. CORTA A CENA.

         CENA 7: Uma semana se passa e na tela aparece UMA SEMANA DEPOIS. Flávio, Miguel, Fernanda e Pâmela estão conversando com Otília e Breno, que foram visitá-los.
         -Sei que o processo de desobsessão é lento, mas eu gostaria muito de fazer regressão. Quem sabe assim eu possa compreender a natureza de certas coisas... - fala Flávio.
         -Tem certeza disso? Meu querido, é preciso ter em mente que tu precisas estar muito certo do que quer e estar preparado para qualquer coisa, manter o equilíbrio é fundamental... Não é porque és meu neto, mas me preocupo. Precisa ser uma decisão muito bem tomada.
         -Vó, pode confiar no Flávio. Sinto que ele tá firme no que quer e precisa descobrir algumas coisas pra compreender melhor o motivo dessa obsessão... - pondera Fernanda.
         -E eu só quero meu marido de volta ao que era antes, por completo... - desabafa Miguel.
         -Está certo. Vocês me convenceram. Conheço uma terapeuta holística que faz regressão como ninguém. Sei que estarei entregando meu neto em boas mãos...
         -E quando vamos?
         -Hoje mesmo. Ela sempre fica com horário vago à noitinha. Vamos agora?
         -Vamos... - fala Flávio, cheio de esperança. CORTA A CENA.

         CENA 8: Flávio e Miguel chegam com Otília no pequeno consultório de Silvana, a terapeuta holística.
         -Boa noite, Otília. Bom te ver aqui... esse menino é teu neto, né?
         -Eu? Sou sim... - fala Flávio.
         -Vocês são bem parecidos, dá pra ver... Bem, mas que bons ventos trouxeram vocês aqui? E tu, rapaz? Ama mesmo o neto da Otília... teu olhar transborda esse amor...
         -Tu é boa mesmo, hein? - espanta-se Miguel.
         -Bem, na verdade sou eu que gostaria de fazer regressão, dona...
         -Ah, desculpe, me esqueci de me apresentar. Me chamo Silvana. E tu, como te chama?
         -Flávio.
         -E eu sou Miguel.
         -Bem, vamos nos acomodando. Pelo que posso ver, a necessidade dessa regressão é por conta de um processo obsessivo. E bem pesado, diga-se de passagem. Flávio, tu tem certeza que deseja fazer?
         -Tenho sim, dona Silvana. O que é preciso fazer agora?
         -Primeiramente, tu deve pensar em tudo o que te é mais importante de verdade nessa vida. Queridos, vocês me dão licença que eu vou com o Flávio pro quarto de regressão?
         Silvana segue com Flávio e pede para que ele deite-se no divã.
         -Não feche os olhos ainda. Antes disso preciso explicar melhor: além de pensar no que te é mais caro nessa vida, procura olhar pra dentro de ti mesmo, para as tuas virtudes e principalmente para os defeitos. Feito isso, tu precisa te concentrar na busca das respostas que procura compreender. Me avisa quando estiver concentrado, ok?
         -Já estou.
         -Ótimo. Agora feche os olhos e mantenha a concentração. Agora tu tem 10 anos. Lembre de uma situação que tenha sido inesquecível nessa época... consegue ver?
         -Sim... - responde Flávio.
         -Maravilha. Agora tu tem 1 ano e tá na festa do teu aniversário. O que tu vê?
         -Vejo meus pais me paparicando e eu caindo de boca no chão, meu pai me tranquilizando enquanto minha mãe grita desesperada. Vejo também minha avó olhando com amor pra mim e pro meu pai...
         -Vê mais alguma coisa?
         -Não.
         -Está certo. Agora tu tá dentro do útero da tua mãe... depois, sendo concebido... consegue ver?
         -Sim.
         -Agora vamos mais um pouco pra trás, no momento que teu espírito decidiu ou aceitou voltar pro plano físico. Concentre-se nisso e não diga nada, apenas observe... Agora, tu está na encarnação que determinou os resgates dessa... onde tu está?
         -Estou num lugar bastante populoso, as pessoas usam roupas muito antigas. Agora estou numa relva muito verde...
         As imagens tomam primeiro plano e Flávio vê um homem apontando uma arma para ele. FIM DO CAPÍTULO 69.