CENA 1: Flávio permanece incrédulo
diante da revelação de André e Sônia fica apreensiva procurando entender o que
deixou o filho perplexo daquela maneira.
-O que o André ta dizendo, filho?
Flávio tapa o bocal do telefone.
-Que o Leonardo tá usando de cativeiro
pro Miguel e pro Murilo o Cais do Porto!
Sônia fica incrédula.
-Não é possível, Flávio...
-Olha só mãe, depois eu falo melhor
contigo, o André ta na linha.
Flávio permanece a falar com André.
-Não é possível isso, André... como é
que o Leonardo ia ir pra um lugar tão óbvio, tão debaixo do nosso nariz? Isso
sem falar na circulação das pessoas ali por perto todos os dias, por causa do
catamarã pra Guaíba!
-Você sabe perfeitamente como o
Leonardo é sádico e gosta de desafiar a todos, não sabe? O que ele tá fazendo
não é nem de longe surpreendente...
-Mas mesmo assim, André! Como é que
ninguém percebeu nada?
-Você esqueceu que existem galpões
abandonados prestes a serem implodidos pela prefeitura? Pelo meu raciocínio,
deve ter sido num desses galpões que o Leonardo fez o cativeiro.
-Ih, é verdade, tem os galpões mesmo!
Mas assim, ó... são três galpões abandonados nesse momento, como é que a gente
vai saber em qual deles eles estão?
-Terei de enviar minha equipe.
-Ficou louco, André? Tu, melhor que
ninguém, sabe que o Leonardo se torna perigoso na presença da polícia.
-Mas Flávio, que opção que nos resta?
Pensa bem! É a única maneira de salvar os dois!
-Não vejo dessa maneira. Existe uma
outra forma de salvar o Miguel e o Murilo.
-Flávio, por favor, não tente
interferir nas nossas ações!
-André, é mais seguro que eu vá
encontrar eles...
-Eu que pergunto: você ficou louco?
Isso pode ser arriscado!
-É um risco que é preciso correr, será
que tu não entendeu ainda que é a mim que o Leonardo quer? Ele nutre um amor
obsessivo por mim, é a mim que ele quer lá, desde o começo, posso te garantir
isso! Nem adianta tentar me impedir, porque eu vou com vocês até lá!
-Você tá colocando em risco a sua
vida...
-E daí? Meu marido e nosso filho estão
correndo esse risco há dias na mão daquele doente! Tu tem uma ideia melhor?
Porque se tu tiver, eu tiro o chapéu, juro! Mas como eu suspeito que não tenha,
eu vou com vocês. Tou indo praí agora mesmo!
-Hoje é sem condição. Você se deu conta
de que são quase uma da manhã?
-Mas essa é a melhor hora! Não tem
ninguém circulando por ali e...
-Pode esquecer dessa ideia de irmos
hoje. Ficou doido? Justamente por não ter movimento nenhum a essa hora, ele
perceberia qualquer movimentação diferente ao redor! É sem discussão... se você
quer se arriscar e vir conosco, é amanhã, hoje não!
-Tá certo. Mas não vá pensando que vou
desistir. É a mim que ele quer e é a mim que ele vai ter! CORTA A CENA.
CENA 2: A noite passa, o dia amanhece e
Flávio, acompanhado de Sônia, chega à casa de André. Ernestina serve um café a
eles.
-Cadê a Diana? - pergunta Flávio.
-Tá passando uns dias com o Henrique.
Falei pra ela não se meter nisso... - esclarece André
-Eu tou achando tudo isso uma loucura,
meu filho! Tu não pode ficar se arriscando desse jeito! - fala Sônia.
-Ah, é? Qual é a outra opção que eu
tenho? Poxa, mãe! Te coloca no meu lugar! Como é que eu posso ficar parado,
sabendo que meu marido e nosso filho, teu neto, estão correndo risco de morrer
na mão daquele maluco? Desculpa dizer isso, Tina, mas...
Ernestina não se importa.
-É verdade. Já desisti desse meu
filho...
-Primeiramente, eu vou colocar em você
um microfone escondido, Flávio. Você não pode, em momento nenhum, dar a
entender que tá tudo sendo gravado. E tem mais uma coisa: vista esse colete à
prova de balas, por precaução... - fala André.
-Mas isso vai dar na cara, André! -
protesta Flávio.
-Negativo. Você vai colocar por baixo
da camisa e deixar a camisa solta. Todo cuidado é pouco.
-Que horas a gente sai daqui?
-No início da tarde, Flávio. E quanto à
nossa chegada lá, não se preocupe, porque já avisei aos trabalhadores do cais
que precisamos isolar o local e eles concordaram. Para tudo correr como
esperamos, não vamos anunciar nossa chegada com as sirenes ligadas. Já que você
resolveu entrar nessa, você vai descobrir qual é o galpão onde eles estão de
alguma maneira e vai mentir que só você está ali, certo?
Todos seguem a acertar os detalhes da
operação. CORTA A CENA.
CENA 3: Horas se passam. Miguel percebe
que Leonardo está cada vez mais fora da realidade.
-Gostou do almoço? Fiz com carinho,
viu?
-Carinho? Do que tu tá falando,
Leonardo? Tu meteu a mim e ao meu filho nessa situação horrorosa e ainda vem me
falar de carinho?
-Deixa eu te tratar com gentileza,
maridinho ideal? Quero que tu e o menininho estejam fortes e corados pra quando
a gente for receber visita. Tu viu que eu até deixei o chão limpinho? Essa casa
tá ficando cada vez mais caprichada, um brinco!
-Que papo é esse, cara? Isso aqui é um
galpão!
-E qual o problema? Não tem tanta gente
sem casa própria que invade terreno pra construir casa própria? Vou fazer a
nossa casa aqui.
-Nossa casa? Não tou te entendendo,
Leonardo.
-Minha casa, que seja. Minha e do meu
amor. Eu sei que ele vem e a gente vai construir nossa família aqui. E claro,
vamos adotar crianças bem mais bonitas do que esse filhote de pentelho, porque,
cá entre nós, o menino pode até ser calminho, mas é feio que é um raio, hein?
Leonardo ri demasiadamente da situação.
-E se o Flávio não aparecer, como é que
fica?
-Simples! A gente continua morando
aqui. Sabe que eu até tou me acostumando com a tua cara e com a miniatura de
pentelho? Acho até que se por acaso desistirem de acharem vocês, a gente pode
acabar se dando bem.
Miguel percebe que Leonardo está cada
vez mais insano e opta por não discutir com ele, ficando cada vez mais
assustado e com medo de como toda a situação pode acabar.
-Ué, não vai dizer nada? Poxa, eu fiz o
almoço de vocês com tanto carinho...
-Não tenho o que dizer, cara...
-Diga que o almoço estava bom!
Miguel não vê outra saída senão entrar
na loucura de Leonardo.
-Tava uma delícia. O que a gente vai
ter de jantar?
-Isso é segredo de estado. Mas aposto
que vocês vão adorar, o menininho até vai arregaçar esses dentinhos de pônei
tão bonitinhos.
De repente, se escutam batidas
vigorosas no portão do galpão. Leonardo fica alerta e Miguel, apreensivo.
-Quem é?
-Sou eu, Leonardo, o Flávio!
Leonardo não pensa duas vezes e
levanta-se.
-Agora sim a nossa casa vai ficar
completa! CORTA A CENA.
CENA 4: Sandra e Valdir tentam se
manter tranquilos e contam com o auxílio de Antonella para cuidar de Gabriel
enquanto Bernardo e Daniela trabalham.
-Queridos... toda essa situación vai
ter um fim, pueden acreditar!
-Deus te ouça, Antonella... - fala
Valdir.
De repente, o telefone toca e Sandra
atende.
-Alô? Oi, Sônia!
-Oi, Sandra. Liguei para avisar que o
cativeiro onde o Miguel e o Murilo estão já foi localizado.
-É mesmo? Deus seja louvado! Onde é?
-No Cais do Porto. Mas tem um detalhe:
o meu filho insistiu em participar das negociações e acabou de entrar no galpão
onde eles estão.
-Meu Deus! Isso é um perigo! Nós vamos
praí agora mesmo!
Sandra desliga o telefone apreensiva.
-O que a Sônia disse? - pergunta Valdir.
-Que nosso filho e nosso neto estão no
Cais do Porto e o Flávio entrou no galpão pra negociar com o Leonardo...
-A gente tem que ir pra lá agora mesmo!
- fala Valdir.
-Tu se importa de ficar aqui com o
Gabriel, Antonella? - pergunta Sandra.
-De jeito nenhum! Pueden ir! Buena
sorte para ustedes!
Sandra e Valdir nem trocam de roupa e
saem da casa, apressados e preocupados. CORTA A CENA.
CENA 5: Flávio entra no galpão e
aceita, a contragosto, o abraço de Leonardo.
-Eu sabia que tu vinha, meu amor!
Miguel se emociona ao rever Flávio e se
aproxima dele, que também se emociona, na intenção de abraçá-lo. Leonardo perde
a calma e, furioso, saca a arma de sua cintura e aponta para Miguel.
-Eu estouro os teus miolos se tu chegar
perto do meu Flávio!
Flávio e Miguel se aterrorizam com a
atitude de Leonardo. Miguel, percebendo que precisa orientar de alguma maneira
Flávio sem que Leonardo perceba, começa a falar.
-Vem com a gente pra dentro, Flávio.
Viu como o Leonardo deixou o chão brilhando aqui? Ficou um brinco, pode sentar
sem susto!
Flávio entende que Leonardo está cada
vez mais fora de si.
-Vou sentar mesmo, hein? Tou sentindo
um cheirinho de comida aqui, alguém andou cozinhando? - pergunta Flávio,
entrando no jogo.
-Sim, fui eu. Flávio, eu fiz uma
comidinha especial! Parece até que eu tava adivinhando que tu vinha nos visitar
hoje! Deixa eu pegar o teu prato, aposto que tu vai adorar o que eu preparei!
Desculpa o mal jeito, mas ainda não tive como desfazer as malas, segura aí que
eu vou pegar o prato e lavar bem limpinho pra ti, meu amor!
Leonardo abre sua mochila e pega um
prato. Flávio começa a ficar aterrorizado com a loucura de Leonardo e Miguel
segura discretamente sua mão, enquanto os dois estão sentados no chão,
sussurrando em seu ouvido. -Que bom
que tu veio, meu amor! A gente vai sair dessa juntos!
-Eu vim acompanhado do André e da
polícia... - revela Flávio.
Os dois se afastam rapidamente quando
Leonardo vira-se para eles e procuram manter a calma. CORTA A CENA.
CENA 6: Valdir e Sandra chegam ao Cais
do Porto e avistam André e sua equipe, Sônia, Fabiano, Ernestina e Helena.
-E aí, como andam as negociações? -
pergunta Valdir.
-Na mesma. Flávio entrou faz pouco
tempo e tá buscando enganar o Leonardo, que tá completamente fora de si. Isso
pode demorar. - revela André.
Sônia chora abraçada a Sandra, que
também chora. Valdir procura manter a firmeza diante da situação e torna a
fazer perguntas para André. -Mas existe
uma previsão pra tudo isso acabar?
-Infelizmente não, seu Valdir. Sei que
vocês estão aflitos por seus filhos estarem sob o domínio do Leonardo, mas é
importante que enquanto o Flávio não conseguir enganar o Leonardo, nos
mantenhamos em silêncio, sem denunciar nossa presença aqui, ou então a vida dos
três corre risco.
Valdir fica preocupado e acaba deixando
lágrimas caírem de seus olhos. André procura tranquilizar a todos.
-Fiquem tranquilos, eu e minha equipe
temos anos de experiência nesse tipo de negociação e nunca permitimos que as
vítimas fossem assassinadas pelos seus algozes. Só peço que tenham paciência e,
se isso aqui demorar muito, por favor, vão descansar em suas casas...
-Não vamos conseguir, André... enquanto
tudo isso não se resolver, a gente não vai arredar o pé daqui... - fala Sônia.
-Espero que isso acabe logo, senão é
bem capaz de o Matheus aparecer por aqui querendo bancar o super-herói se
arriscando... - fala Fabiano, preocupado. CORTA A CENA.
CENA 7: A noite cai e a negociação
prossegue sob os olhares aflitos de todos que aguardam do lado de fora. A
polícia busca afastar os curiosos que se aglomeram no acostamento da estrada.
Matheus chega ao local e Fabiano o abraça.
-E aí, nada ainda?
-Não, amor. Nada...
-Eu vou lá!
Matheus está começando a andar quando
André o segura pelo braço.
-Você fica exatamente aqui onde está ou
eu vou lhe dar ordem de prisão por desacato à autoridade, tá entendendo? É
arriscado para a sua vida se meter numa negociação que não é sua.
Matheus fica frustrado, mas compreende
a situação.
-Se isso aqui continuar demorando, eu
ligo pro chefe da oncologia e aviso que não vou poder comparecer ao hospital
por motivo de força maior!
-Mas tu pode acabar perdendo o teu
emprego, meu amor! - preocupa-se Fabiano.
-Fica tranquilo que eu não vou perder
não, ainda mais com tanto paciente dependendo de mim.
-Se tu diz eu fico mais tranquilo nesse
sentido. Mas tu não me inventa de colocar a tua vida em risco de novo como tu
fez quando cometeu aquela loucura pra me tirar de dentro daquele ginásio, tá me
ouvindo bem? Te quero bem vivo do meu lado! - repreende Fabiano. CORTA A CENA.
CENA 8: O dia amanhece. Leonardo se
acorda.
-Bom dia, gente!
Flávio cuida de Murilo e Miguel acaba
de se acordar. Os dois fingem naturalidade diante de Leonardo.
-Bom dia... -fala Miguel.
-Não vai me responder, Flávio?
-Desculpa, tava aqui trocando a fralda
do Murilo. Bom dia.
-Muito bem. O que a gente vai fazer
hoje? - pergunta Leonardo.
-Eu tava pensando que a gente não
precisa ficar mais nessa casa... eu te levo pra minha, meu amor... - fala
Flávio, tentando enganar Leonardo, que começa a entrar no jogo.
-Tu tem certeza disso, Flávio?
-Claro que tenho. Nós podemos começar
juntos uma nova família...
-É o que eu mais quero!
Miguel olha com cumplicidade para
Flávio, que segue a manipular Leonardo.
-A gente deixa esses dois aqui, nessa
casa mesmo. Eles que se virem e, depois, a gente pode viajar em lua de mel,
conhecer a Espanha que tu tanto quer conhecer...
Leonardo fica cada vez mais emocionado
e não percebe que está sendo enganado por Flávio. Leonardo começa a perder a
noção de si mesmo.
-Não ia ser divino? Mas a gente leva o
Murilinho junto, não leva? A gente precisa mesmo é se livrar desse doente do
Leonardo, nós vamos conseguir!
Flávio e Miguel ficam perplexos com a
loucura de Leonardo, mas Flávio prefere continuar a manipulá-lo. Leonardo,
pensando naquele momento ser Miguel, pega Murilo no colo.
-Vem, meu filho... vem com o papai.
-Vamos embora? Tou precisando de um
banho e depois a gente tem que comprar as passagens pra Espanha... - fala Flávio.
Leonardo acredita e acompanha Flávio,
levando Murilo em seu colo. Flávio abre o portão com a permissão de Leonardo e
quando os dois estão do lado de fora, André pega o megafone.
-Fim de linha, Leonardo! Se entregue!
Leonardo se sente traído por Flávio.
FIM DO CAPÍTULO 103.
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