segunda-feira, 30 de junho de 2014

CAPÍTULO 43


    CENA 1: Leonardo ainda está sob o efeito do sedativo e delirando.
    -Ninguém me prende, eu sou invencível! É muito fácil enganar trouxas.
    André algema Leonardo, que continua a rir, sem perceber ainda o que está realmente acontecendo. Giordano chora ao assistir tudo.
    -Que palhaçada é essa de Veridiana? Tu é Ana Cristina mesmo, eu tenho como provar que tu esteve aqui comigo, nós tivemos duas noites juntos!
    Veridiana dá um tapa no rosto de Leonardo, que aos poucos vai voltando a si. Ernestina assiste a tudo desolada. Veridiana começa a despejar tudo o que sabe.
    -Olha aqui, seu cafajeste! Você roubou fotos do meu perfil pessoal na rede social. Eu me chamo Veridiana e sou filha do André. Sabe o que o meu pai é, seu golpista de meia-tijela? Agente da Polícia Federal! Deu pra entender que você tá preso, agora? Você me difamou, cometeu um crime cibernético e ainda cometeu falsidade ideológica! Isso dá cadeia, sabia?
    -E tem mais: Os "amigos" que viajaram para o exterior foram misteriosamente assassinados na Espanha. Não temos nada que comprove, mas ainda recai sobre Leonardo a suspeita de ter sido o mandante do crime, já que nada foi roubado da casa em que eles estavam. Os corpos foram encontrados no quarto e a cena forjava um latrocínio com tudo bagunçado, mas nada foi efetivamente roubado. Além disso, Leonardo está preso por estelionato, por ter falsificado as assinaturas de seus "amigos" passando essa residência para o nome dele.
    Ernestina assiste a tudo chocada. Leonardo percebe o olhar de sua mãe.
    -Mãe, a senhora sabia disso?
    -Eu fui avisada de tudo e orientada pelo André a vir para Porto Alegre.
    -Mãe, tu me traiu!
    -Não, meu filho. Eu não te traí, mas se tu cometeu crimes é preciso pagar por eles!
    -Mas tu é mãe, deveria ficar do meu lado...
    -Mas eu tou ao teu lado, tou fazendo isso pelo teu bem!
    -Bem? Que tipo de bem é esse? Uma mãe nunca vai querer ver o filho preso!
    -Tem razão. Me corta o coração de verdade saber de tudo o que tu fez, mas tu cometeu crimes. Se eu pudesse te livrar da cadeia, te livrava, mas tu precisa passar por isso.
    Ernestina chora desconsolada e é amparada por André. Flávio começa a falar.
    -Seu desgraçado. Tu acha que eu sou um babaca, né? Por um momento até acreditei na tua amizade, mas eu tenho uma coisa que tu nunca teve e nunca vai saber o que é: amigos de verdade, que me amam, que querem o meu bem. Tu não passa de um homofóbico frustrado que acha que pode enganar as pessoas com as tuas mentiras farsescas!
    Leonardo começa a rir da cara de todos enquanto é levado algemado por André e os demais agentes da Polícia Federal até o carro de André.
    -Vocês não perdem por esperar. Eu vou voltar! Babacas, vocês são todos uns babacas! Podem esperar que eu volto pra resgatar tudo o que é meu!
    Leonardo segue rindo descontroladamente enquanto o carro de André arranca. Veridiana consola Ernestina. Giordano chora abraçado a Paulo e Miguel comemora a prisão de Leonardo juntamente a Flávio, que mostra alívio. CORTA A CENA.

    CENA 2: Flávio e Miguel chegam em casa. Fabiano estranha eles terem chegado tão cedo.
    -Ué, pensei que a reunião na casa do amigo de vocês ia durar mais tempo.
    -Aquilo ali não é amigo de ninguém. E ele foi preso por vários crimes! - fala Miguel.
    Fabiano fica perplexo e Miguel percebe o choque dele, assim como Flávio.
    -Foi um choque pra mim saber de tudo também, primo... - solidariza-se Flávio.
    -Depois dessa, vou até dormir... Nunca imaginei que esse cara fosse um criminoso. - fala Fabiano. Miguel estranha o exagero da reação de Fabiano, mas decide não falar nada para Flávio.
    -Vamos subir, Miguel? Preciso de um banho urgente pra me limpar de toda essa sujeira!
    -Também preciso, Flávio...
    Os dois sobem e a câmera foca no quarto de Fabiano, que está tremendo de raiva.
    -Que ódio! Esse filho da puta não podia fazer isso comigo! O que vai ser do meu plano agora? Tou perdido! Que ódio, que ódio, que ódio!
    Fabiano soca o travesseiro, completamente descontrolado. CORTA A CENA.

    CENA 3: Na delegacia, Leonardo termina de ser interrogado pelo delegado e vai para a cela.
    -Vocês todos vão pagar por essa traição! Eu nunca vou te perdoar por isso, mãe! Nunca!
    Ernestina chora desconsolada, sem conseguir dizer nada em retorno aos insultos do filho. André, compadecido, a abraça.
    -Se a senhora quiser desabafar, eu tou aqui, viu?
    -Olha, André... tu tem sido mais que um policial. O teu apoio tem sido fundamental nesse momento.
    -Você ganhou um amigo, Ernestina. Nunca duvide disso.
    -Sinto que tu é sincero comigo... Quero desabafar sim, mas não aqui. Podemos ir lá fora?
    -Claro. Só espere eu passar o relatório para o delegado e em dois minutos eu vou te dar atenção.
    André vai ao encontro de Ernestina do lado de fora da delegacia.
    -Pronto, pode desabafar...
    -Sabe, André... Sempre criei meu filho com todo o amor que pude dar, para suprir a ausência de um pai que ele nunca conheceu. Pensei que tudo o que fiz por ele era suficiente para construir um homem de caráter, mas me enganei...
    -Não se sinta culpada pela falta de caráter e princípios dele... Provavelmente ele sempre foi assim.
    -É duro demais pensar nisso, mas tu tem razão.
    -Ele realmente nunca soube quem é o pai dele?
    -Não. Eu quis proteger meu filho de saber que o pai dele é um cachorro desgraçado que mandou eu abortar quando descobriu que eu tava grávida. Quando eu disse que ia ter o Leonardo de qualquer maneira, o cachorro sumiu pelo mundo e nunca mais deu notícias. Nós éramos noivos, André... noivos! Não entendo até hoje porque ele agiu dessa forma...
    -Imagino o quanto isso te doeu.
    -Nunca mais quis nenhum homem na minha vida. Vivi em função do meu filho, em primeiro lugar vinha ele. Talvez eu o tenha mimado demais...
    -Não pense assim... não vale a pena.
    -No fim, rolava a fofoca por toda São Gabriel de que ele tinha fugido com outro homem, que havia me abandonado por conta disso. Tu sabe como é esse povo do interior, né? Adoram uma fofoca... Leonardo ficou sabendo quando era adolescente dessas fofocas, não consegui evitar. Desde então ele pegou ódio mortal de todos os gays que via pela frente. Pensei que com o tempo isso ia passar, mas acho que só fez piorar...
    -Faz sentido ele ter essa sede de vingança. Não justifica, claro... Mas para alguém desprovido de limites morais como ele... desculpe, Ernestina... eu sei que é seu filho.
    -Pode dizer, é verdade! E por favor, me chame de Tina. Detesto meu nome... CORTA A CENA.

    CENA 4: A noite passa e o dia amanhece. Algumas horas se passam e Fernanda é acordada por Pâmela, que já ficou sabendo de tudo o que aconteceu através de Miguel.
    -Nanda, já são quase 11 horas! Não vai levantar?
    -Nossa, dormi muito! Mas que cara é essa de quem ficou sabendo de alguma coisa bombástica?
    -Mas fiquei mesmo!
    -Não vai me dizer que o Leonardo...
    -Tem a ver com ele, mesmo. Miguel me contou agora há pouco que Leonardo foi preso por cometer uma série de crimes. O André, como tu deve saber já, é agente da Polícia Federal e junto com a equipe daqui, terminou descobrindo várias coisas sobre o Leonardo.
    -Gente! Eu sabia que esse cara não era flor que se cheirasse, mas daí a cometer crimes... Tou passada!
    -Pior é que ele tem ódio de todos os gays e lésbicas... Até agora não entendo direito porque, mas ele era um inimigo no meio da ONG.
    -Sempre desconfiei disso e até imagino qual seja o motivo.
    -Imagina?
    -Conversamos sobre isso depois, tou morrendo de fome! CORTA A CENA.

    CENA 5: Ernestina se acorda, no quarto de hotel onde André e Veridiana estão. Veridiana é simpática com Ernestina.
    -Tá melhor, Ernestina?
    -Tina, por favor...
    -Tá certo... mas você tá melhor?
    -Levando, né... Tentando ficar bem na medida do possível. Cadê o teu pai?
    -Foi ao supermercado, mas já deve estar voltando.
    André chega no exato momento em que Veridiana fala.
    -Não disse?
    -Bom dia, Tina! Se sente melhor? Trouxe um bolo de laranja pra você... sei que não é muita coisa, mas pelo menos adoça um pouco a vida... - fala André.
    Ernestina se enternece pelos cuidados de André.
    -Não precisava, André... Tou dando muito trabalho a vocês...
    -Não... você precisa ser cuidada! Faço questão!
    Veridiana percebe que André demonstra encantamento por Ernestina, mas nada diz.
    Ernestina faz seu desjejum.
    -Gente, vocês acham mesmo que eu posso voltar para aquela casa que meu filho se apropriou indevidamente?
    -Claro que sim, Tina! Mesmo que a casa tenha sido adquirida por ele através de falsificação de documentos e assinaturas, o crime foi dele. Você não deve pagar por um crime que o seu filho cometeu. Além do mais, a casa vai demorar a ser fechada pela justiça, é um trâmite relativamente demorado. Se você quer ficar por lá, não vejo problema nenhum... - fala André.
    -Então eu vou voltar. Assim não dou trabalho pra vocês... ainda mais que tu é Policial Federal...
    -Tem certeza que vai se sentir bem sozinha lá? - questiona Veridiana.
    -Já vivi tanto tempo sozinha em São Gabriel... não tem nada demais, querida...
    -Se você quiser, eu vou junto... Lhe fazer companhia. - propõe André.
    -Não precisa se incomodar. Tu tem muitas ocupações!
    -Eu já acho que pode ser melhor para todos nós. Assim, nem eu nem minha filha pagamos as diárias do hotel, que são caras... e eu ainda posso te dar uma força para superar essa barra que você tá passando...
    -Bem, sendo assim... Que mal tem?
    -Podemos ir?
    -Claro! Por mim, vamos hoje mesmo! CORTA A CENA.

    CENA 6: A tarde passa, a noite avança e o novo dia amanhece. Sônia estranha o fato de Fabiano não estar acordado ainda e resolve bater na porta de seu quarto.
    -Fabiano, tá na hora de levantar! O pessoal da ONG já deve estar abrindo!
    Sônia percebe que a porta está trancada e se preocupa.
    -Fabiano, tá tudo bem?
    Fabiano responde em voz baixa.
    -Hoje não, tia. Me acordei indisposto, acho que é gripe. Não quero sair da cama agora.
    -Pode ao menos abrir a porta?
    -Agora não, tia... desculpa, mas eu quero dormir mais um pouco.
    -Tudo bem. Fica bem, viu?
    -Obrigado, tia.
    A câmera foca no quarto e no rosto de Fabiano, que chora.
    -Ele nunca vai ser meu, eu não nasci pra ser feliz. Eu sou sozinho, ninguém se importa com a minha dor...
    Fabiano continua a chorar mais ainda.
    -Quem sabe seja a hora de eu desistir desse plano maluco. Recuperar o que me resta de dignidade e tentar seguir em frente.
    Aos poucos, o choro de Fabiano vai parando e novamente ele dorme, completamente abalado pelos últimos acontecimentos. CORTA A CENA.

    CENA 7: Inicia-se uma curta passagem de tempo. Na tela, aparece Miguel e Flávio empenhados com o restante do pessoal da ONG, André continuando a participar dela, Ernestina, Veridiana e André já instalados na casa que foi de Leonardo, Leonardo sozinho na cela da delegacia recebendo a notícia de que vai ter que aguardar julgamento em um manicômio judiciário após avaliação psicológica, Fabiano começando a reagir aparentemente bem e não disposto a seguir adiante com os planos que fizera conjuntamente com Leonardo, Fernanda e Pâmela na expectativa de que a inseminação artificial tenha dado certo, Paulo e Giordano cada vez mais apaixonados e anunciando que estão juntos a Nadir, Patrícia, Henrique e Fabrício, que apoiam a relação dos dois, Rômulo e Lucas aproveitando o que resta das férias de Rômulo, quando Lucas recebe a notícia do falecimento de sua mãe e ambos vão ao velório dela no interior do estado. Lucas se refaz rapidamente do luto graças ao apoio e ao amor de Rômulo. Antonella permanece sozinha e sofrendo em sua casa, porém irredutível em pedir perdão por todos os seus erros. Daniela faz a primeira ecografia acompanhada de Bernardo, Sandra e Valdir, que se emocionam com o acontecimento. Daniela sente falta de sua mãe, mas compreende que naquele momento ela não faria falta. CORTA A CENA e aparece na tela: UMA SEMANA DEPOIS.

    CENA 8: No Plano Espiritual, Olívia e Edilene estão preparadas para o momento do reencarne, acompanhadas de André Luiz e Joana de Angelis.
    -Estão preparadas, queridas? - questiona Joana.
    -Claro que sim! Mais que nunca! - fala Olívia.
    -E você, Edilene?
    -Preparadíssima.
    -Estejam cientes de que a partir do momento desse enlace corporal efetuado através do perispírito, vocês assumem definitivamente o compromisso de cumprir as missões, resgates e escolhas estabelecidos no momento em que vocês aceitaram espontaneamente esse reencarne. - elucida André Luiz.
    -Estão preparadas? Vai ser agora... - anuncia Joana.
    -Estamos. - falam ao mesmo tempo Edilene e Olívia, convictas.
    Todos fecham os olhos em concentração e o enlace perispiritual aos pequenos corpos em formação se conclui. CORTA A CENA.

    CENA 9: Na casa de Ernestina, André faz o almoço.
    -Desse jeito eu vou acabar é mimada! - brinca Ernestina.
    -Deixa disso, Tina! Eu não ia ficar como um peso morto nessa casa, ia?
    -Não quero ficar mal acostumada.
    -Não acho que você seja o tipo de mulher que fique mal acostumada com qualquer coisa.
    -Mas uma hora tudo isso vai acabar.
    -Acabar? Quem disse?
    -E não vai?
    -Você sabe o que a Veridiana foi fazer hoje?
    -Não faço a mínima ideia.
    -Foi procurar emprego.
    -Não sabia que ela ia fixar residência por Porto Alegre... fico feliz por ela...
    -Talvez não seja só ela...
    -O que? Ah, não, André! Pegadinha numa altura dessas não tem condição!
    -Quem disse que é pegadinha, Tina?
    -Mas tu precisa voltar para São Paulo... Tem a tua profissão e tudo mais.
    -Engano seu...
    -Como assim?
    -Eu tou me mudando definitivamente para Porto Alegre. Pedi transferência e já tenho um substituto nas minhas funções em São Paulo.
    -Eu não acredito! Isso é maravilhoso!
    -Será que você ainda não entendeu porque eu resolvi ficar, Tina?
    -Não... devo entender?
    -Tina, eu tou completamente apaixonado por você. Será que você me aceita como seu namorado, seu homem?
    Ernestina fica surpresa e emocionada. FIM DO CAPÍTULO 43.

sábado, 28 de junho de 2014

CAPÍTULO 42


    CENA 1: Fabiano segue pensando alto consigo mesmo.
    -Se Deus realmente existe, vai entender perfeitamente as minhas razões. O amor só acontece uma vez na vida e se eu não lutar por isso, quem mais pode lutar por mim? Ainda mais quando eu nem tenho mais meus pais pra desabafar, para me apoiarem, estar aqui ao meu lado. Se Deus existe, é um Deus muito sacana de ter tirado de mim tudo o que eu tinha de precioso.
    Fabiano chora feito uma criança por conta da saudade que sente dos seus pais.
    -Vocês não podiam ter feito isso comigo! Não podiam!
    Fabiano segue a chorar, desconsolado.
    -Nunca vou entender porque aquele desastre nos atingiu. Sempre pensamos tanto na segurança!
    Aos poucos, Fabiano se recupera do rápido momento de tristeza.
    -Mas já que eu sou sozinho, nada mais justo do que lutar pela única oportunidade que tenho de deixar de ser sozinho desse jeito...
    Fabiano toma um rápido banho e se arruma para ir até a ONG. CORTA A CENA.

    CENA 2: A manhã passa rapidamente e chega o momento do fechamento da ONG, que aos sábados só funciona pela manhã. Na saída, Paulo resolve abordar Giordano antes que este vá até seu carro.
    -Giordano, eu tava precisando conversar contigo. É algo bem sério.
    Giordano fica intrigado.
    -Do que se trata?
    -Vamos para um lugar mais calmo... o assunto é sério, mas nada de grave... não fica preocupado.
    -Eu tenho aqui a chave da ONG. Não quer entrar comigo? Acho melhor.
    -Pode ser.
    Os dois voltam à ONG, que está vazia.
    -Vamos lá, Paulo... o que tu tem a me dizer de sério?
    -Primeiro, eu não quero que tu pense nada de errado de mim, que eu possa ter feito mal juízo de ti, mas...
    -Mais objetividade, Paulo... aonde tu quer chegar?
    -Tu pediu objetividade, então tá certo... eu tou apaixonado por ti.
    Giordano fica completamente surpreso pela afirmação de Paulo e não consegue responder.
    -Fala alguma coisa, Giordano!
    -Eu... nem sei o que te dizer direito! Porque eu tava pensando hoje mesmo em conversar contigo sobre...
    -Sobre o que?
    -Sobre o fato de que eu me senti atraído por ti desde o começo e ontem cheguei à conclusão de que tou apaixonado por ti.
    Paulo fica tão surpreso que dessa vez é ele quem não consegue falar.
    -Paulo, eu não sei exatamente como, mas aconteceu. Pensei que não aconteceria tão cedo depois que meu marido morreu, mas aconteceu.
    -Significa que nós dois nos apaixonamos um pelo outro...
    -Isso mesmo.
    -Como vai ser daqui em diante?
    -Podemos começar pelo óbvio.
    Paulo entende o recado, se enche de coragem e beija Giordano.
    -Como esperei por esse beijo, Giordano...
    -Eu também...
    -Tinha de ser assim, não tinha?
    -Acho que sim. Agora tu vem comigo...
    -Pra onde?
    -Não me pergunta nada. Confia em mim e vem comigo. CORTA A CENA.

    CENA 3: Leonardo encontra com Fabiano no local marcado.
    -Na hora certa!
    -Tá, Fabiano... sem muita enrolação que o meu tempo tá contado hoje... o que tu quer, afinal?
    -Uma forma de separar o Miguel do Flávio definitivamente.   
    -E tu já tem alguma ideia de como vamos fazer isso?
    -Leonardo, se eu soubesse alguma coisa, não te chamava aqui para pensarmos em alguma coisa.
    -Deixa de ser irônico que tu é muito jovenzinho pra bancar o sabichão...
    -Como se tu fosse muito mais velho que eu, né?
    -Tá, Fabiano. Afinal de contas, por onde tu acha melhor começarmos?
    -Desestabilizando a confiança entre eles.
    -E tu acha que eu já não tentei isso várias vezes? Mas parece que a confiança que eles tem um no outro é cega...
    -Mas podemos bolar uma maneira de abalar profundamente isso.
    -Como, Fabiano?
    -Eu contei pro Miguel que me apaixonei por ele...
    -Até aí, nenhuma novidade.
    -Tu não se deu conta que o Miguel tem horror a esconder qualquer coisa do Flávio?
    -Isso é verdade, mas... onde tu quer chegar?
    -Não vai ser difícil desestabilizar o Flávio assim. Basta que ele flagre uma nova conversa minha com o Miguel. Ele vai se sentir traído!
    -Tou começando a entender...
    -Não é uma boa ideia?
    -Tu tá me saindo melhor que a encomenda. Tá bem mais engenhoso do que eu pensei... de onde tu tira tantos ardis?
    -Da vontade de lutar pelo que é meu, oras!
    -Assim que eu gosto de ver, Fabiano! Nós vamos conseguir, pode escrever isso!
    -Espero mesmo que consigamos, afinal temos o mesmo interesse. Sabe que, no final das contas, nem me importa tanto se o Miguel não ficar comigo de imediato. Só de saber que os dois vão estar separados eu vou me sentir muito melhor! CORTA A CENA.

    CENA 4: A tarde passa e o pôr do sol anuncia que logo a noite chega. Veridiana está aflita com os planos de seu pai.
    -Filha, eu já disse que você não deve se preocupar!
    -Desculpa, mas é meio difícil não me preocupar.
    -Pois não deveria! Tantos anos que eu tenho de experiência na Polícia Federal deveriam ser suficientes para você não ter um pingo de preocupação ou dúvida em relação ao sucesso dessa operação.
    -Talvez eu esteja emocionalmente atingida por tudo.
    -Isso sim é possível, Veri... Mas não acho que isso vá resolver alguma coisa. Não antes de termos pego esse cara de uma vez por todas...
    -E quem vai nessa reunião de amigos na casa do Leonardo?
    -O Giordano disse que o Paulo também vai... parece que os dois se entenderam, estão iniciando um romance.
    -Quem mais?
    -Vai o Flávio, o Miguel... deixa eu ver... acho que é só. Lembro que a irmã do Flávio disse que não vai poder ir porque tá meio indisposta por uma gripe mal-curada. A namorada dela não vai também, por conta disso.
    -Maravilha. E você conseguiu colete à prova de balas pra eles?
    -Consegui. Em todo caso, é melhor prevenir. Mas acredito eu que não iremos precisar utilizar de força policial, logo não há nada o que temer.
    -Mas faça-os vestir de qualquer maneira, acho melhor.
    -Tranquilo. Vou ligar para os rapazes.
    -Fico mais tranquila assim, pai.
    -Já tou ligando... CORTA A CENA.

    CENA 5: Giordano está em sua casa com Paulo. O seu celular toca.
    -Alô, quem fala?
    -Aqui é o André, tudo bem?
    -Tudo bem, mas... por que essa ligação?
    -Giordano, vou precisar de discrição da sua parte. Sei que isso é difícil para você, mas estamos investigando o Leonardo.
    -Investigando? O meu amigo? Como é isso?
    -Eu sou da Polícia Federal.
    -Tu se infiltrou à paisana?
    -Exatamente.
    -Eu tou chocado. Mas confio em ti. Pode me dizer o que o Leonardo aprontou?
    -No momento não posso dizer nada. Eu preciso muito que você seja discreto. Posso contar com você?
    -Claro que sim.
    -Quero que você e Paulo estejam aqui no hotel em que estou hospedado. Tenho dois coletes à prova de balas para vocês.
    -Mas é pra tanto assim?
    -Não custa prevenir. Anote o endereço e venham imediatamente, ok? Flávio e Miguel já estão avisados.
    Paulo estranha a expressão de Giordano.
    -O que houve, querido?
    -Não tenho tempo pra explicar. Vamos encontrar André que ele te explica. CORTA A CENA.

    CENA 6: Algumas horas se passam. Giordano, Paulo, Flávio e Miguel deixam o hotel em que está André, junto com ele. Veridiana recebe as últimas instruções de seu pai.
    -Ouviu bem, né filha? Você sai assim que eu der o sinal e fica de campana. Qualquer coisa, você chama meus colegas daqui, tá certo?
    -Claro, pai. Eles já estão avisados?
    -Claro que sim, Veri. Essa investigação corre há mais tempo aqui do que em São Paulo.
    Giordano está visivelmente decepcionado.
    -Nunca esperei ser enganado por alguém desse jeito, que se dizia meu amigo, ainda por cima.
    -Procure disfarçar melhor, Giordano. Conto com sua discrição. - orienta André. CORTA A CENA.

    CENA 7: Fernanda e Pâmela deixam a clínica confiantes.
    -Ai, Pâmela... não sei porque, nem quero me iludir, mas tou achando que nessa primeira tentativa mesmo já pode ter vingado.
    -Nandinha, só vamos saber daqui algumas semanas. Além do mais, nem deu tempo do implante pegar ainda... isso leva dias.
    -Eu sei, amor... Mas tou com uma sensação boa. De repente é como se eu tivesse sido tocada por um amor maior que nem eu sei de onde vem... Um amor que é direcionado ao Murilo e não vem só de mim...
    -Que coisa, Nanda... será que tem relação com outras vidas?
    -Tenho quase certeza que sim.
    -Podíamos tentar ver isso com a tua avó, mas só depois da confirmação de que a inseminação pegou...
    -Pois é, eu tava pensando exatamente nisso. Mas mudando de assunto... tou preocupada é com outra coisa.
    -O que?
    -Andei tendo uns pesadelos e pressentimentos ruins...
    -Sobre?
    -Sobre a Laura.
    -Mas ela tá desencarnada, amor...
    -Justamente por isso.
    -Tou entendendo...
    -Fiquei com a clara sensação de que ela não desistiu de atingir o Flavinho e o Miguel de qualquer maneira. E ela deve estar no vale dos suicidas, logo ela deve estar trocando interesses com espíritos tão perturbados quanto ela.
    -Complicado isso, Nanda... mas temos que confiar em nossas orações, mentalizações e pensamentos positivos.
    -Eu sei, querida. Mas mesmo assim, espíritos de baixa vibração se aproveitam justamente das pessoas que estão em baixa vibração espiritual, seja por qual for o motivo... e esse mundo está cheio de pessoas que ignoram a própria espiritualidade. Esse é o grande problema...
    -Vamos manter a vibração positiva... é o que nos resta. CORTA A CENA.

    CENA 8: Ernestina termina de se vestir de empregada e ainda no banheiro da suíte de Leonardo, chora baixinho.
    -Nunca pensei que ele chegaria a esse ponto...
    Assim que para de chorar, lava o rosto e retoca a maquiagem.
    -Isso mesmo, mãe. Sabe que tu ficou gata com essa roupa?
    -Deixa de bobagem, Leonardo. Eu tou me sentindo humilhada com essa roupa.
    -É só dessa vez, mãe... tu nunca mais vai precisar passar por isso. Eu te prometo!
    -Chega de conversa. Teus convidados não estão chegando daqui a pouco?
    -Sim. Então está na hora de eu descer e fazer meu papel de empreguete. CORTA A CENA.

    CENA 9: Todos chegam à casa de Leonardo.
    -Essa aqui é Ernestina, minha empregada. - fala Leonardo, para todos. André percebe a expressão de humilhação e decepção no rosto de Ernestina e se compadece, sem deixar transparecer.
    -Vamos entrando, queridos! Ernestina faz uma comida dos deuses!
    -Dá pra reparar pelo cheiro... está delicioso! - fala André.
    Leonardo percebe que Giordano está quieto demais, mas não diz nada.
    -De qualquer forma, acho melhor bebermos alguma coisa de entrada, né? E que bela casa tu tem, Leonardo... parabéns! - fala Miguel, simulando simpatia por Leonardo, que cai em sua conversa.
    -É uma casa que dou um duro danado para manter. Tá na minha família desde os meus avós... - afirma Leonardo, para perplexidade de Ernestina.
    Todos fingem um clima de descontração. Ernestina sinaliza para André.
    -Vou ali na cozinha pegar uma lata de cerveja. Alguém mais quer?
    -Eu quero! - fala Leonardo.
    Quando André vai até a cozinha, Ernestina o aborda.
    -Tu tem um pouco daquele sonífero aqui?
    -Tenho. Mas vou deixar contigo porque carregar isso comigo não faz parte das minhas funções como policial federal... pode ser?
    -Claro. Eu assumo qualquer coisa.
    -Use apenas cinco gotas. Assim ele não dorme, apenas começa a ficar meio grogue e é aí que ele pode começar a dizer algumas verdades.
    Ernestina pinga as gotas indicadas por André na lata de cerveja de Leonardo. Instantes se passam e Leonardo começa a mostrar sinais de embriaguez avançada. André percebe que é hora de avisar Veridiana para acionar o restante dos policiais. Leonardo começa a falar.
    -Essa casa nem é minha! É de um casal de amigos que viajou pro exterior e fixou residência por lá. Eles nem sabem que me apropriei dessa casa!
    Leonardo ri descontroladamente. Miguel e Flávio observam a tudo. Giordano assiste a tudo perplexo.
    -Tu mentiu pra gente, Leonardo. Por que?
    -Porque eu quero acabar com as bichas desse mundo! Querem saber do que mais? Não tenho irmã lésbica coisa nenhuma, era tudo mentira. Vocês caíram feito patos! Patos, vocês são todos patos!
    Veridiana entra na casa, enfurecida.
    -E ainda inventou que namorava comigo. Eu nem sou daqui e meu nome é Veridiana. Agora é com o senhor, pai.
    -Leonardo Alves Carvalho, você está preso. FIM DO CAPÍTULO 42.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

CAPÍTULO 41


    CENA 1: Leonardo, ainda surpreso, abraça sua mãe.
    -Senti tanto a tua falta, mãe...
    -Se sentiu, por que não queria que eu viesse?
    -Ah, dona Ernestina... mal chegou e já vai começar a me cobrar?
    -Não, meu filho... Só queria entender.
    -Deixa eu tomar um café antes que minha cabeça tá explodindo!
    -Também, com a quantidade de cerveja que tomou ontem...
    -Vai me regular agora?
    -Não seja grosso comigo, Leonardo! Eu ainda sou tua mãe...
    -Desculpa, mãe...
    Leonardo toma o café e continua a conversar com Ernestina.
    -Mãe, não é um bom momento pra senhora ficar aqui. Tenho tido muita coisa para fazer nos dois empregos... Não conseguiria te dar muita atenção nesse momento.
    -Não me importa, filho... eu gosto de cuidar de ti. E mesmo assim eu ainda vou poder te ver, te abraçar...
    Leonardo se emociona.
    -Eu te amo tanto, mãe...
    Os dois se abraçam novamente.
    -Mãe, preciso me arrumar pro trabalho agora... se a senhora quiser me acompanhar lá na suíte...
    Ernestina sobe com Leonardo.
    -Filho, tu ainda não explicou direito sobre aquela vez que tu disse que não podia assumir diante dos outros que sou tua mãe...
    -Mãe, eu não posso porque ninguém sabe que sou filho de mãe solteira.
    -Mas isso não é vergonha nenhuma.
    -Mas eu tenho vergonha de não ter um pai.
    -Então tu tem vergonha de mim... - fala Ernestina, começando a chorar.
    -Ai, mãe... para com isso. Preciso me arrumar agora, senão me atraso.
    -Mas vê se não se esquece que eu te amo, meu filho.
    -Eu também te amo, mãe...
    Ernestina suspira, triste pelo comportamento do filho. CORTA A CENA.

    CENA 2: A tarde passa e a noite chega. Pâmela e Fernanda estão a caminho da ONG.
    -Pâmela, é importante que não falemos absolutamente nada sobre nossos planos de ter um filho para o pessoal da ONG. Só a nossa família deve saber, por enquanto.
    -Por que, Nanda?
    -Não é que eu não confie na maioria ali. Mas tem o Leonardo, que não me desce de jeito nenhum. Além do mais, sabemos que ele é suspeito de cometer crimes... Melhor não arriscar.
    -Mas tu não acha que tá exagerando, Nanda?
    -Não, Pâ... é melhor prevenir do que remediar. A gente nunca sabe ao certo do que o ser humano é capaz até que alguém faça algo de ruim...
    -Eu acho exagero, mas entendo a cautela. Aliás, nunca achei muito bom que as pessoas se exponham tanto. Certas coisas não interessam a ninguém, apenas às partes envolvidas...
    -Exatamente, amor... tu pegou bem o que eu queria te dizer.
    -Mas me diz uma coisa...
    -O que?
    -É amanhã mesmo a primeira tentativa de fertilização?
    -Sim, claro que sim! Entrei no meu período fértil hoje e amanhã é o melhor dia para tentarmos.
    -E se não der certo?
    -Vou estar preparada. É muito difícil conseguir logo na primeira tentativa...
    -Espero também estar preparada...
    -Vamos estar juntas, como sempre... Vamos superar o que for preciso. CORTA A CENA.

    CENA 3: Com todos na ONG, André começa a dar sequência no seu plano de desmascarar Leonardo.
    -Rapazes e garotas... o Leonardo é um cara SEN-SA-CIO-NAL, sabiam?
    Leonardo fica envaidecido pelo elogio de André e Miguel entende o que se passa. Flávio olha para ele com estranheza.
    -Confia nele, Flávio... - fala Miguel.
    André prossegue.
    -Tivemos horas ótimas de divertimento ontem. Sem falar que a casa do Leonardo é bem grande.
    Miguel entra no jogo.
    -É mesmo, André? Poxa, Leonardo... escondeu o jogo da gente esse tempo todo achando que a gente ia se aproveitar de ti por ser rico? Quanta bobeira...
    -Não, Miguel... é que eu sou bastante reservado mesmo... - fala Leonardo.
    Todos na ONG ficam a observar sem entender nada.
    -Por que não nos convida para uma birinight na tua casa, hein Leonardo? Somos amigos, afinal... - fala Flávio.
    Fabiano olha para Leonardo e faz um discreto sinal para ficar fora daquilo.
    -Está certo, queridos! Já que amanhã é sábado, não vejo problema nenhum nisso... Só que o horário eu confirmo amanhã pela manhã com vocês, porque tenho de avisar minha empregada de que vou receber amigos na minha casa.
    André estranha.
    -Não tinha empregada ontem, Léo...
    -Me esqueci de dizer... quinta é o dia de folga dela, sempre...
    -Ah, entendi... - fala Miguel, fingindo-se de desentendido.
    Discretamente, Miguel sinaliza para Flávio e André irem até a sala de reunião. Os três se fecham ali.
    -O que está havendo, afinal? - questiona Flávio.
    -A coisa parece ser mais grave do que imaginamos. Confiem em mim. Amanhã a máscara desse cara cai de uma vez por todas. CORTA A CENA.

    CENA 4: No Plano Espiritual, André Luiz e Joana de Angelis aconselham Olívia e Edilene.
    -Está chegando o momento de vocês reencarnarem... é bom que estejam bem certas de que é isso que desejam... - fala André.
    -Sobretudo, lembrem-se de que vocês estão indo para o processo reencarnatório por merecimento. Vocês aceitam as condições da próxima encarnação de vocês? - fala Joana.
    -Claro que sim... - fala Edilene.
    -Com o maior prazer! Só de saber que vou continuar sendo da mesma família do meu filho na última encarnação... é realmente um presente de Deus! - fala Olívia.
    -É importante que você saiba que não serão mais mãe e filho... Mas acho que não vai ser difícil você compreender isso. Lá no fundo, você sabe que a união de vocês vem de muitas encarnações... - rebate Joana.
    -Sinto exatamente isso. Um amor inexplicável, maior do que tudo... realmente incondicional
    -Lembre-se desse amor incondicional quando vocês estiverem mais crescidos. Vocês sempre precisaram um do outro... - afirma André.
    -Como tu pode afirmar isso? - questiona Edilene.
    -Vejam vocês mesmas: todos vocês, inclusive o Jorge, possuem uma forte ligação que ultrapassa várias encarnações. São espíritos que se uniram por afinidade e certamente não é por acaso que vocês vão voltar novamente no mesmo seio familiar, ainda que de forma não diretamente sanguínea. Laços espirituais são infinitamente mais verdadeiros do que qualquer significante terreno. Vocês tem sido constante prova disso através das encarnações. - afirma Joana.
    -Me alivia muito saber disso... - fala Edilene.
    -Vamos saber mais antes de voltarmos à vida terrena? - pergunta Olívia.
    -Claro que sim. Venham comigo e com o André Luiz. Nós temos algumas coisas para mostrar a vocês... - finaliza Joana. CORTA A CENA.

    CENA 5: Algumas horas passam e Leonardo chega em sua casa. Ernestina o recebe com um caloroso abraço de mãe.
    -Que cheiro maravilhoso, mãe!
    -Fiz as panquecas que tu sempre gostou de comer...
    -Sério isso? Ai, mãe... que falta eu tava sentindo desse teu cuidado comigo... - enternece-se verdadeiramente Leonardo.
    Ernestina observa o filho comer com satisfação. Logo após o jantar, Leonardo aborda sua mãe.
    -Mãe... nós temos algo sério a conversar.
    Ernestina, preocupada, apenas o ouve.
    -Convidei amigos meus para virem aqui amanhã pela noite. Só que eu preciso que tu vista o uniforme de empregada.
    -Como é que é isso, Leonardo? - ofende-se Ernestina.
    -Não se sente assim ofendida, mãe... tu sabe que eu tenho as minhas razões.
    -Que só fazem sentido pra ti mesmo, meu filho. Custava dizer que não tem pai? Ou sei lá, inventasse que ele morreu... qualquer coisa.
    -Mas não é essa a versão da história que meus amigos conhecem...
    -Tu quer me dizer que mentiu para eles?
    -Foi a única saída que eu encontrei.
    -Mas meu filho, vou me sentir humilhada em vestir um uniforme de empregada e fingir que não sou nada tua, que tu não saiu do meu ventre.
    -Mãe, por favor! É só essa vez. Nunca mais eu faço a senhora passar por isso de novo... eu te juro!
    -Vou pensar, Leonardo... vou pensar.
    -Mãe... a senhora sabe o quanto eu te amo. Só que não resta muito tempo pra ti pensar. Eu preciso confirmar o horário que eles podem estar aqui até o final da manhã de amanhã. Por favor, mãe... por mim! Só essa vez e eu nunca mais te peço isso!
    -Tá certo, meu filho. Eu vou fazer o que tu quer... Mas não espere que eu dê pulos de alegria ou trate os convidados com um sorriso estampado no rosto. Isso vai me doer.
    Leonardo abraça sua mãe.
    -Obrigado, mãe...
    -O que a gente não faz pelo abraço de um filho... CORTA A CENA.

    CENA 6: Fabiano está lendo um livro e pensando em tudo o que viveu nos últimos meses. De repente, flagra-se pensando nos últimos dias e por alguns instantes, volta à consciência da gravidade do que está por fazer.
    "Não é certo isso... Não posso trair meu primo. Ele sempre foi tão bom comigo! Não só ele, mas todo mundo aqui gosta de mim, todo mundo me trata bem, todo mundo quer que eu supere o luto e seja feliz. Não é justo eu pensar só em mim. Não é justo eu estragar a felicidade alheia para ter a minha... Não sei onde eu estava com a cabeça quando resolvi me unir àquele cara estranho... O Leonardo sim, esse não presta, esse sim merece se ferrar na vida. Mas não o meu primo, não a minha família... Não importa que eu tenha me apaixonado pelo Miguel. Isso é um conflito que eu tenho que resolver sozinho. Nem devia ter falado nada a ele... isso só me faz sofrer mais ainda. Ah, quer saber? Vou ligar agora mesmo pro Leonardo e dizer que ele pode esquecer da nossa parceria!"
    Fabiano começa a discar para Leonardo e quase aperta no botão de chamar, mas antes é detido pela força sinistra de Laura, que o paralisa.
    "O que é isso, Fabiano? De repente tu virou um arregão que não sabe lutar pelo teu sonho de vida? Vai entregar o ouro na mão do inimigo? Não se ilude, seu tonto. O Flávio não presta, aquela bondade dele é tudo fingimento. Luta pelo amor do Miguel que tu vai conseguir, é questão de tempo! E confia no Leonardo que esse cara é teu amigo sim! Não fica aí com essa babaquice de crise de consciência porque isso é coisa de gente bundona. Acho que tu não quer ser um bundão nessa vida... ou quer?"
    A influência de Laura é suficiente para fazer Fabiano mudar de ideia.
    -Ah, quer saber? Foda-se essa gente. Quem tá na chuva é pra se molhar e ninguém mandou o Flávio atrapalhar o meu caminho... CORTA A CENA.

    CENA 7: No vale dos suicidas, Laura retorna às gargalhadas. Davi a aborda.
    -Que riso frouxo é esse, gata?
    -Ah, Davi... Como é fácil manipular um fraco! Eu fui lá naquele lugar de novo e fiz o Fabiano se voltar de vez contra aquela bicha imunda do Flávio... ai, como foi fácil...
    -Foi? Conta mais, adoro saber dessas coisas!
    -A bichinha fraca teve uma crise de consciência, se sentiu culpado, queria arregar... Aproveitei a culpa dele e fiz a festa!
    -Tu tá me saindo melhor que a encomenda, hein? Além de ser ótima no sexo, tá se saindo uma bela de uma influnciadora! Além de me conseguir a pedra. Aliás, trouxe quanto agora?
    -Pega ali a sacola que eu deixei atrás da árvore seca.
    Davi se admira com a quantidade de drogas que Laura conseguiu plasmar.
    -Cada vez melhor! Essa noite eu transo contigo com gosto!
    -Que tu tá falando, Davi? Aqui é sempre noite...
    -Ah, tu me entendeu, gata...
    -Mas enfim... deixa eu falar mais que eu tou me roendo de vontade!
    -Prossiga, a voz é sua...
    -O Fabiano é mesmo um fracote de merda, viu? É uma maravilha trabalhar com gente assim. E o babaca ainda acha que os pensamentos são dele mesmo... é uma comédia!
    Laura gargalha e prossegue falando.
    -Eu tou morta, mas não tou fraca! Adoro isso!
    -Então chega de enrolação e vem cá se ajeitar comigo, vem...
    Davi e Laura se entregam à lascívia. CORTA A CENA.

    CENA 8: Antes de dormir, Miguel conversa com Flávio.
    -Amor, tu acha mesmo que o Leonardo vai seguir com essa ideia da gente ir na casa dele?
    -Acho sim. Mesmo porque ele "confia" em mim. Me trata como se eu fosse a criatura mais ingênua do mundo...
    -É, mas não vamos fazer nada. Lembra que o André disse pra deixar tudo por conta dele e da Polícia Federal?
    -Lembro.
    -Então é por isso mesmo que devemos ficar quietos. Quanto maior o sigilo, maior a possibilidade de tudo dar certo.
    -Se nós pelo menos soubéssemos o que o André tem em mente...
    -No tempo certo, nós vamos saber...
    -Amor, agora eu tou muito cansado. Não tou nem com disposição pra sexo... preciso muito dormir.
    -Sem problemas, querido. Também tou cansado. Boa noite, amor. CORTA A CENA.

    CENA 9: A noite passa e o dia amanhece. Fabiano se acorda decidido a seguir com o plano de tirar Miguel de Flávio e liga para o celular de Leonardo, que está despertando naquele momento. Ao ver que se trata de Fabiano, atende prontamente.
    -Falaí, rapazinho! O que manda?
    -Leonardo, como tu deve ter presumido ontem, é melhor eu não dar as caras na tua casa, afinal de contas somos conhecidos e não existe amizade entre nós, pelo que sabem... é melhor que continuem a pensar assim.
    -Claro, eu entendo! Mas me diz: tu sabe o que vai fazer pra colocar o plano em ação?
    -É aí que tá, Leonardo. Tem como nos encontrarmos logo depois do fechamento da ONG no início da tarde?
    -Claro, desde que seja rápido.
    -Maravilha, então. Me encontra dentro da Usina do Gasômetro que eu vou estar lá te esperando a partir das 13:30, ok?
    -Beleza, rapazinho! Mas me diz mais uma coisa... o que tu tem em mente?
    -Eu quero separar os dois, isso já não ficou suficientemente claro?
    -Ficou, só quero saber como vamos fazer isso.
    -Mais tarde nos falamos, ok? Agora preciso desligar. Tchau.
    Fabiano desliga sorridente.
    -O Miguel vai ser meu, custe o que custar! FIM DO CAPÍTULO 41.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

CAPÍTULO 40


    CENA 1: Veridiana vibra com a constatação do pai.
    -Tem certeza disso?
    -Absoluta.
    -Como você pretende agir de agora em diante?
    -Filha, não vai ser nada difícl ganhar a confiança desse cara... já que ele é tão vaidoso, basta apenas que eu massageie o ego dele.
    -Mas você não acha isso arriscado?
    -Nem um pouco...
    -Mas se ele tiver tendências assassinas?
    -É uma possibilidade que não se descarta, mas confio na minha experiência. São mais de dez anos na Polícia Federal, filha... relaxa.
    -É, mas não esquece que aqui você tá sozinho...
    -É melhor que pensem que estou. Mas a Polícia Federal daqui já está informada do caso.
    -Maravilha! Mas... me conta mais sobre o que você planejou.
    -Bem, como você sabe, eu vou dar meu jeito de plantar a escuta no telefone dele.
    -É, mas não me disse exatamente como vai fazer isso.
    -Basta massagear o ego dele para ganhar a confiança dele. Depois, é um pulo para chegar até a casa dele.
    -Ainda acho arriscado...
    -Engraçado que você não calculou os riscos quando você foi por conta própria na casa dele, né filha?
    -Poxa, pai... assim não vale.
    -O risco é exatamente o mesmo. As possibilidades de sucesso também!
    -Nisso você tem razão...
    -Então não há o que temer, filha... Em todos esses anos de polícia eu aprendi que o medo não pode nos paralisar, mas sim nos desafiar. Afinal de contas, minha profissão não é para qualquer um... O fato é que esse cara se superestima, mas deixa muitos furos pelo caminho. Acha que engana as pessoas, mas também pode ser facilmente enganado. CORTA A CENA.

    CENA 2: A noite passa e o dia amanhece. Paulo está acordado, demonstrando ter dormido pouco, quando Nadir também desperta e o encontra pensativo.
    -Caiu da cama, Paulo?
    -Mal consegui pregar o olho, Nadir...
    -Por que?
    -Nós precisamos conversar...
    -Sobre o Giordano?
    -Exatamente. Sabe, Nadir... mesmo depois de ter assumido publicamente que sou gay, não foi fácil para mim aceitar que eu tou gostando dele...
    -Gostando não, Paulo... eu vejo como tu olha para ele... acho que tu tá amando ele.
    -Cedo demais para eu poder afirmar isso, querida... Mas sim, eu tou apaixonado por ele.
    -Mais um motivo para apressarmos a papelada do nosso divórcio, não acha?
    -Verdade... tinha até me esquecido que ainda não nos divorciamos.
    -Paulo, tu merece muito ser feliz. Luta por esse amor!
    -Mas nem amor eu posso afirmar ainda que é...
    -Geralmente amores começam com paixões... é natural, meu querido...
    -Nunca pensei que tu trataria tudo isso com tanta naturalidade.
    -Ah, querido... de que ia adiantar eu insistir em remar contra a maré? Todo mundo ia seguir suas vidas e eu ia me prender a um sofrimento desnecessário. Também tou fazendo isso por mim, né...
    -Eu te admiro cada vez mais, Nadir...
    -Então luta por esse amor, Paulo!
    -Mas como? Tenho tanto medo de ser rejeitado...
    -Tu nunca vai saber se não tentar...
    -Tá certo... me convenceu! Eu vou lutar pelo Giordano! CORTA A CENA.

    CENA 3: Pâmela desperta bem disposta e acorda Fernanda aos beijos.
    -Nossa, Pâ... que bicho te mordeu?
    -Nada demais, apenas a felicidade de ter uma mulher maravilhosa do meu lado.
    -Iiiih... o que é que tu tá querendo me pedir, hein sua safada? - brinca Fernanda.
    -Nandinha... tomei uma decisão.
    Fernanda senta-se imediatamente na cama.
    -Que decisão?
    -Avisa o teu irmão e o Miguel que vamos demorar mais para chegar na ONG hoje.
    -Por que?
    -Porque depois que a gente soltar do trabalho, nós vamos para o Moinhos de Vento.
    -Pra que?
    -Tu não entendeu ainda, Nanda? Pensei que tu fosse mais esperta...
    -Não pode ser...
    -Pode sim. A conversa com a tua avó ontem foi maravilhosa... me fez enxergar muitas coisas. Vamos ver as possibilidades de tu ser fertilizada.
    -Tu tá falando sério?
    -E por que não estaria?   
    -É que até ontem tu parecia sofrer com isso...
    -Também quero ser mãe, Fernanda. Se não posso gerar um bebê e tu pode, não temos outra opção. Só quero que tu me prometa uma coisa...
    -O que?
    -Que tu não escolha o doador por etnia.
    -Nem me ocorreu isso... na realidade, prefiro nem saber quem é o doador... acho bem melhor assim.
    -Então tá combinado pra depois do trabalho?
    -Oh, minha querida...
    As duas se abraçam, emocionadas. CORTA A CENA.

    CENA 4: As horas do dia vão passando e na tela aparece André se aproximando cada vez mais de Leonardo, que se envaidece com os elogios de André. Flávio estranha a súbita "amizade" entre os dois, mas Miguel compreende. Mais algumas horas se passam e a ONG está quase sendo fechada. Flávio não se contém e chama Miguel para a sala de reuniões.
    -Miguel... tu não achou estranho demais o André ter ficado tão amiguinho do Leonardo?
    -Na realidade, faz sentido.
    -O que tu tá querendo dizer?
    -Espera um pouco que eu vou chamar o André aqui para esclarecer minhas desconfianças.
    Miguel sai da sala de reuniões e chama André.
    -Tu pode vir comigo até a sala de reuniões? - pergunta Miguel.
    -Claro, Miguel...
    Leonardo não suspeita de nada. Miguel fecha a porta.
    -André, nós precisamos falar sobre o Leonardo... estamos desconfiando de que ele não seja exatamente um militante.
    -Eu sei disso, Flávio.
    -Sabe?
    -Sim. Eu sou agente da Polícia Federal e estou investigando o Leonardo. Vim de São Paulo justamente para isso.
    Flávio fica surpreso.
    -Não me surpreende. Eu sabia que podia confiar no André... - fala Miguel a Flávio.
    -Rapazes, preciso orientar vocês a não investigarem absolutamente nada por conta própria. Eu e outros policiais federais daqui estamos fazendo isso já.
    -Tudo bem... - compreende Miguel.
    -Mas podemos saber exatamente quais são as suspeitas que recaem sobre ele? - questiona Flávio.
    -No momento ainda não, rapazes... Preciso ter provas. Confiem em mim que logo ele vai ser punido.
    -Tudo bem... - fala Flávio, relutante. CORTA A CENA.

    CENA 5: Todos já estão em casa e Sônia percebe a expressão animada de Fernanda e Pâmela.
    -Viram o passarinho verde, gurias?
    -Quase isso, mãe...
    -Vocês querem falar alguma coisa comigo?
    -Na verdade, com todos vocês... Demora muito pro Miguel sair do banho?
    -Não, ele tá descendo já na verdade.
    -Maravilha... - fala Pâmela.
    -Bem, agora que estão todos aqui, temos uma novidade a contar. - fala Fernanda, fazendo suspense.
    Antônio, Flávio, Miguel, Sônia e Fabiano aguardam ansiosamente.
    -Fala logo, filha!
    -Decidimos ter um filho!
    -Como, minha filha? - questiona Antônio.
    -Fomos hoje no Moinhos de Vento buscar informações sobre fertilização in vitro e eu aproveitei para fazer exames de fertilidade. Posso ser mãe quando eu quiser! - vibra Fernanda.
    -Filha, tu tá ciente da responsabilidade? - preocupa-se Sônia.
    -Claro que sim, mãe... além do mais, a Pâmela deseja muito isso também...
    -Que Deus ilumine o caminho de vocês... - fala Miguel, emocionado. CORTA A CENA.

    CENA 6: André e Leonardo estão bebendo cerveja num barzinho.
    -Meu, tá muito frio aqui... nossa!
    -É que tu não deve estar acostumado com o clima de Porto Alegre, André...
    -Tem razão.
    -Com o tempo se acostuma.
    -Acho que vou pedir mais cerveja para me esquentar...
    -Tenho uma ideia melhor, André...
    -Qual, Leonardo?
    -Eu compro um engradado e nós vamos para minha casa, lá tem calefação.
    -Ótimo! Só deixa eu pagar a minha comanda aqui. Onde você vai comprar as cervejas?
    -Tem um mercadinho aqui perto.
    Leonardo compra o engradado no mercadinho e os dois vão para a casa dele. Algumas poucas horas se passam e André finge estar muito embriagado.
    -Acho que não tou muito legal, Leo...
    -Também, eu disse pra não beber tão rápido...
    André finge um desmaio. Leonardo estapeia levemente o rosto de André, que não reage.
    -Puta que pariu! Além de banana não sabe beber!
    Leonardo vai até o seu banheiro e encontra um vidro de perfume para reanimar André. André, ao perceber que Leonardo tinha deixado a sala, despeja uma quantidade segura de sonífero no copo de Leonardo. Leonardo volta com um pano embebido de perfume e logo André finge reanimar.
    -Falei pra beber devagar, rapaz!
    -Me consegue um copo dágua pra eu conseguir beber o restante da cerveja?
    -Claro.
    Leonardo vai à cozinha e dá água para André, que finge estar apenas levemente embriagado.
    -Tranquilo pra beber mais, André?
    -Claro! - fala André, servindo mais cerveja em seu copo e no copo de Leonardo, que bebe até quase esvaziar o copo. Pouco depois, começa a sentir sono.
    -Bah, cara... acho que também passei da medida... tá me dando uma leseira!
    -Ué, você não disse que cerveja nunca te derruba?
    -Disse, mas...
    Leonardo sente um sono irresistível e acaba dormindo no sofá. André se certifica que Leonardo dormiu e instala a escuta no telefone do quarto de Leonardo. Assim que termina, leva Leonardo para sua cama e vai embora.
    -Missão cumprida! CORTA A CENA.

    CENA 7: André chega ao hotel e ao quarto onde ele e Veridiana estão hospedados. Veridiana o aguarda ainda acordada.
    -Parabéns, pai! Eu vi que o senhor conseguiu direitinho!
    -Foi simples demais, Veri!
    -Por um momento eu pensei que não pudesse ser...
    -Esse Leonardo é um poço de vaidade. Chegou a tripudiar em cima da minha suposta ingenuidade quando fingi desmaiar de bêbado.
    -Sério, pai? Não achava que fosse tanto.
    -Mas é. O grande mal dele é se achar acima do bem e do mal, achar que pode enganar qualquer pessoa com as histórias fantásticas e fantasiosas dele...
    -Nossa, pai... cê não sabe como eu tenho raiva desse filho da puta!
    -Não adianta ter raiva, filha...
    -Como não? Esse cara roubou fotos minhas, apenas para inventar um relacionamento fictício diante de todos!
    -De fato, isso é um crime...
    -E me invadiu completamente, pai! Pelo que apurei do perfil dele na rede social, ele disse que eu era uma devassa completa, sem princípios morais de respeito ao próximo, inclusive...
    -Mas filha, esse rapaz é um doente.
    -Se é doente deveria se tratar adequadamente, mas não expor pessoas que ele nunca conheceu para alimentar sua mania de mentir e enganar a todos.
    -Entendo sua revolta e me revolto tanto quanto você. Mas você há de convir que ele só pode receber as devidas punições quando seus crimes forem provados. Antes disso, não temos nada... Infelizmente precisamos sempre de provas.
    Veridiana começa a chorar.
    -Não fica assim, filha...
    -Como não, pai? Esse cara me difamou para um número incalculável de pessoas!
    -É, mas foi um tanto burro ao ignorar que você descobriria e que existe amparo jurídico para delitos virtuais... Mas a suspeita não é só essa, Veridiana... Ele também é suspeito de ter mentido em juízo.
    -Como assim, pai?
    -Depois eu te explico melhor. Agora eu tou exausto e preciso dormir.
    -Eu também, pai... Boa noite... CORTA A CENA.

    CENA 8: Leonardo se acorda com o som de seu despertador e sente sua cabeça pesar.
    -Nossa, que ressaca, cara!
    Com dificuldade, Leonardo se levanta e vai até o banheiro de sua suíte lavar o rosto.
    -Preciso urgente de um café... que dor de cabeça dos infernos!
    Leonardo sente uma forte tontura e decide se recuperar sentado em sua cama. Assim que consegue se sentir melhor, vai descendo lentamente as escadas de sua casa, em direção à sala. Assim que visualiza a mesa de centro, estranha o fato de estar tudo arrumado.
    -Onde é que foram parar as garrafas vazias de cerveja? Será que aquele banana arrumou tudo pra mim?
    Leonardo segue descendo as escadas e ao chegar ao sofá, se joga.
    -Saco de dor de cabeça! Nunca que só cerveja me deu isso... devo estar ficando velho.
    De repente, Leonardo sente um forte enjoo e sente que vai vomitar, correndo até o lavabo. Ao sair, pragueja consigo mesmo.
    -Além de velho, de estômago fraco. Era só o que me faltava...
    Ao caminhar para a cozinha, ouve o barulho do microondas ligado.
    -André? Tu não foi embora não, cara?
    Ao chegar na cozinha, Leonardo fica completamente surpreso. É Ernestina que está ali, preparando um café da manhã para seu filho.
    -Mãe? O que a senhora tá fazendo aqui? Eu não te disse que esse não era um bom momento pra vir pra Porto Alegre?
    -Não vai dar um abraço na sua velha mãe? Senti saudade, meu filho... FIM DO CAPÍTULO 40.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

CAPÍTULO 39


    CENA 1: Fabiano dá uma risada maliciosa e ao seu lado aparece Laura, com o mesmo sorriso maldoso. Fabiano segue lembrando da conversa que teve com Leonardo na ONG.
    -Isso mesmo, garoto! Tu é mais rápido e esperto do que eu imaginei...
    -Bondade sua pensar isso de mim. Tenho meus motivos para querer separar os dois. Tu também tem os teus... nada mais natural que nos juntarmos para separar o casal 20.
    -Concordo. Mas precisamos agir com cautela.
    -Disso eu não tenho dúvida. Mas que tipo de cautela?
    -Simples... para todos os efeitos, nós não somos amigos.
    -Mas nós não somos amigos, Leonardo... temos apenas um interesse em comum.
    -Tu entendeu o que eu quis dizer... não te faz de salame, guri...
    -Então tu tá querendo me dizer que...
    -Isso mesmo. Para todos os efeitos apenas nos conhecemos de vista. Não temos nenhuma intimidade ou afinidade. Nossa conversa de hoje foi apenas para nos conhecermos e nada mais. É isso que temos que falar para quem perguntar.
    -Mas tu acha que alguém pode desconfiar de alguma coisa?
    -Em todo caso, é melhor prevenir do que remediar.
    -Nossa, Leonardo... tu pensa mesmo em tudo!
    -E tu é mais esperto que pensa...
    -Como assim?
    -Não te faz de menininho inocente pra cima de mim que não cola, tá? Tu pegou rapidinho o espírito da coisa.
    -Peguei mesmo.
    -Só que tu tem que me fazer uma promessa.
    -Que tipo de promessa?
    -Antes de me prometer eu preciso saber uma coisa de ti.
    -O que é, Leonardo?
    -Fabiano, tu tá disposto a passar por cima de quem for preciso passar para obter o que deseja?
    -Claro que sim!
    -Então me promete que não vai ter piedade de ninguém, muito menos do Flávio.

    Fabiano volta de suas lembranças, sentindo uma ponta de piedade de Flávio, mas logo repreende seu pensamento.
    -Nada de piedade... preciso ir até o fim, agora que comecei... CORTA A CENA.

    CENA 2: Fernanda e Pâmela estão se preparando para dormir, ainda conversando.
    -Pâ... eu sei que te dói demais saber que não pode ter filhos, mas me responde uma coisa.
    -O que?
    -Quando tu ficou sabendo disso?
    -Bem, na realidade eu fiquei estéril depois dos dezessete anos, quando tive um tumor benigno no útero...
    -Mas se era benigno...
    -Com o tempo tinha o risco de se tornar maligno. Não tive alternativa, senão aceitar que meu útero seria removido para manter minha vida a salvo. Além do mais, mesmo que eu mantivesse o útero, além de correr o risco de ter câncer, talvez eu nunca realmente conseguisse engravidar...
    Fernanda fica muito sensibilizada pela história de Pâmela e começa a chorar.
    -Me desculpa, amor... Nunca imaginei que fosse assim. Entendo muito essa dor que tu sente...
    -Mas agora eu também sei que ninguém tem culpa disso... tinha de ser assim.
    -Sabe, querida... acho que deveríamos falar tudo isso para a minha avó e pro Seu Breno...
    -Também acho... quem sabe assim eles consigam me tornar mais receptível para a ideia de tu engravidar... CORTA A CENA.

    CENA 3: A noite passa e o novo dia amanhece. Algumas horas se passam e todo o pessoal do primeiro turno de atendimento está na ONG. De repente, toca a campainha e Giordano vai atender.   
    -Bom dia. Posso ajudar em alguma coisa?
    André se apresenta.
    -Bom dia. Me chamo André. Como você se chama?
    -Giordano. Tu não é daqui, né?
    -Não... venho de São Paulo, mas estou fixando residência aqui e fiquei sabendo da ONG. Sempre me interessei por causas humanitárias, então resolvi conhecer o local.
    -Por favor, André... entre e conheça nossas instalações. - prontifica-se Giordano.
    André entra e conhece a todos do primeiro turno, inclusive a Leonardo, que finge não conhecer.
    -Então funcionamos assim, André... - explica Giordano.
    -Achei ótimo. Vocês já estão bem avançados para uma equipe que trabalha a poucos meses nisso...
    -É que nos esforçamos em manter tudo sempre ativo... - anima-se Fernanda, demonstrando imediata simpatia por André.
    -Percebo claramente isso... qual seu nome?
    -Fernanda. Gostei de ti, André... vejo que é um bom homem.
    Leonardo observa e comenta discretamente com Fabiano, sem que percebam.
    -Mais um babaca se achando o salvador dos fracos e oprimidos... esse cara transpira ingenuidade.
    Fabiano ri discretamente enquanto André continua conhecendo as atividades da ONG. Alguns minutos se passam e Leonardo se aproxima de André, pensando que este é completamente ingênuo.
    -Então, André... empolgado com a ONG?
    -Muito. Nem me importa o que eu vá fazer aqui dentro, já me sinto muito bem em estar novamente envolvido numa causa humanitária.
    -Sou o Leonardo. Acho que podemos ser bons amigos.
    -Eu não tenho dúvidas disso... - fala André, simulando ingenuidade. CORTA A CENA.

    CENA 4: No Plano Espiritual, Ricardo e Adriana estão em tratamento juntamente a vários outros espíritos recentemente desencarnados, amparados por André Luiz e sua equipe. Adriana é a primeira a abrir os olhos, seguida de Ricardo.
    -Amor, como tu tá?
    -Com muito sono ainda, Adriana...
    -Também sinto esse cansaço. Há quanto tempo estamos aqui?
    -Não faço ideia...
    -Será que aquele homem de túnica bege saberia nos dizer?
    Adriana caminha lentamente até André Luiz.
    -Moço... que lugar é esse? Faz tempo que estamos aqui?
    -Vocês estão na ala de recuperação.
    -Sei. Já entendi que desencarnamos... Acho que o Ricardo também. Podemos ver nosso filho?
    -Ele está encarnado.
    -Eu sei disso... como é teu nome?
    -André Luiz. No momento vocês ainda precisam se recuperar e para isso precisam de muito descanso ainda. Quando vocês se recuperarem por completo, vão conseguir ver Fabiano.
    -Mas eu não quero dormir agora, André... Temos que ver nosso filho...
    -Agora não, minha querida. O desencarne de vocês foi algo bastante custoso para o perispírito de vocês... Não vê que Ricardo já voltou a dormir?
    -Vi...
    -Então, minha querida... não se preocupe. Volte a dormir que quando a recuperação se concluir, vocês vão estar preparados para acompanhar o filho de vocês nas lutas cotidianas dele... que não são poucas.
    Adriana caminha lentamente até a cama e adormece novamente. CORTA A CENA.

    CENA 5: Patrícia está terminando mais uma sessão de fisioterapia para continuar a recuperação dos movimentos de sua mão, acompanhada de Nadir, Paulo, Fabrício e Henrique. Ao fim da sessão, todos vão almoçar. Fabrício se entende muito bem com Nadir.
    -Sabe, Nadir... não vejo a hora de poder casar com a Pati.
    -Desejo muito que vocês consigam, tu é um genro maravilhoso e faz a  minha filha muito feliz.
    -Mas mãe, eu sou oficialmente um homem nos meus documentos ainda... não quero me casar enquanto eu for Carlos Eduardo diante da lei. - fala Patrícia.
    -Pra mim não tem diferença nenhuma, amor... - fala Fabrício.
    -Mas pra mim tem. Não sou homem, sequer sou gay. Sou uma mulher heterossexual que nasceu no corpo biologicamente masculino... não quero casar desse jeito.
    -Mas filha, a lei já reconhece o casamento de pessoas do mesmo sexo. - lembra Paulo.
    -Ótimo que reconheça, pai. Vai ser bom pra ti no dia que tu quiser se casar com um homem, mas não é o meu caso. Eu sou uma mulher e enquanto não for reconhecida diante da lei como tal, não posso me casar. Não quero isso...
    -Eu entendo, amor... - compreende Fabrício.
    -Mas gente, nem sabemos quando que a Pati vai conseguir a mudança dos documentos... geralmente é um processo lento... - analisa Henrique.
    -Mas cunhado, acho que a Pati se dispõe a esperar... e eu respeito a decisão dela.
    -Exatamente, meu amor.
    -Mas minha filha... o Fabrício te ama como a mulher que tu sempre foi... tanto que ele viu isso antes de mim... - fala Nadir.
    -Tu não sabe como eu fico feliz de ouvir tu dizer essas palavras, mãe...
    -Eu deveria ter visto desde o começo, desde que tu era criancinha e te apoiar. Se tu soubesse de como me arrependo das atitudes que tomei desde teus dezessete anos...
    -Não importa mais, mãe... é passado. A gente não vive de passado.
    -É, mas eu sou canceriana e não me esqueço.
    Todos riem do bom humor de Nadir diante de tudo.
    -Não faz mal esperar o tempo que for preciso. Já vivemos uma vida de casal... independente do que diga a lei... - fala Fabrício. CORTA A CENA.

    CENA 6: A tarde passa e a noite se anuncia. Flávio e Miguel já estão na ONG, acompanhados de Lucas e Rômulo, que chegam quase ao mesmo tempo. Patrícia, Nadir, Fabrício, Henrique e Paulo já estão na ONG. Assim que chegam, são apresentados a André.
    -Seja muito bem-vindo, André. É sempre bom mais pessoas se agregando a essa nossa luta! - fala Miguel.
    -Faço minhas as palavras do Miguel. - completa Flávio.
    Miguel e Flávio partem rapidamente para a sala de reuniões.
    -Flávio, tive uma ótima impressão desse André... esse cara realmente é bem intencionado.
    -Que milagre te ouvir dizendo isso logo de primeira...
    -Já devia ter se acostumado. A cada dia que passa, tenho mais certeza que minha intuição dificilmente me engana...
    -Verdade, amor...
    -Sabe o que me chamou mais a atenção nele? Senti nele um grande senso de justiça, de retidão de caráter.
    -Isso é ótimo. Tu tá pensando o que eu tou pensando?
    -Se for em relação à investigação que estamos fazendo, sim.
    -É. Acho que poderíamos falar com ele sobre nossas desconfianças.
    -Vamos esperar mais um pouco, dar um tempo. Assim, logo de entrada, pode até deixar ele assustado.
    -Tu tem razão. Além do mais, temos que conhecer melhor o André.
    -Acho que ele não nos decepcionaria, Flávio...
    -De qualquer forma é muito cedo para termos tantas certezas. Vamos ver como as coisas se desenrolam, antes de tomar qualquer decisão...
    -Tu tá certo... CORTA A CENA.

    CENA 7: Pâmela e Fernanda estão no centro espírita de Breno e Otília.
    -Vó... a Pâmela precisa muito conversar com a senhora...
    -Eu sei disso, Nandinha...
    -Sabe? - espanta-se Pâmela.
    -Claro que sim, querida. Sei que a ideia da Fernanda engravidar por inseminação te deixa um pouco perturbada... Mas isso é natural, diante de tudo o que tu passou...
    -A Nanda te disse alguma coisa?
    -Nada. Basta olhar nos teus olhos para entender tudo o que se passou...
    -A senhora é tão evoluída... se um dia eu for um terço do que a senhora é, vou me sentir muito útil na vida das pessoas que quero bem...
    -Isso é só o teu olhar generoso para comigo, Pâmela...
    -Mas então... o que a senhora queria me dizer?
    -Nandinha... pode nos deixar a sós por um momento?
    -Claro, vó... vou para a sala principal.
    Otília fica sozinha com Pâmela.
    -Pâmela, minha querida... Tu sabe como o espiritismo é realmente presente na vida de todos nós, não sabe?
    -Sei sim, dona Otília...
    -Também sabe que dentro desse teu coração existe muito amor para dar, não sabe?
    -Claro que sim...
    -Então? Qual é o grande problema? Qual é o grande mistério nisso tudo? Veja bem, entendo perfeitamente que te doeu perder o útero tão jovem... Mas tu não pode fazer dessa frustração algo que tire a liberdade da Nandinha escolher fazer a fertilização...
    -Eu sei disso, dona Otília... mas me dói não poder ser eu a carregar uma criança no meuj ventre.
    -Me responde uma coisa, querida... Tu ia amar menos uma criança por ela não ter saído de dentro de ti?
    -Não... de jeito nenhum. Eu quero ter filhos.
    -Então procura superar essas tuas dores... tenho certeza que tu vai ser uma ótima mãe!
    -Vou fazer o meu melhor, dona Otília...
    -Não tenho a mínima dúvida disso. Procura refletir sobre todas essas coisas e eu tenho certeza que não demora muito, tu consegue superar esses fantasmas do passado. A gente vive o presente, minha querida... Não adianta lamentar o que já passou...
    -Espero conseguir mesmo...
    -Claro que consegue! CORTA A CENA.

    CENA 8: André, depois do fechamento da ONG, chega no hotel onde ele e Veridiana estão hospedados.
    -E aí, pai? Como foi lá?
    -Olha, realmente a ONG é um ótimo lugar... Todos ali lutam para a construção de um mundo mais justo, mais igualitário... foi realmente bonito de se ver, sabe?
    -Sei...
    -Chega a ser tocante ver tanta gente jovem com tanta vontade de mudar o que já devria ter sido mudado...
    -Que bom, pai... Mas você ainda não me falou como foi o primeiro contato com o Leonardo.
    -Olha, filha... ele é um cara realmente bastante articulado...
    -Sei... que mais?
    -Articulado, porém não prima por ter grande inteligência...
    -Eu te disse...
    -Vejo que ele tem excesso de auto-confiança, como se de alguma forma ele se sentisse acima do bem e do mal.
    -Não me surpreende essa visão.
    -Mas o mais importante é que vai ser muito mais fácil do que imaginávamos conseguir fazer ele morder a isca... a vaidade dele é tão grande que ele se deixa cegar por ela... FIM DO CAPÍTULO 39.

terça-feira, 24 de junho de 2014

CAPÍTULO 38


    CENA 1: Laura ri descontroladamente.
    -Ah, como é fácil manipular essa gente fraca... Nem precisei me esforçar muito. Agora é questão de tempo pra destruir essa bicha nojenta do Flávio...
    Por um momento, Fabiano volta a si e percebe a gravidade das palavras que acabou de dizer.
    -Não, isso não é certo. Não posso querer tomar o lugar da vida de ninguém, vai contra tudo o que sempre acreditei.
    Laura se irrita com a aparente ineficácia de sua influência espiritual sobre Fabiano.
    -Não é possível!
    Laura começa a soprar palavras no ouvido de Fabiano, que novamente fica influenciado por ela.
    -Mas se eu não lutar pelo meu lugar ao sol, quem vai fazer isso por mim? Não tenho ninguém. Sou um peso na vida de todo mundo nessa casa, mas isso vai mudar... ah, se vai! Todos vão me amar, exatamente como amam o Flávio. Nem que pra isso eu tenha que tirar esse cara do meu caminho.
    Laura novamente se afasta e ri. Novamente Fabiano volta a si por um instante.
    -Não, não posso fazer nada disso. Ele é meu primo, um cara maravilhoso, com o coração gigante! Não posso...
    Laura aproxima-se novamente de Fabiano.
    -E daí que ele é primo? Primo não é irmão. Nem irmãos eu tive! Além do mais, duvido muito que alguém seja tão bom quanto o Flávio tenta parecer para todos. "Oh, como eu sou bonzinho... Oh, como eu sou generoso... Oh, como eu sou bom filho, bom irmão, bom pai, bom santinho do pau oco!" É isso que esse desgraçado é: um santinho do pau oco! Essa bondade toda dele é tudo fingimento, aposto! CORTA A CENA.

    CENA 2: Laura está novamente no vale dos suicidas, onde Davi, outro espírito suicida, a aborda.
    -E aí... trouxe a pedra que eu te pedi?
    -Foi um custo achar um usuário nas minhas andanças por lá... Mas eu consegui bastante pedra pra ti sim.
    -Maravilha... Mas tá faltando outra coisa.
    -O que é agora, Davi?
    -Tu me disse que faria tudo o que eu quisesse para continuar visitando aquele lugar, não é?
    -Disse. Sou mulher de uma palavra só.
    -Então, Laura... Tu é muito gostosa... Só essa tua cara que tá acabada, mas tu é gostosa...
    -O que tu quer de mim?
    -O teu corpo. Quero transar contigo, não entendeu?
    -E se eu disser que não quero?
    -Eu posso deixar de facilitar teu acesso àquele lugar lá que tu gosta tanto de ir.
    -Mas conseguir as pedras de crack não foi suficiente?
    -Não.
    -Tu tá me pedindo para eu agir como uma prostituta.
    -Nada que tu já não tenha feito.
    Laura dá um tapa em Davi, que ri.
    -Me respeite!
    -Eu vou te respeitar se tu fizer o que eu tou mandando.
    -Mas isso é demais pra mim.
    -Minha querida, tu não tem escolha, não percebeu? Eu posso continuar te levando pra lá, mas tu tem que fazer o que eu quiser. Tu me prometeu.
    -Sim, eu prometi...
    -É pegar ou largar, Laurita.
    -Tá certo. Mas tu tem que me prometer que vai me levar pra lá quando eu quiser.
    -Beleza... CORTA A CENA.

    CENA 3: Veridiana está concentrada lendo um livro quando seu pai se acorda.
    -Bom dia, filha!
    -Bom dia, pai.   
    -Então, hoje eu vou conseguir dar mais atenção a tudo o que você me relatou. Tem as gravações aí com você?
    -Tenho sim, pai... Só espera eu ligar o notebook e carregar tudo.
    Veridiana liga o notebook e rapidamente localiza os vídeos que capturou com sua câmera escondida. André assiste a tudo, espantado. Ao terminar de assistir, começa a falar.
    -Filha, estamos diante de um criminoso! Mesmo com todos esses anos de Polícia Federal, gente como esse rapaz ainda me surpreende no pior sentido...
    -E a mim então, pai? Ele usou a minha imagem para criar fatos falsos!
    -Esse garoto é um moleque. Mas um moleque muito ousado.
    -Ousado, mas burro...
    -Verdade. Ele deixou muitos furos pelo caminho, filha... Acho melhor investigarmos ele em total sigilo, para que ele não perceba o cerco se fechando.
    -Concordo. Mas o que o senhor sugere?
    -Bem, como você disse ter retornado a São Paulo, não pode aparecer logo na frente dele...
    -Eu sei... qual é a ideia?
    -Simples. Você não disse que ele se infiltrou nessa ONG que os rapazes organizaram?
    -Sim, exatamente isso.
    -Eu vou até essa ONG. Aqui em Porto Alegre ninguém sabe que pertenço à Polícia Federal.
    -Logo você estaria acima de qualquer suspeita para ele...
    -Exatamente, minha filha. Mais que isso: eu posso entrar no jogo dele, simular amizade, entendeu?
    -Como é que não pensei nisso antes?
    -Como se fosse muito diferente do que você fez com ele...
    Os dois riem.
    -Aprendi com você, pai...
    -E eu me orgulho muito disso... CORTA A CENA.

    CENA 4: Fabiano está na ONG ao lado de Pâmela e Fernanda, que estão passando as orientações para Patrícia, Nadir, o próprio Fabiano, Paulo, Fabrício e Henrique.
    -Entenderam direitinho, né? - questiona Fernanda.
    -Perfeitamente. - fala Paulo.
    -Então já estamos indo, senão nos atrasamos para trabalhar. Beijo, queridos. - fala Pâmela.
    As duas partem e todos continuam a executar suas funções. Logo Giordano e Leonardo também chegam. Paulo fica visivelmente feliz com a presença de Giordano e Nadir percebe, antes que eles se cumprimentam.
    -Paulo, eu acho que tu tá se apaixonando...
    -Que ideia, Nadir... até parece que eu ia envergonhar vocês aqui.
    -Amar não é vergonha nenhuma. Se tu tá se apaixonando, tem que viver esse amor, se permitir, ser feliz... o resto que se dane.
    -Nunca esperei ouvir isso de ti, Nadir...
    -Tou fazendo o melhor que posso para me redimir...
    Giordano cumprimenta a todos, seguido de Leonardo. Fabiano percebe que Leonardo está meio deslocado com tanta amizade à sua volta e observa a tudo sem dizer uma palavra. Alguns instantes se passam e Leonardo resolve dialogar com Fabiano.
    -Por que tão quieto, rapaz?
    -Não é da tua conta.
    -Só acho que não teve nada demais na minha pergunta...
    -Desculpe, não quis ser grosso. Amigos?
    -E por que não? Ainda podemos ser grandes amigos um dia.
    Laura observa de perto o desenrolar de tudo e comemora: "tá dando certo". CORTA A CENA.

    CENA 5: Lucas se acorda bem disposto e resolve preparar um café da manhã especial para Rômulo. Ao chegar em seu quarto, dá um leve beijo em Rômulo, que logo se acorda.
    -Ai, coisa boa ser acordado assim... que horas são?
    -Já são quase 11...
    -Nossa, essas férias estão me deixando mal-acostumado!
    -Não vai olhar pro lado? Olha o que preparei.
    Rômulo se emociona.
    -Nossa, Lucas... eu não mereço tudo isso...
    -Como que não merece? Tu tem todo o cuidado do mundo comigo, se preocupa comigo, tá entrando na mesma dieta que eu para não me deixar me sentindo um doente... e ainda acha que  não merece? Vou te contar, viu?
    -Mas eu já errei tanto no passado, feri tanta gente...
    -Tu mesmo disse o que importa: foi no passado. Nada do teu passado realmente me interessa. Me interessa quem tu é agora, o Rômulo que eu conheci nunca fez mal a ninguém e nem faria.
    Os dois se beijam apaixonadamente.
    -Bem, aproveita o café da manhã que daqui a pouco já estamos indo para a ONG. Parados que não vamos ficar.
    -Lucas, que coisa boa você estar assim, bem disposto... Acho que essa dieta especial tá mesmo fazendo efeito.
    -Claro que sim! Daqui alguns meses nem vamos lembrar que eu tive anemia...
    -Assim espero...   
    Rômulo fica distante e em sua mente os pensamentos se mostram: "mas o médico disse que pode ser leucemia... se bem que se fosse, o Lucas não teria essa melhora tão rápida em tão pouco tempo... acho que nem devo me preocupar..." CORTA A CENA.

    CENA 6: No início da tarde, todos estão na ONG, inclusive Lucas e Rômulo, que estão bastante concentrados nas estratégias de ação dos próximos meses. De repente, Rômulo se distrai por um momento e percebe Fabiano numa avançada conversa com Leonardo.
    -Lucas, você não acha estranho aquele cara estar conversando com o primo do Flávio?
    -Nada demais, amor... Normal que o Fabiano esteja tentando socializar mais agora... tem pouco tempo que ele veio para a ONG.
    -É, mas nunca confiei nesse Leonardo. Nem gosto de falar o nome desse cara...
    -Fala mais baixo, Rômulo! Quer que eles percebam que estamos falando deles?
    -Tudo bem.
    -Mas por que tu acha disso?
    -Sei que não interessa a você saber, mas eu já joguei sujo. Conheço gente mal intencionada só de bater o olho. Esse cara não é de confiança...
    -E tu acha que ele pode influenciar o Fabiano?
    -Acho... O Fabiano é muito jovem, sem experiência, pode ser manipulado.
    -Vamos pensar que eles só estão ficando amigos, é melhor... CORTA A CENA.

    CENA 7: A tarde passa e a noite chega. Todo o pessoal da ONG encerra suas atividades. Fernanda e Pâmela, a caminho de casa, estão conversando.
    -Amor, eu sinto que esse é realmente um bom momento para eu tentar ser mãe... Só não tive coragem de te dizer isso antes...
    -Mas agora nós somos um casal, Fernanda. Será que tu não pode pensar nem um pouquinho em mim? Ou tu pensa que eu acho lindo não poder ser mãe?
    -Não tou dizendo isso, Pâmela...
    -Mas não tá levando em consideração meus sentimentos...
    -Sou eu que não tou levando em consideração teus sentimentos? Tem certeza disso? Eu desejo ser mãe, mas não posso pensar nisso porque a minha noiva não pode ter filhos e se sentiria ofendida se eu engravidasse? Quem tá sendo egoísta aqui, Pâmela?
    -Não tou sendo egoísta. Só preciso de um tempo pra pensar nisso tudo, digerir...
    -Sim, mas nesse meio tempo eu fico submetida às tuas restrições. Desculpa, Pâmela, mas isso me parece com egoísmo sim.
    -Não é minha intenção...
    -Mas é o que tá parecendo.
    -Não quero que briguemos. Eu te amo tanto...
    -Eu também te amo, sua boba insegura... Pensando melhor, talvez precisemos mesmo ponderar antes de eu tomar a decisão.
    -Promete que vai ter paciência comigo?
    -Preciso mesmo prometer isso a ti?
    As duas se abraçam. CORTA A CENA.

    CENA 8: André está pensando em novas estratégias de ação e Veridiana percebe a concentração de seu pai.
    -Pensando em como vai agir, pai?
    -Também, minha filha... Mas precisamos saber exatamente onde a mãe desse rapaz mora.
    -Por que?
    -Morri de pena dessa mulher. Acho que vai ser preciso prepará-la para tudo, afinal de contas não deve ser fácil descobrir que o próprio filho é um criminoso...
    -Engraçado, pai... desde que você entrou para a Polícia Federal, é a primeira vez que vejo você se envolver emocionalmente em um caso.
    -É diferente esse caso, Veri... uma mãe é enganada pelo próprio filho. Isso deve ser muito terrível para ela. Não posso me manter impassível diante disso.
    -Eu sei que é um caso diferente, pai... mas em toda a sua carreira já teve outros casos igualmente diferentes...
    -Não sei exatamente o que acontece, filha... Mas sinto que essa mulher não pode ficar sozinha.
    -Bem, de fato o filho dela é um monstro.
    -É isso que me preocupa.
    -Mas isso não é sua responsabilidade, pai.
    -Pode até ser que não seja. Mas não posso me manter calado diante de algo assim. Essa mulher precisa se preparar para o que vai acontecer.
    -E qual a sua ideia?
    -Preciso dar um jeito de instalar uma escuta no telefone do quarto daquele rapaz. Mas precisa ser de uma forma que ele sequer note que tem uma escuta ali.
    -Não deve ser difícil isso para você, pai. Afinal de contas, tudo o que aprendi sobre instalação de câmera escondida e todo o restante foi com você.
    -Não é isso que me preocupa. Você é uma mulher bonita e tem isso a seu favor.
    -Mas olha, pai... pelo que conheci do Leonardo, basta inflar o ego dele...
    -Tomara que seja fácil desse jeito, porque senão teremos um problema... CORTA A CENA.

    CENA 9: Fabiano está em seu quarto, relembrando detalhes da conversa que teve horas antes com Leonardo. Inicia-se um rápido flashback.
    -Foi assim, Leonardo... mesmo sem querer eu me vi apaixonado pelo Miguel, por ele ser esse homem maravilhoso... mas sei que não posso continuar gostando dele, devo consideração ao meu primo...
    -Mas Fabiano, tu acredita mesmo que o Flávio é essa bondade toda? Não existe gente cem por cento boazinha como o Flávio tenta ser.
    -Isso é verdade. Mas o que tu me sugere?
    -Não parece óbvio? Tu tem que lutar pelo que é teu.
    -Mas o Miguel não é meu.
    -Ainda...
    -Mas pode ser... tu tem razão! Mas qual o teu interesse nisso?
    -Simples. Eu não vou com a cara do Miguel porque ele sempre implicou comigo e eu percebi isso...
    -Não me parece o suficiente.
    -É que eu quero o Flávio pra mim. Sendo assim, eu tenho interesse em ver os dois separados.
    -Tou entendendo. Temos algo em comum então... Acho que podemos ser bons parceiros...
FIM DO CAPÍTULO 38.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CAPÍTULO 37


    CENA 1: Veridiana permanece enfurecida com o comportamento de Leonardo, que consegue observar através da câmera escondida que instalou em seu quarto sem que ele percebesse.
    -Como é que esse monstro, além de enganar a todos inventando uma vida afetiva e familiar que não existe, ainda é capaz de tratar a mãe com tamanho desamor? Esse maluco deve ser um psicopata, ou qualquer coisa desse tipo!
    Verdiana permanece muito indignada ao observar Leonardo se arrumar. Leonardo continua praguejando contra sua mãe no quarto.
    -O que essa velha das grotas quer agora? Já mando  dinheiro que é pra ela ficar bem calada naquela cidadezinha provinciana, o que mais ela quer?
    Leonardo demonstra descontrole, mas logo respira fundo.
    -Nada de perder o controle agora. Ainda tenho que acabar com aquela maldita ONG daquelas bichas sujas. E acabar com o Miguel, aquele desgraçado intrometido.
    Veridiana se choca com o que ouve Leonardo dizer. Permanece atenta.
    -Aquela bicha metida a defensora dos fracos e oprimidos não tinha nada que se meter no meu caminho. Eu acabo com aquele casamento de merda dele, ah se acabo! Ou não me chamo Leonardo!
    Veridiana se enoja e resolve desligar o computador, enfurecida com Leonardo. Resolve ligar para seu pai.
    -Pai, tudo bem com o senhor? Tem como o senhor vir para Porto Alegre ainda hoje? Eu sei que o senhor deveria vir pra cá somente na quarta-feira, mas eu tenho algumas provas que interessam muito ao senhor e aos seus colegas. (...) Pode ser? (...) Depois das 20 horas? Perfeito, vou te esperar aqui.
    Veridiana se alivia ao saber que seu pai está a caminho no mesmo dia.
    -Agora eu quero ver até onde esse filho da puta vai, com a Polícia Federal na cola dele. Ah, Leonardo... a sua hora tá chegando, pode estar certo disso! Se acha tão esperto, tão inteligente, mas deixa tanto furo pelo caminho que eu só posso concluir que é um burro metido a inteligente... Se prepara, Leonardo Alves Carvalho: a justiça vai te pegar e eu ainda vou meter um processo em você! CORTA A CENA.

    CENA 2: Algumas horas se passam e Rômulo já está com Lucas no apartamento dele, desfazendo as malas dos dois. Os dois fazem um lanche reforçado, preparado por Rômulo especialmente para Lucas.
    -Todo esse cuidado comigo vai acabar me deixando uma bola de gordo! - brinca Lucas.
    -Mesmo que você engordasse quarenta quilos, ainda ia ser o cara mais lindo que eu conheci!
    Lucas se derrete com os cuidados de Rômulo.
    -E você viu? Consegui disfarçar tão bem a beterraba nesse prato que você nem reclamou do sabor.
    -É verdade, Rômulo... sem falar que a sua ideia de colocar margarina deixou o sabor maravilhoso! Só tu mesmo, para saber até do que eu gosto...
    -Não é querendo me gabar, mas você tem alguma dúvida de que eu faria isso e muito mais para te ver bem? Adoro o seu sorriso, ilumina a minha vida...
    -Ai, que clichê. Deu pra ser poeta de botequim, agora?
    Os dois se divertem.
    -Rô, tu não precisa comer as mesmas coisas que eu...
    -Faço questão, Lucas. Assim você se sente mais confortável...
    -Que homem bem prendado que eu fui arranjar, hein? Olha que assim eu caso...
    -E já não estamos casados?
    -Bobo... tou falando de união civil.
    -Você quer dizer que...
    -Desde maio a união civil é reconhecida... Rômulo, quer casar comigo?
    -É tudo o que mais quero! - vibra Rômulo, beijando Lucas. CORTA A CENA.

    CENA 3: A tarde passa e a noite começa a se anunciar. Fernanda e Pâmela resolvem passar no centro espírita de Breno e Otília, para mais recomendações de leitura. Durante a conversa, Fernanda percebe que sua avó está com uma expressão preocupada.
    -Vó, tou te sentindo preocupada...
    -E eu tou, Nandinha...
    -Por que?
    -Sinto que Miguel e Flávio ainda vão passar por grandes provações, só não sei como fazer para minimizar o sofrimento dos dois.
    -Tu não acredita na força deles? Porque eu acredito...
    -É, dona Otília... o Miguel e o Flávio juntos vencem qualquer desafio... - fala Pâmela.
    -Expliquem melhor isso para essa mãezona de todos... - brinca Breno.
    -Eu sei, queridos... obrigado por me tranquilizarem, mas...
    -Mas o que, vó?
    -Às vezes me ocorre que a Laura, mesmo desencarnada, pode estar disposta a atingir os dois a qualquer custo.
    -Mas gente, se tiver de ser assim, não tem muito o que se preocupar, eles podem e devem sair mais fortes disso, não? - conclui Breno.
    -Pode sim, meu velho... Mas mesmo assim, nunca é bom ver coisas ruins acontecerem.
    -Mas precisamos ser otimistas com essas coisas, vó... Tirar uma lição positiva das coisas...
    -A Nanda tem razão, dona Otília... - pondera Pâmela.
    -Bem, melhor mudarmos de assunto. Tava olhando bem pra vocês agora e sinto a chegada de duas crianças na vida de vocês para breve...
    -Ah, vó... acho que não. Será que a senhora não confundiu? Tem o Murilinho e a Francisca lá em casa...
    -Não, Nandinha... Duas novas crianças, é isso que sinto.
    Pâmela mostra uma expressão triste.
    -Por que essa cara, Pâmela? - questiona Breno.
    -Eu não posso ser mãe... CORTA A CENA.

    CENA 4: Minutos depois, Fernanda e Pâmela estão chegando à ONG. Fernanda percebe que Pâmela não quer falar, mas mesmo assim insiste.
    -Pâ... como assim tu não pode ter filhos?
    -Eu não quero falar sobre isso. E o que foi agora? Resolveu engravidar só porque a tua avó disse que viu duas crianças no nosso caminho? Vai fazer o que, vai direto pra fertilização in vitro sem nem levar em consideração o que eu sinto com isso?
    Pâmela começa a chorar. Fernanda a abraça.
    -Não fica assim, meu amor... Se tu não pode ser mãe, eu posso ser.
    -Mas eu sempre quis ter uma criança minha, será que tu não vê?
    -Será que fertilizando não rola?
    -Qual parte de "eu não posso ter filhos" tu não entendeu?
    -Também não precisa ser grossa...
    -Desculpa, querida. Mas é que eu sou estéril e isso me doi muito... Se pudéssemos engravidar ao mesmo tempo pela fertilização, seria um sonho que eu realizaria...
    -Mas não adianta chorar sobre o leite derramado. O fato é que eu posso ser mãe, sou fértil...
    -Vai jogar muito isso na minha cara?
    -Pâmela, eu não quero brigar contigo...
    -Não estamos brigando.
    -E se eu quiser engravidar, como vai ser?
    -Tu não quer engravidar.
    -Quem disse isso?
    -Ah, corta essa! Só porque a tua avó disse palavras genéricas tu já fica se sugestionando e acreditando que quer engravidar pra ontem?
    -Tu tá sendo injusta e dura comigo... Fala como se não soubesse de toda a espiritualidade que permeia nossas vidas...
    -Eu sei. Me desculpa, amor... Em casa conversamos melhor. CORTA A CENA.

    CENA 5: Alguns minutos se passam e na ONG estão presentes Flávio, Miguel, Clara, Fernanda, Pâmela, Giordano, Leonardo, Paulo, Nadir, Patrícia, Henrique, Fabrício e Fabiano. Todos estão envolvidos em suas funções, quando de repente a campainha toca.
    -Vocês estão esperando alguém? - pergunta Nadir.
    -Não que eu lembre, Nadir... - fala Miguel.
    -Eu vou abrir, gente... - fala Flávio.
    Flávio vai até a porta de entrada e surpreende-se ao ver Rômulo e Lucas.
    -Não vai dar um abraço na gente? - empolga-se Rômulo.
    -Queridos! - fala Flávio abraçando Lucas e Rômulo.
    -Estamos atrapalhando alguma coisa na ONG? - questiona Lucas.
    -De jeito nenhum! Mas... vocês não deveriam estar no Rio de Janeiro, ainda?
    -Deveríamos, mas tivemos de voltar antes da hora... - fala Rômulo.
    -Por que?
    -Vamos explicar, mas antes queremos matar as saudades de todos! - fala Lucas.
    Flávio entra com Rômulo e Lucas na sala de reuniões e pautas, surpreendendo a todos. Miguel abraça Rômulo.
    -Meu amigo, que saudade! Mas por que vieram antes da hora?
    -Então, gente... O Lucas não passou nada bem em Angra dos Reis...
    Fernanda fica preocupada.
    -O que houve, Luquinhas?
    -Desmaiei e fiquei muito fraco...
    -Por que? - questiona Clara, visivelmente preocupada.
    -Eu não sabia, mas tenho uma anemia profunda. Por recomendação do médico, devo reforçar a minha alimentação, aquela coisa chata toda...
    -Tem que se cuidar, Lucas... com essas coisas não se brinca... - preocupa-se Flávio.
    -Também não vão ficar me olhando com essa cara de preocupação, né? Eu vou ficar bem, gente... Foi só um susto. Voltamos antes da hora pra eu me cuidar na minha terra...
    -Assim que eu gosto de ver! - anima-se Rômulo.
    Fernanda tem um mau pressentimento. Pâmela percebe.
    -O que foi, Nanda?
    -Nada... só fiquei um pouco preocupada.
    Todos abraçam Lucas e Rômulo. CORTA A CENA.

    CENA 6: A noite avança e Miguel, Flávio, Fernanda, Pâmela e Fabiano já estão em casa. Miguel e Flávio colocam Murilo e Francisca para dormir e Miguel vai à cozinha preparar um lanche para ele e Flávio, quando é surpreendido mais uma vez por Fabiano na cozinha.
    -Sempre pela cozinha, né Fabiano? - descontrai Miguel.
    -Eu tava matutando sobre aquele assunto que vocês não me explicaram direito...
    -Fabiano, acho que não tem absolutamente nada que te interesse saber sobre aquilo.
    -Mas vocês estão investigando alguém, não ouvi direito o nome, mas sei que pode ter estelionato no meio.
    -E já basta saber isso. Não é bom a gente falar sobre isso. Não agora.
    -Tudo bem, não era isso mesmo que eu queria falar contigo, Miguel...
    -E tu tem algo a me dizer?
    -Tenho. Na verdade eu tou morrendo de vergonha e culpa, mas se eu não te disser o que eu tou sentindo, vou estar sendo mais desonesto do que já tenho sido contigo e com o Flávio.
    -Comigo e com o Flávio? Como assim?
    -Miguel, eu tou apaixonado por ti. Eu sei que não devia, mas...
    Miguel fica chocado.
    -Não é possível. Como tu pode ter certeza?
    -Sei que não devia, mas tua forma amorosa de tratar as pessoas, teu tipo físico... tudo em ti fez eu me encantar por ti... acabei me apaixonando. Mas não vou lutar por ti. Eu te amo, mas o Flávio não merece uma coisa dessas... eu tenho muita estima por vocês...
    -Eu nem sei o que dizer direito, mas... é bom que tu pense assim, por um lado.
    -Só me promete que não vai contar nada pro Flávio... eu não quero perder a amizade do meu primo...
    -Tudo bem... CORTA  A CENA.

    CENA 7: Flávio percebe a expressão lívida de Miguel enquanto eles lancham.
    -O que aconteceu, amor?
    -Nada, querido... Acho que devo estar cansado.
    -Sei... acho que tu tá preocupado com as investigações, não é isso?
    -Também...
    -Como assim também?
    Miguel pensa num argumento para despistar.
    -É por causa do Giordano. Sei que ele ainda acredita na amizade do Leonardo e me sinto mal em termos de esconder dele nossas investigações...
    -Mas é necessário. Sabemos que ele não sabe guardar as coisas e nem é por mal da parte dele...
    Miguel respira aliviado por Flávio ter acreditado em seu argumento. CORTA A CENA.

    CENA 8: No Plano Espiritual, André Luiz e Joana de Angelis conversam com Edilene e Olívia.
    -Já estamos tratando do reencarne de vocês. A semente está praticamente plantada... - revela André Luiz.
    -Como? - questiona Edilene.
    -Através da avó da mãe de vocês, que veio anunciar a boa nova. Agora é questão de tempo até a futura mãe terrena de vocês tomar a decisão de engravidar. Não vai ser uma estrada tão longa, nem algo muito difícil. Basta que vocês se mantenham confiantes e certas de que desejam essa reencarnação.
    -Desejamos muito, Joana! Só por saber que vamos poder ficar perto do Murilo de novo já temos toda a vontade de voltar à vida encarnada... - fala Olívia.
    -De fato o amor une a vocês todos. Acima de tudo, vocês vão reencarnar por merecimento, não pelo pedido que fizeram... - esclarece André.
    -Mas fomos seres humanos falhos em nossa última encarnação... - reflete Edilene.   
    -Todo espírito, ao encarnar, tem resgates, desafios a cumprir. Às vezes, quando encarnados, erramos querendo acertar... - fala Joana.
    -Tudo isso é muito bonito, mas eu paguei com minha própria vida anterior pela exigência de ser ressarcida pelos males que Laura causou a mim e à minha família. - reflete Olívia.
    -Era o que você podia fazer naquele momento e o seu desencarne aconteceria de qualquer maneira naquele dia... - esclarece André.
    -Portanto, queridas, se preparem que o reencarne de vocês é para breve... - finaliza Joana. CORTA A CENA.

    CENA 9: O dia amanhece. No quarto de hóspedes da casa de Sônia, aparece Fabiano, que está deitado na cama, sem dormir. Chorando, ele começa a falar consigo mesmo.
    -Por que vocês me deixaram tão cedo? Sinto falta de vocês...
    Fabiano sente profundamente a falta de seus pais.
    -Como é que posso ser feliz agora? Eu sou sozinho. O único homem que amo já tem um amor e ele é meu primo...
    Fabiano se desespera.
    -Por que viver assim? Não podia ser tudo mais simples? Eu só queria ser feliz... Mas parece que a felicidade esqueceu de mim.   
    Fabiano senta-se na cama, ainda chorando muito.
    -Ele nunca vai gostar de mim, ele ama o Flávio. Eu sou só um intruso nessa casa, na vida de todo mundo, sou um miserável.
    Fabiano não vê, mas uma presença sombria se aproxima dele. É Laura, manipulando o seu ponto fraco: o recém-descoberto amor impossível por Miguel. Fabiano, de súbito, cessa o choro e muda sua expressão.
    -Pois eu tenho que dar um jeito. Eu tenho que ser como o Flávio é... Todo mundo gosta dele, todo mundo também tem que gostar de mim. Pensando bem, eu posso ser o Flávio.
    Fabiano começa a maquinar um plano.
    -Eu vou tomar o lugar do Flávio na vida deles! FIM DO CAPÍTULO 37.