CENA 1: Miguel segue a delirar.
-Ei, não fica assim, eu vou te proteger
daqueles imbecis...
Leonardo começa a ficar com medo.
-Pelo amor de Deus, cara! Não me
inventa de morrer agora! Preciso de ti vivo ainda! Não me apronta uma falseta
dessas!
Leonardo olha ao seu redor e vê um copo
de água perto da cama que ele improvisou para si mesmo. Sem saber exatamente o
que fazer, Leonardo joga a água no rosto de Miguel, que volta a si.
-Cara, eu não tou legal. Pelo amor de
Deus, me tira daqui!
-Calma, Miguel. Não vou te deixar
morrer. Não agora.
-Se tu não me tirar daqui, eu vou
morrer! Eu tou ficando fraco!
-Olha aqui, só porque tu ficou mal eu
vou te desamarrar. Mas segura aí que eu vou trancar aquele portão velho, ai de
ti se tentar escapar, te meto bala, tá me entendendo?
-E tu acha que eu ia me arriscar a
discutir com doido?
-Pra quem tava delirando até agorinha,
tu tá me saindo muito respondão. Fica na tua aí que eu vou olhar o maldito
portão e já te desamarro.
Leonardo tranca o portão do galpão e se
certifica de que não há mais nenhuma saída possível para Miguel.
-Tá limpo.
Leonardo desamarra Miguel.
-Pronto. Conseguiu o queria. Agora
trata de comer direito que eu não quero saber de ninguém mais passando mal
aqui, tá me ouvindo?
-Pra quem me odeia, até que tu tá sendo
bem cuidadoso comigo.
-Não te ilude, inocente. Só tou fazendo
isso por ti porque tu é moeda de troca, se esqueceu?
-Não. Mas já que tou valendo tudo isso,
me vê um anti térmico aí?
-Tu é mesmo um folgado, viu Miguel? Tá
achando que isso aqui é o que? Hotel cinco estrelas com serviço de quarto?
Hospital particular? Eu, hein... CORTA A CENA.
CENA 2: A noite passa e o dia amanhece.
Sônia é surpreendida pela campainha tocando ainda cedo, a despertando de seu
sono. Quando ela desce, porém, Flávio já abriu a porta e recebeu Matheus,
Fabiano, Helena e Clara.
-Bom dia! Pra que vocês levantaram tão
cedo pra vir aqui? - espanta-se Sônia.
-Viemos prestar nossa solidariedade,
nosso apoio, nosso ombro amigo, enfim... o que a gente puder oferecer, por
pouco que seja... - fala Matheus. Flávio se sensibiliza e o abraça. Fabiano,
Helena e Clara também abraçam Flávio.
Todos sentam-se no sofá da sala. Helena
começa a falar.
-Bem... eu sei que a situação é difícil
pra todos nós, especialmente pra vocês, então nem me atrevo a perguntar como
vocês estão porque isso seria de uma indelicadeza terrível...
Matheus nota que Flávio está muito
abatido.
-Flávio, tu tem dormido nesses dias?
-Não, Matheus... se dormi meia hora na
casa do André, foi até muito. Não consigo e quando sinto que o sono vai me
vencer, não me permito dormir... sabe, não consigo e nem quero sair desse
estado de alerta, porque sei que a qualquer hora pode aparecer alguma novidade,
pintar alguma notícia do Miguel e do Murilo...
-Tu tá louco, cara? Isso é perigoso pra
tua saúde, tu pode acabar tendo um AVC!
-É um risco que assumo e corro. Mas não
posso descansar...
Sônia levanta-se.
-Queridos, vocês querem um suco, uma
bebida, um café?
-Eu aceito um suco! - fala Clara.
-Vá lá... eu também... - fala Flávio.
-Também quero. Se tu quiser eu vou
contigo pra tu não ter que ficar ir e voltando da cozinha... - fala Matheus,
que acompanha Sônia até a cozinha.
-Sônia, tu tem algum calmante leve aí?
Daqueles conta-gotas?
-Tenho sim, por que?
-No estado que o Flávio tá, ele pode
acabar tendo um colapso. Não é questão de querer, ele precisa descansar!
-Eu já disse isso a ele, mas quem disse
que ele me ouve?
-Eu vou precisar que tu me alcance o
calmante que eu vou pingar trinta gotas no copo dele. Tu não sabe de nada,
combinado?
Os dois voltam com os sucos. Sônia
entrega o copo de Clara e fica com o seu, Matheus entrega o copo para Flávio e
o observa tomar. Helena entende o gesto de Matheus. Instantes depois, Flávio
reclama.
-Puta que pariu, que sono desgraçado!
Mãe, me vê outro café?
Sônia vai até a cozinha e deixa a água
a esquentar, fingindo preparar um café. Pouco tempo depois, Flávio adormece no
sofá.
-Deu certo, gente. Agora é subir com
ele... - fala Matheus. CORTA A CENA.
CENA 3: Horas depois, Miguel termina de
alimentar Murilo enquanto Leonardo faz um lanche.
-Tava pensando umas coisas aqui,
Leonardo... sem ofensa, sem briga...
-Ahm... fala aí o que tu tava pensando.
-O que te faz ter tanto ódio de mim?
Sério, não consigo entender, porque nunca te fiz nada!
-Esse é justamente o problema, Miguel.
Tu nunca me fez nada, tu é bom demais, virtuoso demais, doado demais, amoroso
demais... e conquistou o Flávio. Na real eu nem te odeio de verdade.
-Se não me odeia de verdade, por que tá
fazendo tudo isso?
-Tu é burro? Já expliquei que eu amo o
Flávio. Se tem alguma coisa que me faz te odiar, é o fato de tu ser o dono do
amor do Flávio, entendeu?
-Nossa... cara, de boa, tu não acha que
podemos resolver isso na conversa? Sem polícia, sem nada, sacou?
-Saquei. Vou te mentir se disser que já
não pensei nisso. Mas agora que comecei eu não posso parar. Se não fosse a tua
existência, o Flávio ia ser meu. O mundo ia estar ao meu favor se tu não
tivesse nascido, sacou? Por isso que eu vou te matar se o Flávio não me
quiser...
-E tu fala tudo isso nessa calma, nessa
frieza...
-E tem outro jeito? Nunca tive nada do
que realmente quis nessa vida. A vida me fez duro.
-Sabe, cara... ainda pode ter tempo de
tu se melhorar...
-Ih, não vem com esse papo chato de bom
samaritano pra cima de mim. Tu quer que eu te deixe amarrado até tu passar mal
de novo? Aposto que não... então fica quieto aí e para de me fazer perguntas...
CORTA A CENA.
CENA 4: No início da noite, Flávio
desperta em seu quarto e desce logo depois as escadas para chegar à sala, onde
encontra Sônia, Helena, Clara, Matheus e Fabiano.
-Gente, que horas são?
-Sete da noite, filho... - fala Sônia.
-Nossa, dormi tudo isso? Nunca dormi
tanto na vida...
-Na realidade, eu te dei uma ajudinha.
Tu tava numa agitação e numa fadiga perigosíssimos por causa do estresse... então
eu coloquei calmante no teu suco, pra tu poder descansar sem discutir com a
gente... - fala Matheus.
-Eu devia ficar bravo contigo e com
vocês que concordaram com isso, mas bem no fim foi até bom porque agora eu tou
com a cabeça descansada e posso voltar lá no André pra saber a quantas tudo
anda...
-Negativo, primo. Tá louco? Tu passou
dias sem pregar o olho! Aposto que não tá completamente descansado ainda. E
depois, tu não tem nada pra cuidar na rua porque a Nadir e o Henrique ficaram
responsáveis pelo La Fiesta, esqueceu? - fala Fabiano.
-Já vi que não tenho opção. Mas amanhã
eu vou no André saber de novidades, vocês nem ousem discutir comigo!
-Então a gente vai contigo, Flavinho. A
gente já vai dormir por aqui hoje e depois, o mínimo que a gente pode fazer por
ti é não te desamparar se tivermos tempo pra ficar por perto... - fala Clara.
-Negociação aceita... - fala Flávio.
-A gente tá indo jantar, filho. Não
quer vir comer com a gente?
-Desculpa, mãe... tou sem fome. CORTA A
CENA.
CENA 5: A noite passa e o dia amanhece.
Bernardo e Daniela estão aflitíssimos com o sequestro de Miguel, mas procuram
se manter firmes diante de Valdir e Sandra. Sandra não para de chorar.
Antonella assiste a tudo sem saber o que dizer.
-Mãe, não fica assim!
-Quer que eu fique como? Teu irmão tá
desaparecido, sequestrado! Como é que tu espera que eu fique?
-Mãe... tá doendo em todos nós da mesma
maneira, mas a gente reagir com desespero e irritação diante dessa nossa
impotência não vai resolver absolutamente nada! Poxa! É bem capaz de o Miguel,
sendo espírita, estar mais calmo que nós... É claro que a gente se preocupa,
que a gente sofre... mas se a gente permitir que isso nos consuma, nós vamos
ficar aqui prostrados...
-Tem razão, meu filho. Viu, Sandra?
Presta bem atenção no que o Bernardo disse... ele só quer que a gente aguente
essa barra firme... e tu vai ver como vamos passar por tudo isso juntos e no
fim, tudo vai ficar bem. - fala Valdir.
-Que Deus nos ouça e diga amém! - fala
Bernardo. CORTA A CENA.
CENA 6: O dia passa, a noite cai e o
novo dia amanhece. Flávio acorda-se sentindo algo diferente no ar. Ao descer e
rumar para a cozinha para tomar seu café da manhã, encontra sua mãe orando.
-Ah, mãe... rezando a essa hora?
-Desde quando oração tem hora certa,
Flávio?
-Não, não acho que tenha. Só estranhei,
mesmo. Mas até agradeço, porque hoje me acordei sentindo que tem algo diferente
no ar... uma esperança, entende?
-Que bom, meu filho! Afinal, é a
esperança que move nossas vidas!
-Sonhei com o pai, acho que isso me fez
bem...
-Como foi o sonho?
-Não lembro muitos detalhes, mas lembro
do pai me dizendo que eu não devia me preocupar, que em breve tudo ficaria bem.
Não sei, mas senti confiança... sei que foi só um sonho, mas mesmo assim eu
senti uma chama de esperança acender dentro de mim...
-Tomara que essa esperança nos sirva de
algo... CORTA A CENA.
CENA 7: Horas depois, o telefone de
Giordano toca e ele atende. É Leonardo.
-Alô.
-E aí, bicha velha! Já tá sabendo de
tudo o que eu andei fazendo?
Giordano faz sinal para Paulo ligar
para André. Paulo disca para André, que atende.
-André, o Leonardo acabou de ligar.
-Ótimo. Mantenham ele na linha, já
iniciamos o rastreamento!
Paulo desliga e sinaliza para Giordano.
Leonardo espera pela resposta de Giordano.
-Além de bicha velha tá bicha gagá
agora? Me responde!
-Tou sabendo sim, Leonardo. Lamentável
tudo isso, lamentável!
-Quantas vezes tu vai repetir a palavra
"lamentável". Trancou o disco, é?
-Deixe de graça. Tu não tem mais o que
fazer dessa vida? Porra, sequestrar um homem e uma criança!
-A criança que tu ajudou o Miguel a
registrar fora da lei, ou pensa que me esqueci disso?
-Tu pode provar o que tu diz, seu
doente? Acho que não, né... E tem mais... quer mesmo que eu diga o que eu acho
de ti?
-Vai em frente. Tou louco pra saber o
que uma bicha velha e gorda acha de mim...
-Tu pediu, hein? Bem, pra começo de
história, tu foi um imbecil de inventar aquela história toda de ter pais
influentes. Tudo isso era carência, é? Por muito tempo eu relevei tuas
contradições porque pensei que pelo menos bem intencionado tu era. Mas pra mim
já tava demais engolir tuas mentiras... não pensa que eu engoli quando tu disse
que tinha uma irmã lésbica depois de ANOS de "amizade" comigo. Até
então teus pais só tinham muita grana, mas tu não tinha me falado de irmã
nenhuma. Depois, teus pais passaram de pessoas ricas a um casal de policiais.
Tu acha MESMO que eu ia cair nessa história? Do nada tu virou filho de
policiais, sendo que teve uma outra contradição que talvez tu nem te lembre: as
fotos dos teus supostos pais. Numa, tua "mãe" tinha a minha estatura,
noutra, era baixinha como a Nadir! Isso sem falar no absurdo que tu causou na
vida da filha do André. Aliás, só foi por ter mexido com as pessoas erradas que
tu foi pego. Tu se acha todo inteligente, né? Todo genial e o caralho a
quatro... mas tu é burro! Sabe por que? A tua vaidade te trai...
-Nossa, Giordano... quanta mágoa nesse
coraçãozinho! Aceitando tu isso ou não, o fato é que eu tive peito de enganar vocês
todos e se tu aceitou calado minhas mentiras, foi porque tu quis ser enganado.
Aprende uma coisa, bicha dinossaura: a maioria das pessoas PEDE pra ser
enganada! E tu pediu! E quer saber do que mais? Eu já escapei das outras vezes,
vou escapar dessa vez também. E é bom tu te cuidar... qualquer manhã dessas,
tua boca pode amanhecer cheia de formiga, já pensou que doce essa cena?
-Tu é louco, Leonardo...
-Louco o suficiente pra entrar na
cabeça de todos vocês!
Paulo recebe a mensagem no celular de
André.
"Pegamos
o local! Valeu!"
Paulo sinaliza para Giordano.
-Se tu fizer qualquer coisa com o
Miguel ou com o Murilo, Leonardo, sou eu mesmo que vou acabar contigo.
-Conta outra, Giordano! Não falta muito
pro reumatismo te pegar!
-Já chega, não quero mais te ouvir!
Giordano desliga o telefone. Paulo
comemora com ele o sucesso do rastreamento.
-Tá perto de acabar esse pesadelo! -
vibra Giordano. CORTA A CENA.
CENA 8: André liga para Flávio.
-Fala, André. Alguma novidade?
-Tenho que te parabenizar. Você estava
absolutamente certo quando disse que o Leonardo ia acabar ligando pro Giordano.
-E aí? Pegaram o local de onde ele
fala?
-Sim. É do Cais do Porto.
-Como é que é?
Flávio fica perplexo. FIM DO CAPÍTULO
102.
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